Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

14 de maio de 2021

Música popular e memória: em discos (1)

Revendo uma postagem feita pelo meu parceiro Maurício Ribeiro [quem quiser sacar algumas de nossas parcerias, aqui aqui aqui aqui], compositor, instrumentista, arranjador e produtor atualmente radicado na Espanha,  lembrei-me dessa antiga série que comecei e não foi muito longe, "Música popular e memória". A ideia era convidar leitores que se animassem a escrever suas recordações associadas à música popular. Ficou pelo caminho, depois de alguns episódios que depois recupero e boto link aqui [Pedro Munhoz; Rafael Senra; Míriam Hermeto].  Como às vezes ocorre, eu simplesmente encontro alguma coisa já escrita por alguém, em redes sociais, e dá aquele estalo. Lendo esse do Maurício me deu vontade de retomar a série, agora com esse conceito de partir de discos. Como as pessoas estão sempre respondendo enquetes sobre os seus álbuns preferidos - pelo menos quem tem uma certa idade e ainda aprecia a música a partir desse tipo de suporte - acho que não faltará material. Já deixo o convite para quem quiser entrar nessa roda, é só se manifestar pelos comentários ou fazer contato que será um prazer publicar mais relatos desse mesmo teor. Para aliviar o peso da postagem fiz links para os discos no YouTube, é só clicar no título. 

Gracias, parceiro! Fiquem aí com o relato e a seleção de audiomemorabilia do Maurício:

Meu amigo Luiz Pinheiro me convidou pra participar da brincadeira da capa dos discos, postando uma capa a cada dia. Não gosto de entrar nessas correntes, mas ele deu uma subvertida postando as 10 capas de uma vez, o que me inspirou a fazer o mesmo.

Além disso, vou mandar um pequeno texto sobre cada disco e o que ele representou pra mim. Portanto, quem só quiser saber quais são os discos, basta ver as imagens; quem quiser ler textão, segue; e quem acha que a brincadeira deveria ser durante 10 dias, volte aqui por dez dias lendo uma história por dia... hehehe
Daqui, seguimos cronologicamente em relação ao momento em que fui apresentado a estes álbuns.
Os Beatles foram a primeira banda que me lembro ter escutado, e escutado sistematicamente. O álbuns da primeira fase – e também a coletânea vermelha 1962-1966 que eu ouvia na casa do meu tio Elson e em fitas k7 gravadas dali pelo meu pai – foram praticamente decorados por mim ainda na primeira infância (ainda que meu inglês tivesse sido inventado por mim mesmo, o "inglês de sonoridade"). E foi ali, entre a primeira e a segunda infância, que eu, pela primeira vez, escolhi como presente de aniversário algo que não fosse um brinquedo. Talvez motivado pelo nome do LP, pedi para meu pai para comprar o Revolver. Até aquele momento eu vinha conhecendo os Beatles cronologicamente, e tive a felicidade de me envolver com cada LP a seu tempo, como os primeiros fãs dos Beatles fizeram em sua época. Fico imaginando, então, a sensação dos primeiros beatlemaníacos ao ouvir este disco. Para mim, foi mágico! Para os meus ouvidos, Revolver soava muito diferente dos álbuns anteriores, e realmente era. E foi o álbum que me empurrou para a segunda fase da banda, da qual só anos mais tarde fui ouvir inteiramente os LPs. Mas naquele momento, vim a conhecer e aprender as canções desta nova fase através dos k7s e da coletânea azul 1967-1970. De todo modo, Revolver representa pra mim toda a minha relação com os Beatles e com a música em geral, desde e até sempre.




Talvez minha memória me engane, mas vários anúncios publicitários de TV do final dos anos 70 e durante os anos 80 trazia como trilha sonora músicas do Jean Michel Jarre, entre eles o do Telecurso (1º ou 2º graus) e o do prêmio Operário Padrão. Além disso, meu pai em casa o Equinoxe. Entre a escuta de Beatles e uma grande variedade de música brasileira, também me encantava a sonoridade modernosa e sintetizada dessa música eletrônica. No entanto, eu me comportava de maneira diferente: quando eu parava para escutar este álbum, eu ouvia e reouvia uma música para descobrir e entender cada camada e textura ali presentes; tinha a clara e perceptível melodia, mas havia uma seção rítmica elaborada, os arpegiators, diferentes timbres de sintetizador... Eu, ainda sem saber o que eram estas estruturas ou nuances, já percebia a diversidade de componentes musicais ali engendrados, tão distintos uns dos outros mas funcionando perfeitamente juntos. Certamente, vem da música eletrônica daquela época a minha escuta ao detalhe, e certamente vem deste álbum o meu gosto duradouro pela música sintetizada dos anos 80. Acho que foi onde eu descobri que a música se apresenta em camadas, e cada uma delas – e todas juntas – tem um gostinho especial.

Obviamente, a música brasileira sempre foi majoritária dentro de casa. E meu pai foi um grande apreciador de LPs, e buscava estar sempre atualizado com os lançamentos de diversos estilos. Ouvíamos Noel Rosa, Cartola, Paulinho da Viola, João Nogueira, Elis, muito Chico-Caetano-Milton (nem tanto Gil, estranhamente), Simone, Taiguara, Gonzaguinha, Jovem Guarda... bem, a lista de nomes não caberia nem em centenas de posts. Nesta difícil tarefa de listar 10 álbuns, eu posso marcar como certa a escolha do LP Vida, do Chico Buarque. Você imagina uma criança de 10 anos de idade deitando no sofá e botando este disco pra escutar repetidamente, lendo o encarte, aprendendo a cantar todas aquelas canções? O disco tem algumas obras primas, mas dada a minha idade então, eu só vim a compreender a profundidade das letras muito tempo depois. Entretanto, uma delas em especial me tocava desde aquele momento, e me emociona até hoje: Bye bye Brasil. Eu percebia a música como melancólica, ao mesmo tempo épica; a aventura de uma partida forçada e dolorosa, ainda que necessária. Quem diria, né? De todo modo, até hoje eu considero este um dos melhores LPs de Chico. E, não por acaso, nos shows-tributo a ele que faço aqui na Espanha, canções como Vida e De todas as maneiras estão sempre presentes.


É difícil explicar a importância dessa banda na minha vida. Conheci e escutei demais todos os LPs deles – ao menos enquanto ainda estava ali o Flávio Venturini. Eu diria que, em termos de freqüência e importância na minha formação musical, eles chegam a se aproximar dos Beatles. Ali, como em J. M. Jarre, de novo os sintetizadores e timbres me faziam mergulhar fundo nas camadas da música – e somavam-se a eles os arranjos vocais e as letras; uma canção recheada de muita mineiridade. A cada escuta eu tentava cantar uma voz diferente, e isso exercitou ainda mais minha percepção aural. E cada LP continha uma música instrumental, o que eu achava o máximo pois parecia música de comercial – não sei porque, eu gostava da música ilustrando uma imagem, e os comerciais me tocavam mais pela música que pelo conteúdo. Talvez aí uma conexão com Jean Michel Jarre e Kraftwerk... O segundo LP da banda, 14 Bis II, foi o primeiro a entrar em casa, e certamente motivou a compra dos outros. E Planeta Sonho foi um hino pra mim, justo no momento em que eu começava a aprender violão.



Novamente um LP de 1980. Ano importante, hein? Conheci Supertramp por ele, talvez influenciado pelo meu primo Sandro que o tinha em casa. Mais tarde, fui conhecer os álbuns de estúdio da banda, da qual ainda sigo ainda um grande fã. Este álbum traz, provavelmente, suas melhores músicas – ainda que uma ou outra música genial tenha ficado de fora. De novo, há uma música-chave que remete aos comercias de TV: o refrão instrumental de Fool's Overture. Não me lembro de qual comercial, pode até ser insignificante; mas quando a escutei pela primeira vez, relacionei com uma propaganda da época, o que aumentou minha curiosidade sobre a banda. De todo modo, o Supertramp representou a minha introdução ao rock progressivo – ainda que depois eu tenha entendido que estava redondamente enganado a respeito da atribuição deste rótulo a eles. Mas Fool's Overture tinha, sim, uma estrutura formal que remete a algo de rock progressivo; e além dela, quase todas as outras canções do disco têm sua importância gravada na história da música pop. Junto com Jean Michel Jarré, foi o disco que, anos depois, me motivou a aprender teclados. E tanto Roger Hodgson quanto 14 Bis me fizeram – e ainda fazem – insistir em cantar em um registro vocal que não me cabe.

Eu conheci o Rush por engano. Um amigo – agora não me lembro quem – havia dito que tinha a música da série Profissão: perigo. Eu imaginava que fosse o tema que era tocado quando terminava o episódio, uma música bem alegrinha – de novo, eu e a música pra TV. Ele me gravou um k7 com Tom Sawyer, que era usada para anunciar o episódio na TV. Na telinha, vinham apenas os 4 acordes iniciais que compõem o riff a estrofe da música. Não era o que eu esperava, mas "baum também". Entretanto, quando a escutei inteira no k7, eu não gostei: – "que voz estranhíssima", pensei comigo mesmo –, e deixei a banda pra lá. Poucos anos depois, em 1990 (meu último ano de Escola Técnica), eu estava em um papo com meu amigo Cabral onde veio à tona o Rush, e eu disse que não gostava. Daí, ele me emprestou o Exit... Stage Left. Ali eu pude escutar um conjunto mais completo de canções, e de repente Tom Sawyer e a voz do Geddy Lee faziam todo sentido. O Rush se tornou a principal trilha sonora de praticamente uma década da minha vida, junto a um grupo maravilhoso de amigos que nos denominamos Os Inflamáveis. Ainda escuto, com menos frequência do que antes (assim como os demais álbuns dessa lista). Mas este LP representa um enorme salto na minha trajetória, tanto pessoal quanto musical. Ele fez a ponte para o rock, que até então eu nunca havia ouvido pra valer! Só depois de conhecer os demais trabalhos da banda é que eu fui levado a escutar os clássicos do rock – Led Zeppelin e Deep Purple, e mesmo Iron Maiden –; e o Rush foi, dessa vez corretamente, a porta de entrada para o rock progressivo, vertente estética do rock que ainda me mostra caminhos, não importando em que estilo musical eu me situe.
A partir daqui, a lista fica mais condensada no tempo. Estamos em 1990, e do Rush eu fui muito rapidamente para o rock progressivo. Talvez o primeiro LP que eu tenha comprado pra mergulhar neste universo tenha sido o Time and a word, segundo álbum do Yes. Eu me arriscava em LPs que não conhecia, recomendados pelo meu vizinho e músico Rubinho, que tinha uma banca de LPs usados numa feirinha em Vitória (ES), onde eu morava. Ali foi onde comprei às cegas e conheci Yes, Genesis, Focus, ELP, Premiata Forneria Marconi, Eloi, Van de Graaf Generator, Gentle Giant, entre outros tantos. Música cabeçuda, enfim!! Mas foi realmente um assombro quando descobri o Thick as a brick, um álbum inteiro com apenas uma música de 45 minutos. Pra mim, era o progressivo do progressivo! Ainda que eu reconheça em Yes uma sonoridade mais representativa do estilo, em Genesis uma construção musical e temática mais "palpável" (no bom sentido), e em Gentle Giant uma complexidade composicional mais profundamente admirável, acho que o Jethro Tull consegue protagonizar o símbolo de toda essa minha duradoura fase. O disco é visceral, lírico, profundo, complexo e bem amarrado!

Este álbum – um dos meus primeiros CDs, já que em 1993 eu ainda comprava LPs – foi uma grande guinada na minha vida. Ganhei de presente da Yara, com quem eu namorava na época. Não conhecia Pat Metheny até então, e acho que foi premonitório ela ter me presenteado com ele. Quando eu o escutei pela primeira vez, foi um baque!! O álbum inteiro me prendeu no início ao fim, por anos. Ali pela mesma época eu conheci o Brutus, um flautista que se tornou um grande amigo e parceiro. Grande conhecedor e admirador da obra do Pat, Brutus me apresentou o restante da sua obra, que veio a se tornar uma das minhas maiores referências musicais. Só depois dele eu fui mergulhar em Toninho Horta, e de quebra o Brutus me apresentou também o guitarrista Kevin Eubanks. Meu segundo CD, Trio (2013), é uma influência direta destes três guitarristas, que seguem sendo ainda um norte nas minhas escolhas musicais. Foi também meu primeiro contato íntimo e interessado com o jazz, território de constante pesquisa e descobrimento.

Nos anos 90, minha vida estava intensa, e eu ouvi muita coisa diferente. Como sempre, tudo misturado, ainda que essa mistura pudesse ter lá suas conexões internas. Com a viagem no rock progressivo e o descobrimento de Pat Metheny, eu não tive tanto interesse pela música brasileira feita naquele momento, e em se tratando de Brasil eu passeava entre os clássicos dos 60 aos 80, agregados ao BRock – o rock brasileiro surgido no últimos anos da ditadura (Legião, Paralamas, e todo mundo). Mas foi justamente entre o rock progressivo e Pat Metheny, com as pinceladas sempre recorrentes de Beatles, que eu fui ouvir com mais atenção ao Clube da Esquina, e por fim mergulhei – com imperdoável atraso – em Milton Nascimento. Eu já conhecia muito da sua obra de maneira picotada, através de outros intérpretes, de ouvir em rádio, ou de ouvir um disco ou outro. Eu já repetira centenas de vezes no meu toca-discos a coletânea "Nada será como antes – Elis interpreta Milton", que congrega as duas maiores estrelas da música brasileira. Eu também já tocava muita coisa de Milton que figurava entre as mais conhecidas. Mas a mistureba que eu escutava nesse momento, creio eu, me fez voltar pra conhecer o Bituca de uma maneira mais sistemática. Ali eu via jazz, via rock progressivo, via Beatles, conseguia distinguir a guitarra do Toninho... era tudo junto, e tudo mineiro demais! O CD gravado com orquestra fez a coisa ficar ainda maior. Eu comecei a perceber que a grandeza dos sintetizadores que eu tanto gostava em Equinoxe ou no Yes buscavam replicar instrumentos de verdade, que no álbum do Milton estavam todos presentes, tocando pra valer. Ali eu comecei a querer virar arranjador. E, de quebra, foi onde eu elegi Outubro como meu hino, uma das canções mais bonitas já escritas.

Minha lista termina ainda nos meados dos anos 90, no mesmo embalo que me apresentou Pat Metheny e me fez redescobrir Milton Nascimento. Se na vida musical profissional eu me alternava tocando com o Grupo Corsário (influências de 14 Bis e Boca Livre, entre outros) e trabalhos esporádicos com uma dupla sertaneja e em bandas de axé (o pagode só veio no fim da década), o meu caminho de aprendizado e escolha pessoal já havia sido impactado profundamente pela obra do Pat. O gosto por música instrumental me levou à música erudita e orquestral, ainda que naquele momento elas viessem em doses homeopáticas. Mas daí eu comecei a tocar na Orquestra de Violões do Espírito Santo, criada pelo violonista Fabiano Mayer. Era um trabalho muito bonito, e que me trouxe também experiências musicais e pessoais profundamente transformadoras. Com ouvidos carregados de violão, eu conheci – talvez também por intermédio do amigo Brutus – o grupo D'Alma, trio formado pelos violonistas André Geraissati, Ulisses Rocha e Mozart Mello. A gravação do disco me foi dada em k7, pois não encontrava o LP pra comprar. A música era muito foda, tocava em mim pela natural proximidade com o violão; era um lance meio jazz brasileiro, tinha a elaboração do rock progressivo... enfim, um trabalho que eu ouvi exaustivamente, e que anos depois influenciou minha primeira produção autoral, o CD Ventania no cerrado (2011). Ainda que eu nunca tenha chegado ao nível de execução destes três grandes, eu gravei uma neste CD uma música para 3 violões, Para cada esquina um sinal, uma referência direta à influência do D'Alma. Além disso, nos shows de divulgação do meu CD nós tocávamos um arranjo feito pra Roda Gigante, uma das composições de Ulisses Rocha neste LP. E, por fim, dali eu vim a me interessar pelo violão brasileiro: Dilermando Reis, Garoto, Rafael Rabello e Baden Powell foram nomes que passaram a nortear algumas das minhas escutas.

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Pois bem, 10 discos, e ainda estou lá pelos meus quase 30 anos de idade. É provável que, de lá pra cá, eu tenha descoberto coisas que me modificaram em parte ou completamente. Mas talvez o tempo e a maturação sejam necessárias para que a gente se dê conta de como nos transformamos. Igualmente, é bem provável que eu tenha deixado passar alguns discos importantes, ou que eu tenha escolhido um ou outro álbum equivocadamente para ser o representante de um conjunto de coisas... de Beatles, poderia ser qualquer um; no progressivo, igualmente, dada a infinidade de material. Enfim, fica aí a lista pra posteridade! heheheh
Vou postar uns links ilustrativos – e curiosidades! – nos comentários para entreter os mais interessados. O convite que se supõe fazer pra manter a corrente fica estendido a todos que quiserem falar de música e de suas influências.
Saludos!!!

Por Maurício Ribeiro

5 de maio de 2021

Bolacha completa - John Lennon/Plastic Ono Band edição de luxo

Acabou de sair uma caixa com a edição de luxo do primeiro disco de John Lennon em carreira solo - claro, com sua parceira de vida e música Yoko Ono, co-produzindo, e tocando, como está no título, com a Plastic Ono Band - o que representa, neste caso, uma banda que incluiu Ringo Starr, Klaus Voormann no baixo, Billy Preston nas teclas, uns pianos complementares do legendário produtor Phil Spector. Instado por mim e por outros internautas, meu caríssimo amigo Vlad Magalhães, músico profundo entendedor da obra de Lennon e dos Beatles, presença consagrada nas melhores formações de bandas ou em apresentações solo de tributo à obra dos quatro cavaleiros do Após-calipso, registrou sua apreciação do impressionante montante de mais de 7 horas de áudio. Ele gentilmente cedeu o texto, que disponibilizo aqui no Blog disparando foguetes. Ao Vlad meus cumprimentos e agradecimentos por esse minucioso relato, porque eis aí o mapa da mina. Além de tudo ele reuniu um extrato dos "melhores momentos" numa playlist aberta do Spotfy, que seguirá no corpo da postagem. Quando eu puder, pretendo traçar algumas linhas sobre o disco original, mas isso pode esperar.

Por agora, deleitem-se. 

"Atendendo a pedidos" aí vão minhas impressões sobre PLASTIC ONO BAND (THE ULTIMATE COLLECTION)
 Por Vladimir Magalhães 
DISC 1
é o disco oficial + 3 singles lançados na época, remasterizados. Sem grandes surpresas, diferente das novas mixagens dos Beatles que alteraram bastante vários elementos (nem sempre pra melhor). Esse foi bem mais fiel à mixagem original, claro, com mais definição na voz e nos instrumentos, como se tivessem dado uma lustrada em tudo, trazendo os graves para o século XXI.
Destaques: MOTHER - sem ruído do vinil usado na gravação do sino
Vocais de ISOLATION, REMEMBER e GOD bem mais na cara do que na mixagem original. Arrepiantes.
DISC 2
Última versão das músicas antes das versões oficiais, em suas formas definidas, com alguns pequenos detalhes que foram minimalisticamente lapidados no final
Destaques:
WORKING CLASS HERO - take 1
REMEMBER - parece ter sido a que Ringo e Klaus tiveram mais dificuldade de encontrar a melhor levada, que afinal conseguiram. Também sua introdução e final parecem ter sido conseguidos aos 48 do segundo tempo.
LOVE - levada de violão nitidamente inspirada em Yesterday
DISC 3
Destaques:
MOTHER - arrepiante vocal isolado
COLD TURKEY - sem o vocal, guitarra solo com mais feedback, num dos solos mais subestimados do rock'n'roll
Destaque negativo
REMEMBER: um efeito muito irritante (talvez uma jaw-harp). parecendo uma mola ou uma bola de desenho animado, felizmente não saiu na versão final
DISC 4
mixagens cruas das versões finais, exceto I FOUND OUT que tem uma parte a mais, cortada depois
Destaques:
GOD: a voz rouca sem o "slap echo"
GIVE PEACE A CHANCE: versão estendida
DISC 5
O mais interessante, com ensaios e conversas
Destaques:
Trechos de LOVE e LOOK AT ME com baixo e bateria
Hilária introdução de GOD
Tocante comentário de John a respeito de MY MUMMY'S DEAD
John dando instruções para a galera em GIVE PEACE A CHANCE fazendo dueto e respondendo a si mesmo no overdub
INSTANT KARMA - o ensaio mais arrepiante, com a participação de George Harrison na guitarra, que acabou sendo excluída na versão oficial.
DISC 6
demos caseiras e de estúdio
Destaques:
LOVE - harmonia diferente na parte B, demo caseira, com tremolo
WELL WELL WELL - demo caseira acústica, sem a gritaria
INSTANT KARMA - com a guitarra de Harrison e Alan White definindo as rodadas de bateria
DISC 7
jams, covers, demos, a maioria feita de forma bem avacalhada
AIN'T THAT A SHAME - no final John brinca falando "Cookie!", imitando um "monstro" do seriado infantil Vila Sésamo (na versão oficial do disco ele fala isso no solo de Hold On, mas só agora fui descobrir esse detalhe que eu nunca entendia rsrs parece que ele assistia bastante pois fala isso em outras demos desse disco)
LOST JOHN canção de Lonnie Donegan, que popularizou o skiffle na Inglaterra em meados da década de 50, levando milhares de garotos a comprarem violões, entre eles os jovens Beatles. John fica repetindo a primeira estrofe e o refrão, parece que esquentando a voz para gravar.
I DON'T WANT TO BE A SOLDIER MAMA, I DON'T WANNA DIE música sairia no disco seguinte, Imagine
DISC 8
mixagens cruas de out-takes
Destaque:
MOTHER - com violão em vez de piano, parece ter sido a mais gravada para o disco, esse é o take 91!
Criei uma playlist no Spotify chamada "POBTUC Destaques" (do disco 2 ao 8 ) caso alguém queira conferir, uma boa introdução de 1:30h para quem não quiser encarar as 7:30h de material rsrs 
 
 
 
Quem não for assim tão beatlemaniaco vá direto ao disco 1 e procure saber o que está sendo cantado nesse disco histórico, filosófico e minimalista.
Último comentário: podiam ter dividido o disco 7 em 2, aí seriam 9 discos ao todo - Lennon aprovaria com entusiasmo rsrs
I just gotta tell you goodbye!