Espaço que visa divulgar e disponibilizar trabalhos de criação e crítica referentes à MPB e música popular, não apenas para promover o intercâmbio de gostos e opiniões, mas fundamentalmente catapultar o debate sobre o tema.
Cerejas
Silêncio
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...] Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida." Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
Estive ontem no Palácio das Artes para acompanhar o lançamento do livro
de memórias de Túlio Mourão no Sempre um papo. Entre nós dispensa
apresentações esse mago das teclas que transitou por 'n' trilhas que
foram do roque à MPB [mas quem quiser encontra aqui mais informações sobre o evento e o convidado]. Além da ótima prosa, a audiência ainda foi brindada com algumas preciosas pérolas ao piano, com o repertório passeando entre Mutantes, Beatles e as próprias composições dele, incluindo aquela que por um triz Elis não gravou, como está contado no livro. A palavra que mais se ouviu da audiência que participou do evento foi generosidade, elogio ao qual ele faz jus com sobras. O produtor Nestor Santana me trouxe uma lembrança muito cara quando falou do CD Para Lô e Márcio Borges, que contou com arranjos do Túlio, que acabou me presenteando com um exemplar. Foi aí que conheci o trabalho do montesclarense Dan Oliveira, que participa cantando e tocando violão. Ganhei o disco, mas sobretudo um parceiro e amigo de talento e coração imensos.
Tive também o privilégio de trabalhar com o Túlio
durante o tempo que estivemos envolvidos nas iniciativas em parceria da
AAMUCE (ass. amigos do Museu do Clube da Esquina) com a UFMG que
desembocou na exposição "Canção Amiga", e posso dizer que sempre
torcia para ele estar nas reuniões. Como ser humano e profissional,
trata-se de alguém que coloca sua imensa sensibilidade e inteligência a
serviço da excelência. Entre becos sem saída e momentos enfadonhos em
reuniões de trabalho com equipes grandes, era um alento a hora em que
ele se manifestava. Acabei sendo honrado com a oportunidade de trocar
com ele e sua companheira de vida e trabalho Franciani Curi alguns dedos
de prosa numa tarde agradabilíssima sobre o então vindouro projeto do
livro. Fico feliz de ver o projeto chegar a termo com um texto para
qualquer tipo de leitor que alterna leveza e profundidade, e vai das
curiosidades indispensáveis neste tipo de relato às reflexões sensíveis
que justificam plenamente o título Alma de Músico. Só não devorei tudo
numa sentada porque o meu exemplar extraviou-se graças ao meu erro ao
misturar endereços num momento de mudança. Como eu já esperava, um texto
primoroso, e além de tudo, saboroso. Recomendo fortemente!
Duas leituras recentes que merecem destaque aqui na página:
Acabei de concluir a leitura de Noel Rosa - poeta da Vila (2011), cronista do
Brasil, de Luiz Ricardo Leitão, prof. da Uerj. Muito bem escrito, leve
sem perder o rigor, rebuscado sem ser pedante, um ensaio bem construído
amarrando a obra genial de Noel ao pensamento social e à literatura de
seu tempo, evidenciando como os músicos populares são, desde sempre,
argutos intérpretes do Brasil. Eu e tantos aprendemos
a conhecer e gostar de Noel através de Chico Buarque, encontramos aqui
um traçado bem descrito da invenção dessa estirpe de compositores que
descortina o país com inteligência e ironia. O sabor ensaístico é muito
adequado, sobretudo para evitar o risco de redundar a portentosa
biografia de Máximo e Didier, talvez a melhor em seu gênero já dedicada a
um músico popular brasileiro. E de curiosidade, já no princípio, fico
sabendo que o pai de Noel era mineiro e tinha Garcia no sobrenome. Sendo
assim quem sabe não sou, ainda que por retorcidos galhos de uma
longínqua genealogia, parente desse bamba? Já fico sendo.
E acabei de ler hoje o livro do
Seminário Os Sambas Brasileiros: Diversidade, Apropriações e
Salvaguarda. do evento que foi feito em Santo Amaro no contexto do
registro do Samba de roda do recôncavo. Uma maravilha com Gil, Caetano,
Sandroni, Wisnik, Elizabeth Travassos, Hermano Vianna, e mais gente boa, e tem pra baixar. Ocorrido em 2007 (porém editado em 2011), durante a gestão de Gil à frente do MinC, parece que se trata de outro país, outro planeta. Os bons quadros do IPHAN, reunidos a parte da nata da nossa música popular e intelectualidade - em alguns casos, simultaneamente no mesmo indivíduo - desfiam um conhecimento absurdo sobre o samba - não exclusivamente o de roda - e outros gêneros musicais brasileiros populares e até folclóricos. E a transcrição da mesa final, com as amistosas cutucadas mútuas entre Gil e Caetano quando trataram da questão dos direitos autorais na atualidade, são exemplares da personalidade de ambos e divertidíssimas.
Acabei agorinha de ler Here, there and everywhere:minha vida gravando os Beatles, de Geoff Emerick (com auxílio de Howard Massey). É basicamente um relato bem franco feito pelo engenheiro de som que desde bem jovem ingressou na equipe da EMI inglesa e esteve ao lado de George Martin na sala de controle em Abbey Road por bons anos como engenheiro de som responsável por encontrar inovadoras soluções para a constante demanda da banda por novos sons para suas gravações. Geoff certamente foi pioneiro e um grande apaixonado pelo que fazia. Mesmo para quem, como eu, já leu e viu mais documentários do que consegue contar sobre os Beatles, há algum detalhe que acrescenta. No começo a escrita é um pouco mais agradável e imaginativa, e depois cai mais para a pura transcrição de memórias. Para quem se interessa especialmente por produção musical e engenharia de som, um prato cheio. É particularmente divertido acompanhar as constantes peripécias que burlavam os protocolos e a vagarosa reação da conhecida gravadora ante mudanças tecnológicas e comportamentais que, a despeito do sucesso sem precedentes da banda, não penetravam facilmente sua rígida estrutura. Sua franqueza conquista, mas talvez passe do ponto, especialmente na sua tentativa de afirmar constantemente que sua evidente preferência por Paul McCartney não era determinante do modo como interagia com o restante dos membros da banda. Suas implicâncias com John, Ringo e especialmente George, são tão renitentes que evidenciam o contrário. Quanto a George Martin ele parece equilibrar um pouco mais as coisas, trazendo à tona atitudes não tão cavalheirescas de alguém que pode parecer um exemplar impecável do garbo britânico. De todo modo, para o apreciador da História dos 4 rapazes de Liverpool que pretende ver um pouco de humanidade no meio desse aparente conto de fadas, o livro é uma ótima pedida, pois não se perde nessa aspereza e mantém o foco em mostrar pelos olhos de quem participou de perto, que toda aquela magia foi simplesmente o fruto do suor, da imaginação e da ousadia de gente de carne e osso.
Ainda que com altos e baixos, alguns lapsos e até erros inaceitáveis num
projeto editorial que parece ter consumido muitos anos e trabalho, A
batalha pela alma dos Beatles termina sendo uma leitura razoavelmente
boa e compreensiva que dá acesso ao lado sórdido, obscuro, e
indissociável, de tudo que os cercou como fenômeno histórico e cultural. Ele se mostra particularmente cuidadoso na exumação desses cadáveres escondidos nos cemitérios do sucesso pop. Eis uma passagem muito elegante que mostra como chamar um senhor e Sir de mercenário sem ser desagradável. Narrando a elaboração de Anthology, Doggett informa que George Martin, após apreciar as gravações selecionadas, reagiu negativamente: "Eu escutei todas as fitas (...) há uma ou duas variantes interessantes, mas com exceção disso é tudo inutilizável. Não seria possível lançar nada!". Em seguida ele nos conta que "o potencial financeiro de uma série de lançamentos de arquivo foi explicado a Martin e aos Beatles. E poucos meses depois, Martin concordou em lançar uma caixa de três CDs duplos (...) os depósitos inutilizáveis magicamente se transformaram em arcas do tesouro"(p.390).
Se a um conhecedor ao menos razoável deles não representa nada enquanto
pretenso destruidor de mitologias, ele conclui de acordo com o que era o
desfecho anunciado, assegurando que "a alma dos Beatles não reside na
sala de reuniões da Apple Corps, nem nas contas bancárias de quatro
multimilionários, mas na graça instintiva e natural de suas canções".
Nessa redação estranha ou bem fica subentendido que as contas de John e
George sobreviveram a eles, ou que a propriedade dos direitos por parte
das viúvas deles representa a propriedade das canções. Não é bem isso
que Doggett quis escrever, certamente. Ele só quis afirmar no final o
que passou o livro inteiro procurando nos deixar em dúvida, ou seja, que
o gênio coletivo dos Beatles "criou algo que nem mesmo o dinheiro
poderia destruir".
Meu deleite do momento é essa magistral biografia de Piazzolla, que adquiri numa banca de rua na feira cultural no bairro de San Telmo, em Buenos Aires, no final do ano passado. Nos dias em que estive por lá, ir ouvindo a música enquanto lia a biografia em pleno centro de Buenos Aires dava uma sensação ímpar a tudo. Le Grand Tango: the life and music of Astor Piazzolla, escrito pela argentina María Susana Azzi (da Academia Nacional de Tango e da Fundação Piazzolla) e pelo estadunidense Simon Collier (latinoamericanista e professor da Universidade Vanderbilt). Pesquisa de fôlego (5 anos), entrevistas, material de arquivo, texto agradável, análises decentes, sem medo de usar termos técnicos mas conseguindo dar a ideia a qualquer leigo, detalhes curiosos - por exemplo, Piazzolla quando adolescente conheceu Gardel em Nova Iorque e quase esteve na sua trupe como ajudante na viagem à Colômbia que matou o grande ídolo argentino. Que vida movimentada e que figura foi Piazzolla. Ler uma biografia dessa modifica totalmente a forma de ouvir a música do artista biografado.
"Quando você se casa com a música , ela é seu amor para sempre, e você vai para o túmulo com ela". Piazzolla!
P.S. Um dos pontos altos do livro é a passagem de Piazzolla pelo Brasil em 1972, quando Nana e Dori Caymmi o levaram para ver o show de Milton Nascimento no Rio - à época do disco Clube da Esquina. Na sequência o argentino e seu conjunto tocaram num espaço privado para uma plateia de músicos brasileiros que incluiu, além do trio já mencionado, Chico Buarque, Egberto Gismonti, Luiz Eça e outros. Após a reunião de depoimentos e casos dessa passagem, fica inclusive a sugestão dos autores para que se escreva um livro devotado às conexões de Piazzolla com a cena musical brasileira, reforçada pelo relato de um diálogo entre ele e Caetano, no qual ele indaga ao baiano porque não o tratam na Argentina como o Brasil lhe trata.
P.S. 2 - acrescento essa entrevista que traz vários assuntos tratados no livro e acabei de assistir por indicação do músico argentino Lisandro Massa.
De passagem pela livraria Ouvidor no começo da tarde, vi naquela banquinha da porta e comprei por 10 mirréis. Uma leitura saborosa, pitoresca mas não fútil [quem quiser uma resenha mesmo, aqui]. Os bastidores de várias gravações, uma descrição bastante acurada do trabalho de produção e de engenharia de som, alguns bons relatos sobre a composição de canções, apresentações ao vivo, idiossincrasias de artistas, macetes de estúdio. Para quem tem alguma noção de como se grava(va) discos, prato cheio. Legal inclusive para acompanhar, através da longeva carreira de Phil Ramone, as mudanças da indústria fonográfica, sem perder o frescor do relato, pois provavelmente muito foi escrito a partir de conversas gravadas, fora as entrevistas com gente da música que aparecem ao longo do livro. Gosto dessas auto/biografias [neste caso com auxílio do pesquisador Granata, especialista na carreira de Frank Sinatra] centradas nas atividades de trabalho, na dimensão pública da vida do sujeito, em que os detalhes privados entram apenas na medida em que elucidam uma ou outra situação. A edição - Guarda-Chuva, 2008 - tem lá uns pecados, probleminhas de tradução e revisão, mas não compromete a apreciação. Uma boa leitura de férias, pra ler de papo pro ar, digamos assim.
"A noite do meu bem", de Ruy Castro, pretende fazer para o samba-canção o mesmo trabalho memorialístico que fez o autor sobre a bossa nova com "Chega de saudade" [apresentação oficial, aqui]. É aquele tipo de leitura sob medida para um período de rebordosa. Leitura amena de final de semestre, cheio de trívia, casos, intrigas de bastidor e façanhas de boêmios. Algumas dessas partes estou até pulando sem maior cerimônia. O que vale mesmo é a descrição acuradíssima da noite carioca e das boates, e o desfile do repertório de compositores, intérpretes e canções. Não foi por acaso que adquiri o livro no contexto do projeto de pesquisa "Patrimônio urbano e música popular: os sentidos dos lugares", apoiado pelo CNPq [sobre o projeto, aqui].Seu maior mérito é o inventário gigantesco de canções, que provavelmente se trabalhado com maior atenção pode ajudar a repensar algumas coisas em relação ao cenário de emergência da bossa nova. Não achei tão bom quanto o outro, mas propicia boas doses de diversão.
Até quando narra as mortes de alguns dos principais expoentes do samba-canção Ruy Castro o faz com uma certa verve, o que tira um pouco o peso. Mesmo se arriscando às vezes a recair no excesso de trivia misturado com recortes de coluna social e algumas inconfidências, consegue vários arremates com estilo para consolidar o que de fato é o livro - não a pretensa reconstrução histórica, expressão que considero impertinente - mas um belo tributo memorialístico às mulheres e homens que escreveram, cantaram e tocaram algumas das mais belas pérolas do repertório da música popular desse país, o que representa parte de um patrimônio cultural sem qualquer paralelo.
Vou ver se providencio uma playlist - leitores e leitoras convidados a dar sugestões - e nesse meio tempo deixo a canção que inspirou o título, de Dolores Duran.
Acabei de ler agora Ao vivo no Village Vanguard, escrito pelo proprietário dessa famosa casa noturna novaiorquina de jazz, Max Gordon. Por ali despejaram todo seu talento nomes como Miles, Monk, Mingus, Sonny Rollins, e, além dos jazzistas, músicos como Pete Seeger e Woody Guthrie, poetas boêmios como John Gildea e humoristas como Lenny Bruce e Woody Allen. Leitura fluente e agradável, bons causos, como deve ser esse tipo de livro. Ao mesmo tempo ele é mais, pois narra como poucos aquilo que podemos classificar como a "alma" de uma espelunca, a sinergia entre música, conversa, pessoas, comida, o arranjo entre o ambiente e o que rola dentro dele. Livro recomendado a todo interessado em música popular, e aos entusiastas e estudiosos do jazz particularmente. Aliás várias vezes o autor menciona o fato de ser procurado por estudantes universitários para entrevistas, enquanto ainda escrevia o livro. Um trecho pra atiçar o interesse:
Quando Gary Giddins, o crítico de jazz, tinha 15 anos, gastava a mesada de 2 dólares que seu pai lhe dava para ir ao Vanguard ouvir Miles Davis no domingo à tarde. Ele chegava cedo, pegava uma cadeira de frente. Miles era um de seus heróis do jazz, Um domingo, Miles, saindo do palco no final da primeira parte do show, parou para apagar seu cigarro no cinzeiro da mesa do Gary. 'Aqui, guarde isso' disse ele a Gary. 'Algum dia isso vai valer algum dinheiro'. Max Gordon . Ao vivo no Village Vanguard. Cosac Naify, 200, p.154.
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P.S. abril de 2016 Aproveitando a passada para corrigir e recuperar links quebrados, acabei pensando que seria interessante acrescer ao comentário algumas imagens do lugar e também algum som, o que já havia pensar em fazer anteriormente.
Joyce Moreno tem uma trajetória brilhante e está entre as grandes da nossa música popular. Sua música ecoa sempre em nossas vidas, ouvidos e corações. Hoje é aniversário dela. É da mesma cepa fundamental da nossa MPB, emergindo na Era dos Festivais com Edu, Caetano, Chico, Milton, Dori , entre outros, entre os quais a impressa da época costumava coloca-la como "bendito é o fruto" ou, alternadamente, chamar-lhe de "Chico Buarque de saias". Desse pouco já se depreende que na condição de mulher teve que enfrentar diferentes graus de prevenção e preconceito por não corresponder à imagem pretendida para o sexo feminino em seu tempo. Inclusive no meio musical, em que havia pouco espaço para compositoras, deveriam ser todas "canárias". Um relato dela pra dar uma ideia de como a banda tocava:
“Nunca entendi por que não havia canções brasileiras no feminino escritas por mulheres. As poucas compositoras brasileiras de até então eram muito tímidas quanto a isso, as letras eram neutras”, afirma Joyce. “Houve até críticos que chegaram a pôr minha autoria em dúvida, dizendo que as músicas eram boas demais para terem sido feitas por uma mulher.”
Outro detalhe interessante, em relação a esse período de efervescência de meados da década de 1960, é que Joyce transitou entre diferentes músicos e programas estéticos que num momento ou noutro ali, não se bicaram, por assim dizer. Ela que foi d'A tribo, que fala tanto em tribos no seu livro "Fotografei você na minha rolleyflex" das tribos pelas quais circulava, ela na sua morenice belíssima brasileiríssima seria como uma índia desbravadora.
Achei essa entrevista que ela concedeu ao Pedro A. Sanches (uma das melhores coisas que ele já fez, inclusive: completa, aqui) muito interessante, por condensar coisas que estão pelo livro dela e em outros lugares. Separei o trecho que segue:
Eu era amicíssima de todos, sem exceção, embora estes grupos muitas vezes não se dessem bem, pois era a época dos festivais e tudo era muito competitivo. Mas eu não conseguia fechar totalmente com um grupo só, gostava de todos, achava que todos estavam certos dentro das suas razões. Então os baianos achavam que eu era mais ligada a eles, porque eu frequentava as reuniões nas casas de Torquato Neto e Bethânia. Mas os mineiros também… E os cariocas, nem se fala, era a turma que se reunia nas casas do Tom Jobim, do Vinicius de Moraes e do Luizinho Eça… Eu sozinha era a quinta-coluna da MPB! Os mineiros eram meio sem-teto aqui no Rio, vinham de ônibus, sem grana e sem ter onde morar. No apartamento que o Bituca dividia com Novelli e Helvius Vilela moravam quase 20 pessoas – numa quitinete. Então nós, cariocas, começamos a hospedar o pessoal. Acabou que tive um namorico com o Lô Borges (“Abrace Paul McCartney” etc.) e acabei me casando com o Nelson Angelo, numa viagem ao México que fizemos num grupo chamado Sagrada Família, liderado por Luiz Eça. Por essa convivência, vi grande parte do que depois se chamou clube da esquina ser gestado na minha casa. Mas, apesar da amizade, musicalmente não me influenciou, não. De todos os mineiros, o que sempre teve maior afinidade musical comigo é Toninho Horta. Mas isso porque ouvimos as mesmas coisas na adolescência, ele é mais jazz e bossa nova do que Beatles, assim como eu. Então, sempre que dá, até hoje tocamos juntos (e gravaram o disco Sem Você, lançado em 1995).
Sua vasta discografia [aqui] faz jus a um lugar destacado na história da música popular brasileira, bem como sua habilidade e versatilidade como compositora, instrumentista e intérprete. Talvez um inevitável lugar comum, seu disco mais emblemático para mim segue sendo Feminina (1980), ainda mais que tenho em vinil, em condições maravilhosas. Foi provavelmente seu momento de maior exposição midiática, clipe no Fantástico, não sei se vi quando era criança mas canções como Feminina e Clareana (que depois viria a ser adorada pelo meu filho quando tinha uns 3, 4 anos) sem dúvida estão arquivadas numa gaveta à parte da minha memória musical. Separei alguma coisa para ouvir direto aqui mas vale conferir mais. Dê uma passada no site dela que é elegantíssimo no visual, e lógico, no som [aqui]. Salve Joyce!
Aproveitando o ensejo de uma matéria do Estado de São Paulo [completa, aqui], decidi recuperar o pdf do livro Músicos, ídolos e poder, de André Midani, figura central na história da indústria fonográfica no Brasil. Até agora só coloquei na coluna comentários e resenhas de livros que já li, e o do Midani passou todo 2014 guardado no HD e talvez continue assim por mais um tempo. Nem tudo a que nos propomos pode ser cumprido à risca. Abro, portanto, essa exceção porque acho que vai interessar a muita gente e a figura aí além de tudo, pelas tantas entrevistas dele que já, é pra lá de instigante.
André Midani, entre tantas coisas diretor da gravadora Philips nos anos 1960.
Nestas férias que se encerraram pra mim ontem andei lendo alguma coisa, não tanto quanto gostaria. Mas o bastante para dar uma relaxada e ao mesmo tempo apreciar por ângulos distintos um pouco da história da música popular. Curiosamente, um ponto em comum dessas leituras foi a possibilidade de realizá-las de forma simultânea e não-linear. É bom dar essa modificada na experiência de leitura, até porque muitas vezes ao longo do semestre a conversão do livro em ferramenta de trabalho às vezes deixa pouco espaço para investidas mais lúdicas no ato de ler. Foi assim que me lancei sobre três livros que retém justamente essa propriedade, ao menos para mim, de serem degustados "fora da ordem", em pequenos nacos ou grandes pedaços, em breves pausas para o "café" ou longos "banquetes". O primeiro é Para seguir minha jornada, de Regina Zappa (editora Nova Fronteira), jornalista já escolada em esquadrinhar a vida e a carreira de Chico Buarque. Na verdade nesse sentido o livro não trás novidade para quem já leu uma ou mais biografias canônicas - inclusive da mesma autora - digamos assim, desse caro amigo Francisco. O diferencial é a parte gráfica, desde a composição às reproduções de fotografias e documentos, explorando bem o farto material digitalizado recentemente pelo Instituto Tom Jobim. Isso torna o livro bom de folhear, e às vezes me peguei lendo as reproduções das matérias de revistas, entrevistas, quase como se estivesse no próprio arquivo, algumas vezes até saltando as partes do texto que eram redundantes em relação ao material. Um livro para ser "lambido" com os olhos. Seguindo a linha biográfica, mas para ser exato, autobiográfica, adentro o indispensável Antologia (Cosac Naify), histórica e bem acabada publicação que faz parte do projeto que cuidou de dar voz ao próprios Beatles (devidamente acompanhados pelas rememorações de pessoas próximas como George Martin, Derek Taylor e Neil Aspinal). Mesmo para um beatlemaníaco incurável e mais que familiarizado com todas aquelas histórias, exaustivamente assistidas e lidas por aí na vida, acaba sendo diferente ter e manter essa preciosidade ao alcance dos olhos a qualquer momento. Além de ser farta e belamente ilustrado com fotos e material de arquivo, o grande trunfo do livro são os depoimentos dos Beatles (os de Lennon foram retirados de diferentes fontes e os dos outros 3 recolhidos durante o projeto), não apenas pela ênfase perspectiva deles, mas porque são arranjados de forma que podemos lê-los como variações sobre um mesmo episódio, revelando a particularidade de cada um mas também os pontos comuns, permitindo que o leitor obtenha um grande painel sobre os 4 inseridos naqueles anos incríveis e conturbados. E por fim 1973: o ano que reinventou a MPB (Sonora editora), competentemente organizado por Célio Albuquerque, radiografia de múltiplas vertentes para uma coleção respeitável do que de melhor se fez em disco na música popular brasileira naquele ano. O leque é grande. Vou lendo ainda, começando num disco que me dá na telha, correndo pra ver aqueles pelos quais tenho apreço particular, mas também me deparando com os que não conhecia ou tinha pouca noção. Os enfoques diversos da profusão de autores convidados, entre músicos, críticos, jornalistas, produtores, estudiosos e amantes (alguns respondem por várias dessas categorias), dão o tom do livro, o que permite ao leitor ganhar sensível intimidade com a obra escrutinada em cada texto. De quebra, um quadro abrangente do cenário musical e também do país no ano em questão emerge aos poucos, em camadas de tinta e pinceladas de diferentes estilos. Isso dá ao livro uma coerência que não é possível ter em coletâneas / compilações de listas e análises de discos tradicionais, que costumam abarcar recortes temporais livres e amplos demais. Essa qualidade torna mais clara a importância do patrimônio cultural representado por nossa música popular, ao mesmo tempo que dá a medida de como funcionam os mecanismos da memória e os jogos da consagração cultural, deixando as escolhas de então em contraste com a posteridade e os caminhos percorridos pelas obras após terem soado no mundo. Cada texto traz ao final uma completa ficha técnica do disco, agregando mais informação ao conteúdo que já é bom. A lamentar, provavelmente por questão de custos, que as artes das capas não tenha recebido maior destaque ou impressão colorida. Um pequeno reparo, o único até agora em relação a créditos, é que a autoria correta de Feira Moderna (canção mencionada en passant no texto que aborda Matança do porco do Som Imaginário) inclui Lô Borges, além dos ali creditados Beto Guedes e Fernando Brant.
Quando comecei esse blog pensava nas utilidades acadêmicas que poderia ter. De início acabei concentrando esse lado na divulgação de textos de minha própria autoria, e aqui e ali, divulguei eventos, periódicos, um ou outro curso e trabalhos relacionados a disciplinas que lecionei. Em meio a uma ou duas reflexões sobre pesquisa, apareceram por aqui referências a fontes de pesquisa, projetos de digitalização de documentação ou acervos em suas instituições de guarda, que eventualmente podem auxiliar outros investigadores. Criei depois a coluna "Na estante", com resenhas e comentários a respeito de leituras que ia fazendo, mas não consigo mantê-la na regularidade que gostaria. Enfim, vou levando o blog no meu tempo livre e uma das ideias que já tinha era publicar listas de referências bibliográficas. Hoje acabou aparecendo essa pra mim no facebook e pensei que seria uma boa compartilhá-la aqui, mesmo estando toda em inglês [completa, aqui]. Há uma grande variedade de títulos, com diferentes objetos, de tecnologias a gêneros musicais, recortes temporais, delimitações espaciais, questões de gênero, étnicas, sociais, culturais, que, numa primeira e geral apreciação, expressão bem a perspectiva plural que é marca dos estudos culturais tão forte na literatura anglo-saxônica, com evidente influência nos estudos sobre música popular. Vale uma sapeada!
P.S. O repositório acadêmico BiblioVault merece uma conferida por pesquisadores que estudam outros assuntos também.
Enquanto relutava em concluir a leitura do já nascido fundamental livro de Chico Amaral, A música de Milton Nascimento [ler resenha aqui], fiz algumas reflexões, entre as muitas instigadas por estas páginas tão bem escritas e alinhavadas com a habilidade e criatividade próprias de seu autor. Como uma suíte, o livro é composto de partes que se encadeiam e se complementam, mas guardam andamento e arranjo diferentes. Destas, um dos destaques é a longa entrevista feita com Milton. Uma coisa que me incomoda nas entrevistas feitas com músicos populares, que li em boa quantidade ao longo dos anos em que pesquiso o assunto, é que as perguntas e respostas tendem a se repetir, seja pela finalidade editorial daquele depoimento, seja porque o entrevistador acomodou-se e confiou nos caminhos já trilhados de quem já registrou a fala de seu entrevistado, ou porque este último já como que automatizou as respostas, tantas foram as vezes em que lhe fizeram as mesmas questões. A do livro tem como mérito maior o tempo e destreza gastos em esmiuçar o que de fato é o objeto da obra, ou seja, a música. Não é comum os músicos tratarem de forma tão detida desse assunto, e aqui isso se dá porque o entrevistador não apenas conhece a teoria, mas igualmente a prática, o que lhe instrumentaliza para conduzir bons papos, eventualmente difíceis para os que não detém um certo conhecimento específico da matéria. Além de deixar espaço para as idas e vindas, sem deixar o entrevistado refém de um roteiro muito estruturado, mas tão pouco lhe abandonando às longas derivas que o rememorar pode produzir, ela é bem pensada na forma de apresentação, trazendo aqui e ali rápidos e certeiros comentários posteriores do autor ou, o que é muito interessante, alguns trechos de outras entrevistas com os demais participantes das aventuras musicais de Milton, chamadas para esclarecer, pontuar, pormenorizar, ou talvez para lembrar ao leitor a natureza lacunar própria do lembrar.
É uma alternativa ao formato mais clássico de entrevista longa, geralmente organizado em torno da biografia do entrevistado. Uma variação pode ser encontrada nas entrevistas conduzidas por pesquisadores usando metodologia da denominada História Oral, concebida para revelar novos ângulos a respeito do vivido partindo do trabalho de rememoração pelo sujeito que protagonizou a experiência histórica em questão. Entrevistas assim tem o mérito de poder cobrir uma gama de assuntos de interesse e costumam ser mapeadas de modo a permitir a indexação e acesso a partes delimitadas de seu conteúdo, como nos depoimentos ao Museu Clube da Esquina produzidos pela equipe do Museu da Pessoa.
Há também entrevistas que são realizadas por vários perguntadores, posicionados em bancadas, como no emblemático programa de tv Roda Viva {Bar Academia; , ou de modo mais informal e próximo ao entrevistado, como era o costume nas realizadas pel' O Pasquim. Outra possibilidade é a de realizar a entrevista com vários músicos, arregimentados por sua afinidade e envolvimento em projetos coletivos, como é o caso de algumas entrevistas com membros do Clube da Esquina. {Histórias da MPB, TVE-RJ; O som do vinil; Espaço aberto} Ou eventualmente os próprios músicos podem ser deixados à vontade para desenvolver uma conversa proveitosa e reveladora. É o que ocorre no documentário A sede do peixe, no cenário propício de uma mesa de bar. Um formato marcante é o do programa Ensaio, em que o músico vai interagindo com o entrevistador mas quem assiste só ouve as respostas, sentido-se instigado a deduzir as perguntas feitas da cabine do programa. Em muitos programas televisivos desse tipo há apresentações musicais intercaladas, e eventualmente os músicos permanecem com seus instrumentos ao longo da entrevista, o que pode ser interessante para que ele ilustre ou traduza sonoramente determinados pontos de sua fala {Toninho Horta violão ibérico}.
Ainda em férias, mas inevitavelmente atolado em trabalhos que estão condicionados por outra ordem de prazos, tento reservar também algum tempo para as leituras que não sejam as que tenho que fazer para escrever artigos ou preparar aulas. Inevitavelmente, elas acabam integrando um campo de possibilidades em que labuta e prazer ficam de tal modo amalgamados que é difícil saber onde um começa e o outro termina. Assim me lancei esses dias ao mar e na volta da maré me vi mergulhado na autobiografia de Sting, Fora do tom (Cosac Naify, 2006). O primeiro impacto vem da constatação de que não é simplesmente a reunião de fatos marcantes, de eventos e emoções que constituem o quebra-cabeças da vida do narrador, o que vai me prender. É a escrita venturosa, que transita entre o rebuscamento e a rudeza que refletem o vasto espectro de experiência e deslocamentos culturais de seu protagonista. Como muito estilo e escolhas que demonstram que é tão meticuloso e consciente como escritor como é como músico, Sting nos leva a examinar como discretas sombras companheiras de sua jornada cenas definidoras ou aparentemente triviais, momentos reflexivos com pretensões filosóficas e rememorações vívidas de diálogos cortantes, locais ou acontecimentos.
Como pesquisador, sempre intriga e aguça meu interesse tudo que envolve a formação do músico popular. Descubro, sem muita surpresa, que a de Sting incluiu o contato com com instrumentos e repertórios presentes em casa, ou no convívio com parentes, progressivamente combinados com a audição do rádio, a companhia dos colegas e as primeiras incursões a casas noturnas para assistir performances ao vivo. Encontrei relatos muito parecidos em entrevistas concedidas por compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso ou Milton Nascimento. Dada a real impossibilidade de transcrever vários e vários trechos pelos quais estou definitivamente fascinado, escolhi de forma totalmente arbitrária a parte em que ele relata sua descoberta dos Beatles, em seu último ano do primário:
"Lembro-me de estar no vestiário da piscina. (...) Estávamos nos secando, e, como de costume, chicoteando os genitais uns dos outros com a toalha. Foi nesse momento que escute os primeiros compassos de "Love me do", vindos de um rádio transistor ali perto. O efeito foi imediato. Havia alguma coisa no modo como o som era intervalado que pôs um fim imediato à brincadeira estúpida. A gaita solitária de John e o baixo de Paul tocavam "duas notas por compasso" e então a harmonia vocal movia-se de quintas a terças menores e de volta outra vez à voz solo no refrão. Não que eu fosse capaz de articular essas coisas na época, mas reconheci algo significativo, até revolucionário, na esparsa economia sonora, assim - e isso é interessante - como todo mundo.
(...)
Mergulho nos álbuns dos Beatles com a mesma obsessão e escrutínio forense que aplicara aos discos de Rodgers e Hammerstein, só que agora com um violão. Tenho um instrumento capaz de reproduzir a mágica prática das estruturas dos acordes e do emaranhado de riffs em que as canções estão construídas. E que canções, uma depois da outra, disco após disco. Aprendo a tocá-las todas, confiante de que, se eu insistir, o que não for capaz de tocar imediatamente, terminará por me revelar seu segredo, no fim. Pouso a agulha do toca-discos inúmeras vezes, nos sulcos das canções que parecem estar além de minha análise, como um arrombador de cofres procurando a combinação, até que o prêmio seja meu." (pgs. 85-87)
Como uma estocada, que é uma das formas pelas quais se pode traduzir seu apelido em português, Sting nos impele por cada página de sua instigante vida fora do tom. Para completar a postagem, uma versão dele de A day in the life (Lennon/McCartney) e outra de In my life(Lennon/McCartney) em um duo de alaúdes.
Enquanto principio aqui, ainda que em marcha lenta até que as férias cheguem, a leitura de Brutalidade jardim – A Tropicália e o surgimento da contracultura brasileira (Unesp, 2009), escrito por Christopher Dunn, professor da Tulane University, em Nova Orleans, acabei reencontrando na internet esse material em profusão derivado do trabalho de Ana de Oliveira, pesquisadora responsável pelo site Tropicália e pelo livro-objetoTropicalia ou Panis et Circencis, o qual confesso, não fiz mais que passar os olhos. O site, visualmente exuberante e com textos didáticos, introdutórios, parece cumprir bem a função de apresentar bem o cenário e as principais figuras associadas ao movimento, além de alguns de seus desdobramentos, nesse caso talvez recaindo numa leitura que está por demais canonizada e que exagera a proporção dos efeitos e dos rastros tropicalistas, certamente influenciada pela consagração a posteriori que recebeu, inclusive após o regurgito realizado em terras gringas na esteira da louvação de Byrne a Tom Zé e da babação de Cobain pelos Mutantes. Enfim, como há muito material acredito que se posso inclusive ir bem além das leituras que o site oferece, o que é bem interessante. Já que estou reunindo algum material sobre o tropicalismo por aqui, ocorreu-me acrescentar edições do ótimo programa de tv fechada O som do vinil, comandado por Charles Gavin, sobre os discos Tropicália e Mutantes e seus cometas no país dos Baurets. Desbundem-se.
- See more at: http://tropicalia.com.br/livro/#close
Tá difícil de sair o texto. Também tá difícil deixar passar a necessária homenagem ao centenário de nascimento do grande poetinha Vinícius de Moraes. Não pode... Como compositor bissexto e amador que sou, aprendiz, diria que Vinícius, se fosse santo, seria o santo padroeiro dos letristas. Se toda uma linhagem de músicos populares brasileiros aprendeu com João a ser desafinado, aprendeu com Vinícius a escrever beijinhos. Mas ele não tinha nada de santo, felizmente. Talvez esteja mais para um buda etílico*, uma contradição em termos, já sei, mas não resisti à imagem que cai como uma luva para o sujeito que disse que o uísque era o cachorro engarrafado. Vinícius irradiava inspiração de uma forma generosa, na sua obra e na sua vida. Aliás é isso, o que ele sorveu e transpirou em seus versos, em seus escritos, canções, frases, foi a vida de forma plena, nos seus gozos, angústias, doçuras, amargores, sutilezas, asperezas, no vinho, na água, no sangue, na tristeza, na felicidade. O verso do Chico é preciso: "cheire Vinícius". É pelo olfato, na sua visceralidade, que sentimos a onda que é Vinícius. Não precisam se preocupar, não é pra deixar de lado os outros sentidos. Por todos o poetinha se faz presente.
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Em 2010, quando residi em Governador Valadares para lecionar na Univale, passamos as primeiras semanas respirando Vinícius de Moraes em casa, pois sem antena e sem cabo, o dvd player ficava ligado e meus filhos ficaram absolutamente fascinados pelo disco (presente que ganhei do caríssimo amigo Guilherme Lentz) que registra um show de Tom e Vinícius para uma tv suiça, acompanhados por Toquinho e Miúcha. Ouviram tanto que sabiam cantar todas as músicas, iam comentando, se encantando, e também a mim. Me senti inclusive instigado a ler uma biografia - gênero absolutamente necessário, entre outros motivos, para conhecer a história da música popular e seus artífices - que encontrei numa visita entre tantas à biblioteca do Campus II. Estava lá - e recomendo - "VINICIUS DE MORAES - O POETA DA PAIXÃO" de José Castello [confira aqui a resenha no site da editora Cia das Letras].
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Por fim, deixo os links do novo sítio oficial e também da muito bem cuidada iniciativa do "Memória Viva", ótimos pontos de partida para conhecer melhor a vida e a obra de Vinícius de Moraes. Destaco essa seção em que é possível ouvir o poeta declamando alguns de seus poemas.
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* inspiro-me na imagem do buda lácteo criada por meu parceiro Pablo Castro