
Em um trabalho recente bastante elucidativo,
A linguagem harmônica da Bossa Nova, José Estevam GAVA realizou comparações entre harmonizações tradicionais para canções da década de 1930 (que denominou de “velha guarda”) e composições com harmonizações bossanovistas. Sua principal constatação conduz a uma ponderação a respeito de seu caráter inovador:
“(...) os novos procedimentos empregados são praticamente todos montados sobre a estrutura das mesmas funções tonais que têm servido de apoio às nossas composições populares de forma geral” (GAVA, 2002: 240). O que ocorre, segundo o autor, é que o uso de notas estranhas à tríade básica do acorde deixa de ter uso ocasional e ornamental e passa a fazer parte do plano estrutural da harmonia. Resumidamente, o novo tratamento para o acompanhamento violonístico permitiu a articulação voz-violão num arranjo a quatro vozes e a criação de uma ambientação vaga e inusitada através do uso dos acordes dissonantes que evitam um encadeamento previsível (GAVA, 2002: 239). Assim, a principal inovação harmônica foi uma sensação de indefinição resultante das
“(...) longas seqüências de acordes alterados que enfraquecem as idéias de direcionalidade e causalidade tonais.” (GAVA, 2002: 240). Além de muito instigante, a discussão do livro é sustentada por uma pesquisa discográfica e bibliográfica consistente, e tem o mérito extra de, sem abrir mão da consitência teórica e técnica, ser apresentada de modo acessível a quem não tem formação musical acadêmica. Ótima leitura.
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