Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

26 de fevereiro de 2015

Disciplina optativa - Patrimônio urbano e Música popular

Este semestre estou ofertando novamente a disciplina optativa "Patrimônio urbano e música popular" [TOPICOS EM PATRIMONIO HISTORICO D - código ECI 126] para a graduação, às quintas-feiras de 7:30-11:20. A proposta é refletir sobre as formas de pensar, preservar e difundir o patrimônio, considerando o alargamento dessa noção e a redefinição de seu sentido social, reconhecer e compreender narrativas plurais e públicos diversos, criadores de sentidos e participantes ativos na construção desse patrimônio redefinido que inclui a música popular, investigar como os museus, as práticas e as políticas de patrimônio são afetados por fluxos que conformam o espaço e o tempo, como a conversão da cultura em mercadoria. Nestas confluências pretendo refletir sobre as relações entre música popular, museu e sociedade no mundo contemporâneo.

A disciplina se beneficia dos resultados recentes dos projetos de pesquisa que venho conduzindo e apresentando em eventos importantes como o Congresso da seção latinoamericana da IASPM (associação internacional para estudo da música popular), ano passado em Salvador, e do meu envolvimento no projeto de estruturação da futura sede física do Museu Clube da Esquina - Centro de Referência da Música de Minas. 






Conteúdo Programático:
Unidade I Museu e patrimônio urbano na cidade
Conceito de patrimônio urbano; Patrimônio, cultura e cidade; Em torno do conceito de “lugar”

Unidade II A música popular e os sentidos dos lugares
A música popular: conceito e história; Sentidos e lugares: sociabilidades e formas de apropriação

Unidade III Narrativas plurais, identidades e políticas de memória
A construção de identidades e narrativas; As políticas de memória; museus e intervenções museais associadas à música popular.

Referências bibliográficas:
ARANTES, Antônio (org.) O espaço da diferença. Campinas: Papirus, 2000.
BORGES, Márcio. Os sonhos não envelhecem: histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial, 1996.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes do fazer. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
ALDERMAN, Writing on the Graceland wall: on the importance of authorship in pilgrimage landscapes. Tourism Recreation Research, 2002, pp.27–33.
BENNETT, Andy. ‘‘Heritage rock’’: Rock music, representation and heritage discourse.
Poetics , Elsevier, n.37, 2009, pp. 474–489.
ARANTES, Antonio A. A guerra dos lugares. Cidade. Revista do patrimônio Histórico e Artístico Nacional, n.23. Rio de Janeiro: IPHAN, p.191-203, 1994.
COHEN, Sarah. Identity, place and the ‘Liverpool sound’. In: STOKES, Martin (edit.). Ethnicity, identity and music: the musical construction of place. Oxford: Berg Publishers, 1994, pp.117-135.
COHEN, Sara. “Rock Landmark at Risk”: Popular Music, Urban Regeneration, and the Built Urban Environment. Journal of Popular Music Studies.  Blackwell Publishing Ltd. Volume 19, Issue 1, pages 3–25, April 2007.
DIAS, Ana Cristina C. O museu e a cidade convergências e desencontros. Cadernos de Sociomuseologia. Centro de Estudos de Sociomuseologia, 8, Jun. 2009. . Acesso em: 23 Fev. 2012.
GARCIA, Luiz Henrique Assis. Em meus olhos e ouvidos: música popular, deslocamento no espaço urbano e a produção de sentidos em lugares dos Beatles. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 2011, vol.24, n.47, pp. 99-118.
GARCIA, Luiz Henrique Assis. Canções Feitas na Esquina do Mundo: música popular e trocas culturais na metrópole através da obra do Clube da Esquina. Revista Brasileira de Estudos da Canção n.2, jul-dez 2012, pp.40-61.
KRUSE II, Robert J. The Beatles as Place Makers: Narrated Landscapes in Liverpool, England. Journal of Cultural Geography, spring/summer, n 22.2, 2005, pp. 87-114.
MAGNANI, José Guilherme Cantor. De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 17, n. 49, p. 11-29, 2002.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. O museu na cidade x a cidade no museu. Para uma abordagem histórica dos museus de cidade. Revista Brasileira de História, Rio de Janeiro, v. 5, n. 8/9, pp. 197-205, 1985.
MUSEU CLUBE DA ESQUINA. Guia de Belo Horizonte: roteiro Clube da Esquina. Belo Horizonte: Associação dos Amigos do Museu Clube da Esquina, 2006.
SANTOS, Maria Célia M. Uma abordagem museológica do contexto urbano. Cadernos de Sociomuseologia Centro de Estudos de Sociomuseologia, ULHT, 5, Jun. 2009, pp. 35-57.
STOKES, Martin. Introduction. In: STOKES, Martin (edit.). Ethnicity, identity and music: the musical construction of place. Oxford: Berg Publishers, 1994, pp.1-27.
 

16 de fevereiro de 2015

Bolacha completa de carnaval - Caça à raposa (1975)

(extrato de Bosco + Blanc)
Glória aos piratas
tá lá um corpo estendido no chão
no dedo, um falso brilhante
tu era da minha laia
matou o amigo de ala
não sabe com quem está falando
tapuias, go home!
não adiantou nada
ah, recomeçar como a paixão e o fogo
um pega na geral
da terça de carnaval






Caça à raposa (1975) talvez seja o produto mais bem acabado da parceria entre João Bosco e Aldir Blanc, arrolando canções tão bem sucedidas - especialmente as alçadas ao céu da boca de Elis Regina - que um desavisado poderia confundir com uma coletânea o que é um disco de estúdio (seu 2°). Para aumentar ainda mais a cotação da bolacha, um time de instrumentistas fenomenais que inclui Dino "sete cordas", Neco no cavaquinho, Toninho Horta e Hélio Belmiro revezando nas guitarras, Luizão no baixo, Paschoal Meirelles na bateria, Doutor, Chico Batera, e além de tocar piano, arranjando e regendo, César Camargo Mariano. Cada canção e cada detalhe desse disco merecem comentários, análises, apreciações, pareceres, mas como é carnaval, façamos a festa!

 

9 de fevereiro de 2015

1a c/ a 7a O homem que engarrafava nuvens

Numa manhã daquelas preguiçosas entre os dias das festas nos últimos dias de 2014 assisti junto com a família esse belo documentário sobre a vida de Humberto Teixeira, O homem que engarrafava sonhos, dirigido por Lírio Ferreira e com grande envolvimento da filha do compositor, a atriz Denise Dumond. Recheado com depoimentos de figuras centrais na história da cultura brasileira e gente próxima com história pra contar, inserções de imagens e áudios preciosos, e as canções que acionam nossa memória afetiva, tendo povoado nossa audição desde tempos que parecem ser imemoriais, o documentário vale uma conferida.