1. PROJETO: MUSEU CLUBE DA ESQUINA: do sonho à cidade.
APOIO: FAPEMIG e PRPq/UFMG
Criado em 2004, com auxílio da Lei Rouanet, o Museu Clube da Esquina é essencialmente, até o presente momento, um museu virtual com a missão de preservar e divulgar a produção artística e as histórias do Clube da Esquina, realizado em parceria com o Museu da Pessoa.
Atualmente, a instalação de sua sede física está sendo
viabilizada, em parceria entre a Associação de Amigos do Museu Clube da Esquina
(AAMUCE) e a UFMG. A trajetória da instituição tende, assim, a apresentar uma
direção peculiar propícia à realização de um estudo de caso - da construção sonhada ao
espaço virtual da Internet, e deste ao espaço físico da cidade.
Para entendê-la, é preciso
pensar essa passagem de modo bem mais complexo, evitando uma concepção dualista
que separa de maneira simplista o mundo “físico” e o “virtual”, o “real” e o “sonho”, o
“material” e o “simbólico”.
O projeto investigou a trajetória dessa instituição
museológica contemporânea, desde sua concepção, acompanhando os desdobramentos
da execução de seu projeto, da constituição de seu acervo e das formas de sua
comunicação, considerando em especial as iniciativas e expectativas em torno da
constituição de sua sede física, e, nesse meio tempo, intervenções feitas pelo Museu
Clube da Esquina em três lugares de Belo Horizonte- o Edifício Archangelo Maletta, o
Edifício Levy e a esquina entre as ruas Divinópolis e Paraisópolis no Bairro Santa
Teresa, onde instalou placas comemorativas.
Paralelamente foram pesquisados
sites/blogs; flickr; youtube (canções/vídeos/comentários); perfis e páginas de facebook.
A partir de um trabalho de leitura e seleção, os depoimentos foram enquadrados em
diferentes categorias de análise - Localismo / Lugar; Cosmopolitismo /
Desterritorialização; Memória / Experiência (coletiva e individual); Espetacularização/
Mercantilização.
Os comentários anunciam, de maneira geral, tanto uma relação de
apropriação e (re)afirmação das experiências dos sujeitos com a música e estética do
Clube da Esquina quanto revelam as relações entre música e patrimônio urbano.
Os resultados das pesquisas de campo podem ser considerados como uma
sondagem das relações dos citadinos com os lugares demarcados pelo Museu Clube da
Esquina. Em uma síntese das discussões, considera-se que as políticas de patrimônio
interferem e remodelam a dinâmica urbana construindo novos significados e usos para
os espaços públicos.
Acompanhar a passagem que leva o museu do sonho à cidade é
também a oportunidade de investigar várias problemáticas atuais nas áreas do
patrimônio cultural e da memória social, e no campo museológico em particular. Enfim,
oportunidade para refletir sobre as relações entre museu e sociedade no mundo
contemporâneo.
POSTAGENS RELACIONADAS
Durante a Semana do Conhecimento e
Cultura da UFMG, que ocorreu entre os dias 21 a 25 deste mês, apresentei
(Julianne Paranhos) os primeiros resultados das pesquisas desenvolvidas no
Projeto Museu Clube da Esquina: do sonho à cidade, coordenado e orientado pelo
Prof. Dr. Luiz Henrique de Assis Garcia. As pesquisas foram realizadas em
diálogo entre Museologia, História e Antropologia Urbana, e buscaram perceber
os laços simbólicos e de apropriação dos citadinos para com três dos lugares
(ARANTES, 1994) demarcados com placas comemorativas pelo Museu Clube da
Esquina* – o Edifício Archangelo Maletta, o Edifício Levy e a Esquina no Bairro
de Santa Tereza... LEIA MAIS
PRODUÇÕES RELACIONADAS
Canções Feitas na Esquina do Mundo: música popular e trocas culturais na metrópole através da obra do Clube da Esquina.
Autor: Luiz H. A.GARCIA
Resumo: A formação cultural conhecida como “Clube da Esquina”, criada em Belo Horizonte, nos anos 60 e tendo por principal articulador o compositor e cantor Milton Nascimento, caracteriza-se por um conjunto de práticas musicais e opções estéticas que utiliza fontes tão diversificadas quanto o interior de Minas, a música latino-americana e os Beatles, de forma alternativa a outras propostas contemporâneas para a Música Popular Brasileira (MPB), enfrentando os dilemas entre o “nacional” e o “estrangeiro”, o “popular” e o “erudito”, o “tradicional” e a “vanguarda” num contexto de crescimento da indústria fonográfica e internacionalização da cultura. Procuro compreender o complexo fluxo de trocas culturais envolvidas na construção de uma identidade cosmopolita que não descuidou do elemento local, nem o reduziu ao exótico ou ao típico, tomando a “esquina” como uma expressão simbólica dessa síntese.
Palavras-chave: MPB, trocas culturais, cidade, Clube da Esquina
Artigo completo: GARCIA, Luiz H. A. “Canções Feitas na Esquina do Mundo: música popular e trocas culturais na metrópole através da obra do Clube da Esquina”. In._: Revista Brasileira de Estudos da Canção. Natal, n.2, jul./dez. 2012. LEIA MAIS
O Museu Clube da Esquina e os lugares da cidade.
Autora: Julianne Paranhos Viana
Orientador: Luiz Henrique Assis Garcia
Resumo: Os
museus, desde sua origem até a contemporaneidade vêm desenvolvendo o papel de
mediador do homem com a realidade patrimonializada, a memória e as percepções
temporais humanas. Aproximando-se a cada dia mais dos indivíduos e grupos
sociais e tomando as cidades como artefato cultural, estes passaram a
desenvolver ações extramuros contribuindo para a construção da cartografia
imaginária do espaço urbano. O Museu Clube da Esquina, museu virtual criado em
2004 através da Lei Ruoanet e com a parceria do Museu da Pessoa, atualmente em
processo de implantação de sua sede física, desenvolveu em 2005 intervenções na
cidade de Belo Horizonte com a implantação de placas comemorativas que demarcam
25 lugares que foram cenários das confluências e trocas culturais entre os
músicos e letristas do Clube da Esquina com outros músicos, artistas e
intelectuais, durante as décadas de 60 e 70. As relações do Clube da Esquina
com estes lugares da cidade estabeleceram laços na memória dos citadinos que
reconhecem muitos destes espaços como significativos da trajetória do Clube
como é o caso da esquina entre as ruas Divinópolis e Paraisópolis no bairro de
Santa Teresa. O presente trabalho é parte da pesquisa desenvolvida no projeto
“Museu Clube da Esquina: do sonho à cidade” e se debruça sobre as intervenções
feitas em 3 dos 25 lugares demarcados pelo Museu- o Edifício Archangelo
Maletta,o Edifício Levy e a esquina no bairro Santa Teresa - e apresenta os
primeiros resultados de pesquisas bibliográficas e de campo realizadas no
primeiro semestre deste ano, cujo objetivo esteve direcionado para a apreensão
das relações de memória, afetivas e dos sentidos de apropriação dos citadinos
para com estes lugares. A proposta intenta trazer para a comunidade acadêmica
os significados dessas intervenções realizadas pelo Museu Clube da Esquina na
vida cotidiana e na experiência do tempo de seus citadinos, debatendo sua
efetividade para a construção da memória e preservação do patrimônio cultural.
Palavras-chave: Museu
Clube da Esquina; Cidade; Memória,; Preservação; Patrimônio Cultural
Patrimônio Urbano e Música Popular: narrativas plurais na cidade e no museu
Autor: Luiz H. A. GARCIA
Resumo: Profundas transformações sociais e
culturais na segunda metade do século XX afetaram
as formas de pensar, preservar e
difundir o patrimônio, provocando o alargamento dessa noção e a redefinição de
seu sentido social. Essas mudanças podem ser percebidas, no campo da
museologia, tanto nos debates e declarações resultantes de encontros
internacionais quanto no surgimento de novas práticas museológicas no âmbito de
instituições existentes ou tipologias alternativas que emergiram. Venho
conduzindo uma investigação sobre o Museu
Clube da Esquina, museu digital dedicado a preservar e divulgar a produção
artística e as memórias associadas aos músicos a que seu nome remete. Sua sede
física será instalada num antigo prédio integrado ao Circuito Cultural Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. O museu
também articula simbolicamente num “roteiro”, através de placas e textos,
certos espaços da cidade, como a Cantina
do Lucas, o Edifício Levy e a própria
esquina freqüentada pelos membros no bairro Sta.
Teresa. Processo parecido ocorre na cidade natal dos Beatles, Liverpool, em pontos como Penny Lane, Strawberry Field
ou o bar Cavern Club. Esses lugares
constituem um patrimônio urbano e são apropriados de diversas maneiras. Proponho
aqui investigá-las e compará-las através de relatos de citadinos ou turistas, procurando
compreender como participam da construção simbólica dos lugares e de que modo
interagem com a narrativa oficial. Considero
que a crítica ao discurso unívoco sobre patrimônio reconheceu a existência de
narrativas plurais e públicos diversos, criadores de sentidos e participantes ativos
na construção desse patrimônio redefinido. Ao mesmo tempo, os museus, as
práticas e as políticas de patrimônio são afetados por fluxos que conformam o
espaço e o tempo, como a conversão da cultura em mercadoria, a
espetacularização da memória e as requalificações urbanas. Nestas confluências
pretendo refletir sobre as relações entre museu e sociedade no mundo
contemporâneo.
Palavras-chave: museu - patrimônio
urbano - música popular - apropriações
2. PROJETO: PATRIMÔNIO URBANO E MÚSICA POPULAR: os sentidos dos lugares.
APOIO: CNPq e PRPq/UFMG
Profundas
transformações sociais e culturais na segunda metade do século XX afetaram as
formas de pensar, preservar e difundir o patrimônio, provocando o alargamento
dessa noção e a redefinição de seu sentido social. Essas mudanças podem ser
percebidas, no campo da museologia, tanto nos debates e declarações resultantes
de encontros internacionais quanto no surgimento de novas práticas museológicas
no âmbito de instituições existentes ou tipologias alternativas que emergiram.
Assim, além das tradicionais edificações e dos monumentos celebradores de
figuras ou eventos consagrados pela história oficial, outros lugares passaram a
ser reconhecidos como suportes de memória, passíveis de apropriações, incluindo
aí formas de musealização.
O Museu Clube da Esquina, museu digital dedicado a
preservar e divulgar a produção artística e as memórias associadas aos músicos
a que seu nome remete, também articula simbolicamente num roteiro, através de
placas e textos, certos espaços da cidade, como Edifício Maletta, o EdifícioLevy e a própria esquina freqüentada pelos membros no bairro Sta. Teresa.
Observa-se processo parecido em diversos lugares do mundo associados à música
popular, transformados em museus ou pontos de visitação, como Graceland, última
residência de Elvis Presley, o túmulo de Jim Morrison no cemitério Père
Lachaise em Paris ou na cidade natal dos Beatles, Liverpool, em locais como
Penny Lane, Strawberry Field ou o bar Cavern Club. Esses lugares constituem um
patrimônio urbano e são apropriados de diversas maneiras.
O foco da
investigação concentra-se na perspectivas de residentes e visitantes das
cidades abordadas, o que demanda a adoção de diferentes estratégias para a
pesquisa empírica, que combina fontes visuais e relatos escritos, reunidos
através de um trabalho de campo realizado em Belo Horizonte e de navegação por
sítios eletrônicos e redes sociais relacionados aos lugares abordados. Para
este fim foi criada uma página no Facebook denominada Pesquisa experimental:
patrimônio urbano e música popular [link], que funciona simultaneamente
como arquivo digital, fórum de discussão, meio de contato e diário eletrônico
de pesquisa.
O material recolhido via internet e experiências em campo permitiram constatar
algumas recorrências e diferenças presentes nos discursos de apreciadores de
Beatles e Clube da Esquina, resultando na eleição de algumas categorias que
exemplificam os sentidos atribuídos a esses lugares nas cidades de Liverpool e
Belo Horizonte.
Desde relatos de
citadinos ou turistas, dos registros que fazem dos lugares e das marcas de sua
apropriação dos mesmos, procuramos compreender como participam de sua
construção simbólica e de que modo interagem com a narrativa oficial.
Consideramos que a crítica ao discurso unívoco sobre patrimônio reconheceu a existência
de narrativas plurais e públicos diversos, criadores de sentidos e
participantes ativos na construção desse patrimônio redefinido. Ao mesmo tempo,
os museus, as práticas e as políticas de patrimônio são afetados por fluxos que
conformam o espaço e o tempo, como a conversão da cultura em mercadoria, a
espetacularização da memória e as requalificações urbanas.
Parece-nos
interessante notar que a produção social dos lugares associados aos músicos
populares de alguma forma tende à informalidade e improviso, à imaginação e
constante reinvenção das identificações. Isso desafia de alguma maneira tanto
a narrativa monumental com a qual se fabrica o discurso oficial sobre o
patrimônio cultural quanto a narrativa comercial que propõe tão-somente o
consumo do espaço, cujas qualidades são apresentadas em caráter fetichista.
Tais experiências ampliam o campo de atuação dos museus.
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