Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

Projetos de Pesquisa

1. PROJETO: MUSEU CLUBE DA ESQUINA: do sonho à cidade.

APOIO: FAPEMIG e PRPq/UFMG


Criado em 2004, com auxílio da Lei Rouanet, o Museu Clube da Esquina é essencialmente, até o presente momento, um museu virtual com a missão de preservar e divulgar a produção artística e as histórias do Clube da Esquina, realizado em parceria com o Museu da Pessoa. 

Atualmente, a instalação de sua sede física está sendo viabilizada, em parceria entre a Associação de Amigos do Museu Clube da Esquina (AAMUCE) e a UFMG. A trajetória da instituição tende, assim, a apresentar uma direção peculiar propícia à realização de um estudo de caso - da construção sonhada ao espaço virtual da Internet, e deste ao espaço físico da cidade. 

Para entendê-la, é preciso pensar essa passagem de modo bem mais complexo, evitando uma concepção dualista que separa de maneira simplista o mundo “físico” e o “virtual”, o “real” e o “sonho”, o “material” e o “simbólico”. 

O projeto investigou a trajetória dessa instituição museológica contemporânea, desde sua concepção, acompanhando os desdobramentos da execução de seu projeto, da constituição de seu acervo e das formas de sua comunicação, considerando em especial as iniciativas e expectativas em torno da constituição de sua sede física, e, nesse meio tempo, intervenções feitas pelo Museu Clube da Esquina em três lugares de Belo Horizonte- o Edifício Archangelo Maletta, o Edifício Levy e a esquina entre as ruas Divinópolis e Paraisópolis no Bairro Santa Teresa, onde instalou placas comemorativas. 

Paralelamente foram pesquisados sites/blogs; flickr; youtube (canções/vídeos/comentários); perfis e páginas de facebook. A partir de um trabalho de leitura e seleção, os depoimentos foram enquadrados em diferentes categorias de análise - Localismo / Lugar; Cosmopolitismo / Desterritorialização; Memória / Experiência (coletiva e individual); Espetacularização/ Mercantilização. 

Os comentários anunciam, de maneira geral, tanto uma relação de apropriação e (re)afirmação das experiências dos sujeitos com a música e estética do Clube da Esquina quanto revelam as relações entre música e patrimônio urbano. 

Os resultados das pesquisas de campo podem ser considerados como uma sondagem das relações dos citadinos com os lugares demarcados pelo Museu Clube da Esquina. Em uma síntese das discussões, considera-se que as políticas de patrimônio interferem e remodelam a dinâmica urbana construindo novos significados e usos para os espaços públicos. 

Acompanhar a passagem que leva o museu do sonho à cidade é também a oportunidade de investigar várias problemáticas atuais nas áreas do patrimônio cultural e da memória social, e no campo museológico em particular. Enfim, oportunidade para refletir sobre as relações entre museu e sociedade no mundo contemporâneo. 

POSTAGENS RELACIONADAS


Durante a Semana do Conhecimento e Cultura da UFMG, que ocorreu entre os dias 21 a 25 deste mês, apresentei (Julianne Paranhos) os primeiros resultados das pesquisas desenvolvidas no Projeto Museu Clube da Esquina: do sonho à cidade, coordenado e orientado pelo Prof. Dr. Luiz Henrique de Assis Garcia. As pesquisas foram realizadas em diálogo entre Museologia, História e Antropologia Urbana, e buscaram perceber os laços simbólicos e de apropriação dos citadinos para com três dos lugares (ARANTES, 1994) demarcados com placas comemorativas pelo Museu Clube da Esquina* – o Edifício Archangelo Maletta, o Edifício Levy e a Esquina no Bairro de Santa Tereza... LEIA MAIS




PRODUÇÕES RELACIONADAS

Canções Feitas na Esquina do Mundo: música popular e trocas culturais na metrópole através da obra do Clube da Esquina.

Autor:  Luiz H. A.GARCIA



Resumo: A formação cultural conhecida como “Clube da Esquina”, criada em Belo Horizonte, nos anos 60 e tendo por principal articulador o compositor e cantor Milton Nascimento, caracteriza-se por um conjunto de práticas musicais e opções estéticas que utiliza fontes tão diversificadas quanto o interior de Minas, a música latino-americana e os Beatles, de forma alternativa a outras propostas contemporâneas para a Música Popular Brasileira (MPB), enfrentando os dilemas entre o “nacional” e o “estrangeiro”, o “popular” e o “erudito”, o “tradicional” e a “vanguarda” num contexto de crescimento da indústria fonográfica e internacionalização da cultura. Procuro compreender o complexo fluxo de trocas culturais envolvidas na construção de uma identidade cosmopolita que não descuidou do elemento local, nem o reduziu ao exótico ou ao típico, tomando a “esquina” como uma expressão simbólica dessa síntese.
Palavras-chave: MPB, trocas culturais, cidade, Clube da Esquina


Artigo completo: GARCIA, Luiz H. A. “Canções Feitas na Esquina do Mundo: música popular e trocas culturais na metrópole através da obra do Clube da Esquina”. In._: Revista Brasileira de Estudos da Canção. Natal, n.2, jul./dez. 2012.  LEIA MAIS

O Museu Clube da Esquina e os lugares da cidade. 

Autora: Julianne Paranhos Viana  
Orientador: Luiz Henrique Assis Garcia 

Resumo: Os museus, desde sua origem até a contemporaneidade vêm desenvolvendo o papel de mediador do homem com a realidade patrimonializada, a memória e as percepções temporais humanas. Aproximando-se a cada dia mais dos indivíduos e grupos sociais e tomando as cidades como artefato cultural, estes passaram a desenvolver ações extramuros contribuindo para a construção da cartografia imaginária do espaço urbano. O Museu Clube da Esquina, museu virtual criado em 2004 através da Lei Ruoanet e com a parceria do Museu da Pessoa, atualmente em processo de implantação de sua sede física, desenvolveu em 2005 intervenções na cidade de Belo Horizonte com a implantação de placas comemorativas que demarcam 25 lugares que foram cenários das confluências e trocas culturais entre os músicos e letristas do Clube da Esquina com outros músicos, artistas e intelectuais, durante as décadas de 60 e 70. As relações do Clube da Esquina com estes lugares da cidade estabeleceram laços na memória dos citadinos que reconhecem muitos destes espaços como significativos da trajetória do Clube como é o caso da esquina entre as ruas Divinópolis e Paraisópolis no bairro de Santa Teresa. O presente trabalho é parte da pesquisa desenvolvida no projeto “Museu Clube da Esquina: do sonho à cidade” e se debruça sobre as intervenções feitas em 3 dos 25 lugares demarcados pelo Museu- o Edifício Archangelo Maletta,o Edifício Levy e a esquina no bairro Santa Teresa - e apresenta os primeiros resultados de pesquisas bibliográficas e de campo realizadas no primeiro semestre deste ano, cujo objetivo esteve direcionado para a apreensão das relações de memória, afetivas e dos sentidos de apropriação dos citadinos para com estes lugares. A proposta intenta trazer para a comunidade acadêmica os significados dessas intervenções realizadas pelo Museu Clube da Esquina na vida cotidiana e na experiência do tempo de seus citadinos, debatendo sua efetividade para a construção da memória e preservação do patrimônio cultural.
Palavras-chave: Museu Clube da Esquina; Cidade; Memória,; Preservação; Patrimônio Cultural

Patrimônio Urbano e Música Popular: narrativas plurais na cidade e no museu

Autor: Luiz H. A. GARCIA

Resumo: Profundas transformações sociais e culturais na segunda metade do século XX afetaram as formas de pensar, preservar e difundir o patrimônio, provocando o alargamento dessa noção e a redefinição de seu sentido social. Essas mudanças podem ser percebidas, no campo da museologia, tanto nos debates e declarações resultantes de encontros internacionais quanto no surgimento de novas práticas museológicas no âmbito de instituições existentes ou tipologias alternativas que emergiram. Venho conduzindo uma investigação sobre o Museu Clube da Esquina, museu digital dedicado a preservar e divulgar a produção artística e as memórias associadas aos músicos a que seu nome remete. Sua sede física será instalada num antigo prédio integrado ao Circuito Cultural Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. O museu também articula simbolicamente num “roteiro”, através de placas e textos, certos espaços da cidade, como a Cantina do Lucas, o Edifício Levy e a própria esquina freqüentada pelos membros no bairro Sta. Teresa. Processo parecido ocorre na cidade natal dos Beatles, Liverpool, em pontos como Penny Lane, Strawberry Field ou o bar Cavern Club. Esses lugares constituem um patrimônio urbano e são apropriados de diversas maneiras. Proponho aqui investigá-las e compará-las através de relatos de citadinos ou turistas, procurando compreender como participam da construção simbólica dos lugares e de que modo interagem com a narrativa oficial. Considero que a crítica ao discurso unívoco sobre patrimônio reconheceu a existência de narrativas plurais e públicos diversos, criadores de sentidos e participantes ativos na construção desse patrimônio redefinido. Ao mesmo tempo, os museus, as práticas e as políticas de patrimônio são afetados por fluxos que conformam o espaço e o tempo, como a conversão da cultura em mercadoria, a espetacularização da memória e as requalificações urbanas. Nestas confluências pretendo refletir sobre as relações entre museu e sociedade no mundo contemporâneo.
Palavras-chave: museu - patrimônio urbano - música popular - apropriações

2. PROJETO: PATRIMÔNIO URBANO E MÚSICA POPULAR: os sentidos dos lugares.


APOIO: CNPq e PRPq/UFMG


Profundas transformações sociais e culturais na segunda metade do século XX afetaram as formas de pensar, preservar e difundir o patrimônio, provocando o alargamento dessa noção e a redefinição de seu sentido social. Essas mudanças podem ser percebidas, no campo da museologia, tanto nos debates e declarações resultantes de encontros internacionais quanto no surgimento de novas práticas museológicas no âmbito de instituições existentes ou tipologias alternativas que emergiram. 

Assim, além das tradicionais edificações e dos monumentos celebradores de figuras ou eventos consagrados pela história oficial, outros lugares passaram a ser reconhecidos como suportes de memória, passíveis de apropriações, incluindo aí formas de musealização. 

O Museu Clube da Esquina, museu digital dedicado a preservar e divulgar a produção artística e as memórias associadas aos músicos a que seu nome remete, também articula simbolicamente num roteiro, através de placas e textos, certos espaços da cidade, como Edifício Maletta, o EdifícioLevy e a própria esquina freqüentada pelos membros no bairro Sta. Teresa. 

Observa-se processo parecido em diversos lugares do mundo associados à música popular, transformados em museus ou pontos de visitação, como Graceland, última residência de Elvis Presley, o túmulo de Jim Morrison no cemitério Père Lachaise em Paris ou na cidade natal dos Beatles, Liverpool, em locais como Penny Lane, Strawberry Field ou o bar Cavern Club. Esses lugares constituem um patrimônio urbano e são apropriados de diversas maneiras. 

O foco da investigação concentra-se na perspectivas de residentes e visitantes das cidades abordadas, o que demanda a adoção de diferentes estratégias para a pesquisa empírica, que combina fontes visuais e relatos escritos, reunidos através de um trabalho de campo realizado em Belo Horizonte e de navegação por sítios eletrônicos e redes sociais relacionados aos lugares abordados. Para este fim foi criada uma página no Facebook denominada Pesquisa experimental: patrimônio urbano e música popular [link], que funciona simultaneamente como arquivo digital, fórum de discussão, meio de contato e diário eletrônico de pesquisa. 

O material recolhido via internet e experiências em campo permitiram constatar algumas recorrências e diferenças presentes nos discursos de apreciadores de Beatles e Clube da Esquina, resultando na eleição de algumas categorias que exemplificam os sentidos atribuídos a esses lugares nas cidades de Liverpool e Belo Horizonte.  

Desde relatos de citadinos ou turistas, dos registros que fazem dos lugares e das marcas de sua apropriação dos mesmos, procuramos compreender como participam de sua construção simbólica e de que modo interagem com a narrativa oficial. 

Consideramos que a crítica ao discurso unívoco sobre patrimônio reconheceu a existência de narrativas plurais e públicos diversos, criadores de sentidos e participantes ativos na construção desse patrimônio redefinido. Ao mesmo tempo, os museus, as práticas e as políticas de patrimônio são afetados por fluxos que conformam o espaço e o tempo, como a conversão da cultura em mercadoria, a espetacularização da memória e as requalificações urbanas. 

Parece-nos interessante notar que a produção social dos lugares associados aos músicos populares de alguma forma tende à informalidade e improviso, à imaginação e constante reinvenção das identificações. Isso desafia de alguma maneira tanto a narrativa monumental com a qual se fabrica o discurso oficial sobre o patrimônio cultural quanto a narrativa comercial que propõe tão-somente o consumo do espaço, cujas qualidades são apresentadas em caráter fetichista. Tais experiências ampliam o campo de atuação dos museus.

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