Um dos assuntos mais fascinantes quando se trata da canção popular é o que podemos chamar de sua gestação, o tempo que leva desde sua composição inicial, esboços, até que finalmente ganhe a forma com que vem a público. Embora isso possa se dar de diversas maneiras, aquela que se tornou mais emblemática com o estabelecimento da indústria fonográfica foi a gravação. Não confundamos aqui a composição pronta e a primeira gravação comercial, definitivamente não são a mesma coisa. Mas, provavelmente, para boa parte da música popular produzida no contexto da fonografia (concentrado portanto no século XX), será a gravação que ficará reconhecida socialmente como registro mestre de uma determinada canção.
Revela-se seu estado fetal, portanto, a quem tem acesso à gravações prévias, rascunhos, ou até mesmo depoimentos dos compositores, num vislumbre de uma espécie de ultrassom. Mas com uma diferença: já sabemos de antemão que forma a criatura irá tomar. Como pesquisador de música popular teria que escrever outro texto para falar das inúmeras possibilidades de investigação que tal acesso permite. Posso dizer que tive a oportunidade de explorá-las a fundo no artigo que publiquei na Revista Estudos Históricos sobre Penny Lane e Strawberry Fields Forever [aqui]. Como compositor, trata-se de inesgotável fonte de aprendizado e inspiração. Às vezes tudo que uma canção precisa para tomar a forma devida pode estar numa mudança de andamento, ou simplesmente no entendimento do gênero musical em que a canção deve se acomodar [e por isso provavelmente uma das formas mais corriqueiras de se fazer versões seja justamente alterando seu gênero]. Como apreciador, posso dizer que ouvir os ecos do passado de uma canção, digamos assim, pode ser particularmente emocionante.
Toda essa conversa começou quando revi o trecho do documentário Can't Stand Losing You (ficha completa), essencialmente baseado no depoimento do guitarrista Andy Summers sobre a história da banda The Police, que integrou juntamente com Stewart Copeland e Sting. Aqui Andy rememora a criação de uma das mais emblemáticas canções gravadas pelo grupo, Roxanne, que nasceu, como ele relata, como uma canção de ninar para o bebê que sua esposa esperava, esboçada por Sting ao violão na forma de uma bossa. A mudança para a batida do reggae veio, segundo Andy, do fato de que ante "a intensidade da cena punk, dar uma de brasileiros seria suicídio". Quem sabe no futuro isso venha a render um artigo, mas por agora limito-me a saborear, mais uma vez, esses chutinhos na barriga de uma canção neném pra lá de interessante.
Toda essa conversa começou quando revi o trecho do documentário Can't Stand Losing You (ficha completa), essencialmente baseado no depoimento do guitarrista Andy Summers sobre a história da banda The Police, que integrou juntamente com Stewart Copeland e Sting. Aqui Andy rememora a criação de uma das mais emblemáticas canções gravadas pelo grupo, Roxanne, que nasceu, como ele relata, como uma canção de ninar para o bebê que sua esposa esperava, esboçada por Sting ao violão na forma de uma bossa. A mudança para a batida do reggae veio, segundo Andy, do fato de que ante "a intensidade da cena punk, dar uma de brasileiros seria suicídio". Quem sabe no futuro isso venha a render um artigo, mas por agora limito-me a saborear, mais uma vez, esses chutinhos na barriga de uma canção neném pra lá de interessante.
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