Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

Eldorado Subterrâneo da Canção



 
Há bastante tempo meu parceiro Pablo Castro aventava a ideia de criar uma série de análises - agudas e holísticas, mas não herméticas ou pesadas - de canções de lavra recente, especialmente aquelas compostas por cantautores nossos contemporâne@s da cena mineira que por 'n' razões - que poderão até vir a ser debatidas por aqui - permanecem ainda alheias dos ouvidos de uma parte substancial do público, certamente sem merecer tal destino. Convencionou denominar esse enorme estoque da produção criativa apartada das ondas mais pujantes dos meios massivos de "eldorado subterrâneo da canção". Considerando tal iniciativa mais que urgente e necessária, além de reconhecer nela a correspondência direta com minhas preocupações com o entendimento da música popular como patrimônio cultural, já estava o blog de antenas atentas para a primeira extração de textos trouxesse os tesouros do subsolo às orelhas e olhos de seus leitores.
 L.H. Garcia


Depois de durante algum tempo fazer resenhas e louvações aos mestres da MPB, aos nossos pais musicais, decidi partir para um leva de pequenas análises de canções dos nossos pares contemporâneos, principalmente os mineiros, porque acho que é um papel importante que alguém deveria fazer, e na falta de críticos musicais de nossa geração, nós mesmos é que temos que pegar o boi pelo chifre.
A música brasileira sobrevive, ainda que a custa de aparelhos .
Pra mim, trata-se de uma missão de vida, algo difícil de explicar dada a dificuldade que eu mesmo tenho de seguir na carreira.
Mas não vejo outro sentido na minha vida que não seja militar por essa causa.

Pablo Castro


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