Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

20 de março de 2011

Polêmica a vista


Mui hermano...e a gente vai levando apagar

(apenas um trecho do texto que postei lá no Overmundo)
No meio de tanta controvérsia, gostaria de dizer inicialmente que Maria Bethânia, Hermano Vianna, Andrucha, ministra Ana de Holanda, MinC e quem mais estiver envolvido na elaboração e aprovação deste projeto, prestam um grande serviço à nossa cultura. Sim, protagonizam, querendo ou não, um acontecimento marcante de nossa história cultural recente. A chama do debate, acesa numa altura bem maior do que a dos últimos anos insiste em queimar. Isso é bom. Só não é bom é quando ela bruxuleia para a ofensa, o desrespeito, o senso comum, a personalização. Infelizmente, em meio a colocações importantes e comentários pertinentes, a “rede” está carregada de comentários chulos, desprezíveis ou simplesmente inoportunos. Estou longe de ser uma pessoa deslumbrada com os meios digitais, mas reconheço cada vez mais que a Internet e espaços como as redes sociais tem um grande potencial político ainda a ser explorado.
(P.S.: O mistério do samba continua na minha prateleira)

12 de março de 2011

Títulos

Confesso que sou um cara muito ligado nessa coisa de títulos. Título de canção, de capítulo, de artigo, de exposição. Acho ótimo isso de botar títulos. Tem hora que tem que sair logo, senão tudo que vem depois fica agarrado, não sai de jeito nenhum. Outras vezes, o bom é deixar pro final, quando tudo já está no jeito, e o título é o arremate, o xeque-mate. Tem hora que é um suspense...será que ele aparece? Será que vai agradar? Que vai pegar? Quando trabalhava no museu sentia esse frio na espinha, porque quando envolve muita gente é mais difícil o título vingar. Aí o negócio era pedir ajuda pra quem sabe, buscar inspiração na fonte inesgotável da música brasileira. Assim saíram "De outras terras, de outro mar" (sobre imigrantes estrangeiros em BH), "Como se fosse sólido..." (sobre a política de patrimônio na cidade) e a última, “Em Volta Dessas Mesas, Uma Cidade - Bares Como Lugares na História de Belo Horizonte”. Agora, a ideia de escrever esse texto hoje começou com um título que sempre me alucinou: Strawberry Fields Forever. De tão bom, foi apropriado por aqui por Gil - Chuckberry Fields Forever - e Caetano - Sugarcane Fields Forever. Segue um pequeno trecho de uma entrevista de John Lennon falando de sua canção, que citei num artigo que está sendo avaliado para publicação:

“(...) É um nome, um ótimo nome (...) estávamos tentando escrever sobre Liverpool e eu simplesmente listei todos os nomes que soavam bem (...) era um lugar perto de casa em que funcionava um lar do Exército da Salvação. (...) tenho visões de Strawberry Fields (...) é qualquer lugar aonde você queira ir”
 COTT, Jonathan. John Lennon – entrevista. Rolling Stone Magazine , 23/11/1968.

4 de março de 2011

Bosco e Blanc, protagonistas na luta autoral


Aproveitando o assunto "direitos autorais", depois de uma rápida passeadinha pelos arquivos da Folha (abertos por um breve período aos que não assinam), artigo publicado na Ilustrada em 05/02/1976 traz uma menção ao embate da dupla com a sociedade arrecadadora SICAM. (clique na imagem para ampliar). 

Direitos autorais, produção e circulação da música

O assunto está quente, em função das mudanças de rumo que ocorreram no Ministério da Cultura. Um ótimo documentário sobre o tema é "Produção em cadeia"(2010), de João Mello, Victor Sousa e Maurício Kenji. 



Produção em Cadeia from Produção em Cadeia on Vimeo.


Uma leitura indispensável sobre a história do direito autoral, da antropóloga Rita de Cássia Lahoz MORELLI. Arrogantes, anônimos, subversivos: interpretando o acordo e a discórdia na tradição autoral brasileira. Tive a honra e satisfação de ter a autora como integrante da banca no meu mestrado. Ao final, além da sua inestimável arguição, ganhei dela o livro de presente. Sensacional! Assim que sair o meu pretendo retribuir a gentileza, rsrsrs.