Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

29 de março de 2013

Palavra Som - edição 2013

Está chegando a segunda edição do Palavra Som, semana da canção contemporânea [confira aqui] . Do encontro entre o som e a palavra nasce a canção, forma de expressão que marca nossa história musical e cultural de maneira intensa e particular. A programação da mostra incluiu shows e oficinas, evidenciando a vitalidade da produção e reflexão nos Horizontes, nas Alterosas e, naturalmente, nas terras de Pindorama. Belíssima iniciativa que tem tudo para emplacar várias edições e ser espelho para outras que também contribuiam para ampliar o espaço (físico, simbólico, social, midiático, terrestre ou sideral) para interação entre talentosas gerações de músicos populares e o respeitável público, pois a canção é antes de mais nada um veículo de sentidos e sentimentos, cujo deslocamento no tempo e no espaço acontece através das pessoas. Estarei lá e convido a todos os leitores do blog, e os amigos que vocês chamarem. E que soe cada vez mais alto a Palavra Som.