Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

13 de junho de 2015

Saudade dos aviões: homenagem a Fernando Brant

Mal sei como começar esse texto, de tal forma me afeta a notícia da perda de Fernando Brant. Se confundem o sentimento do admirador, o conhecimento do pesquisador, a reverência do letrista que existem em mim. Como não perguntar, agora, "Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?". Como não sentir essa atmosfera entre o sonho e a vigília, esse gosto vidro e corte, sabor de chocolate... Na verdade, eu nem quero saber se foi bebedeira louca ou lucidez ... Não era recorrente a invenção formal e eventualmente uma apreciação geral da obra de Fernando Brant irá associá-lo à tradição, a temas profundos e até atávicos. Mas vale lembrar que escreveu muito bem sobre o corriqueiro, o cotidiano, as tensões da modernidade. Pelo menos por hoje fica a sensação de que outros outubros não virão. Sejamos sentinelas. O som das canções do Fernando irá ecoar e atravessar essa hora, e vai continuar por anos a fio, encantando e marcando a todos nós.

Decidi recuperar um trecho da minha dissertação que trata especialmente de uma das mais engenhosas canções do Clube da Esquina, Saudade dos Aviões da Panair, cuja letra tem múltiplos predicados. Foi dela, ainda, que eu viria a tirar o título para a última exposição que planejei à frente do Setor de pesquisa do Museu Histórico Abílio Barreto, nove anos depois da defesa. Quis o destino que eu não chegasse a completar o trabalho. Mantive aqui o formato do texto como está lá, inclusive com notas de rodapé, e na grafia antiga. Esse trecho foi desenvolvido enquanto eu cursava uma certa disciplina na pós, na qual tornou-se questão de honra pra mim enfrentar uma perspectiva reducionista, reproduzida inclusive por quem a lecionava, de sempre associar a relação do Clube com o passado pela chave da nostalgia. Enquanto escrevo essas palavras me dou conta do tanto que esse embate intelectual foi importante, não só no âmbito da dissertação. Agora recobre-se de outro sentido, na medida em que figura como um tributo reverente da minha parte para com esse formidável compositor.


Na literatura do período mais negro da repressão e da censura, contudo, aparece uma caracterização diametralmente oposta do bar. No romance Os novos(1971), de Luis Vilela, um grupo de jovens intelectualizados vive discussões políticas e culturais inúteis, que a nada levam, pelos bares de Belo Horizonte[1]. Se, nos anos 60, podemos facilmente identificar a imagem do bar como local do debate fértil, das discussões a altos brados, do ambiente de alegria e subversão, o início da década seguinte já o apresenta como reduto de impotentes, das palavras e copos vazios. A gravidade do controle exercido pelo autoritarismo sobre a atividade criativa e a livre expressão de idéias fazia do bar um “lugar” a perigo. É neste contexto que inserimos a canção Saudade dos aviões da Panair (Conversando no bar), de Milton Nascimento e Fernando Brant:

“(...)e aquela mancha e a fala oculta/que no fundo do quintal/
 morreu/morri a cada dia/ dos dias que vivi/
cerveja que tomo hoje é/apenas em memória/dos tempos da Panair
a primeira coca-cola foi/ me lembro bem agora/nas asas da Panair
a maior das maravilhas foi/ voando sobre o mundo/nas asas da Panair
Nada de novo existe neste planeta/que não se fale aqui na mesa de bar(...)
em volta dessa mesa velhos e moços/lembrando o que já foi
em volta dessa mesa existem outras/ falando tão igual
em volta dessas mesas existe a rua/vivendo seu normal
em volta dessa rua uma cidade/ sonhando seus metais
em volta da cidade, la iá la iá...”[2]

Se o presente não merece comemoração, tão pouco se deixa de tomar cerveja (ou coca-cola), como tão pouco se deve deixar de conversar na mesa de bar sobre o que quer que seja. Um tempo de mais liberdade (idéia reforçada pela figura do avião e pelo desempenho musical, pontuado de improvisos) torna recuperável esta mesma liberdade, o espaço para muitas vozes. O “coro solista” de certa forma ajuda a produzir um quadro sonoro dessa liberdade proveniente da embriaguez. Embriaguez que está musicalmente representada pela alternância dos motivos rítmicos e melódicos na estrutura da canção. O tom solene da primeira parte – “(...) e lá vai menino, no sobe desce ladeira(...)” - lenta como uma marcha fúnebre, contrapõe-se à segunda, mais sincopada, acentuando as divisões silábicas: “(...) a primeira co-ca-co-la-foi-me lembro bem - a-go-ra (...)”. A conclusão, por sua vez, apresenta um terceiro motivo, com a força do coro – as pessoas sentadas ao bar – entoando um canto épico, um hino afirmativo e festivo que procura reproduzir o ambiente das rodas de bar. Mas ainda há uma outra virada, um surpreendente improviso final. Essa energia lúdica percorre toda a canção, e mesmo todo o LP Minas, nas súbitas aparições do coro infantil de Paula e Bebeto, outra canção do disco, inserido por um canal em várias das faixas.
Trata-se de uma canção sobre a memória. O sujeito narrativo lembra-se de sensações (voar), sabores (“coca-cola”, “podre delícia”) e da própria infância. Entretanto, não podemos reduzir esta operação a um acesso nostálgico. O forte contraste presente X passado, metonimizado em sensações opostas – o doce da “coca-cola” e da “delícia” contra o amargo da “cerveja”[3] – opera como fonte crítica, reafirmando o espaço do bar como “lugar” de recordação, mas também de discussão - “(...) nada de novo (...)”, posicionado numa dimensão de localidade dentro de uma escala da vida social (coro final descrevendo um crescente de círculos concêntricos: “mesa”, “rua”, “cidade”). Este efeito de mudança de escala leva à inferência de que a crítica, possível no micro, também pode se realizar no macro. E, numa imagem complementar a esta, a figura da criança evoca simultaneamente um tempo de estímulo, de prazer, e sua energia crítica e questionadora: “(...) e lá vai menino xingando padre e pedra (...)”. O menino, aqui, é a corporificação da rebeldia em seu mais alto grau, travessamente desafiadora, desrespeitando forças que lhe são superiores. Esta imagem esteve presente na poética do Clube em diversos momentos, de Pablo – “(...)incêndio nos cabelos/pó de nuvem nos sapatos(...)”[4] a Léo“(...)um bicho na toca e o perigo por perto/uma pedra, um punhal/ um olho desperto e um olho vazado(...)”[5]. O tema da memória, ainda que abordado de diferentes formas, tornou-se um ponto estratégico, objeto de luta para aquele que, sob a baioneta da censura, procurava evitar de todas as formas o esquecimento e afirmar as possibilidades de subversão da ordem. Mais um embate, o de tomar da publicidade(fortemente identificada ao “milagre” econômico que o regime se orgulhava de ter operado) seus recursos mnemônicos (“nas asas da Panair”, mote da empresa americana de aviação atualmente extinta [Um reparo que me escapuliu à época, a Panair era uma empresa brasileira.] ), transformando um enunciado concebido como efêmero anúncio comercial em chave para acionar o sobrevôo crítico sobre o passado.


[1] Para FRANCO, este romance se insere num momento literário que ele denomina “cultura da derrota”, que expressa a impotência política e a paralela preocupação estética da geração de escritores dos anos 70. FRANCO, Renato. Itinerário político do romance pós-64: A Festa. São Paulo: Editora Unesp, 1998, pp. 81-83.
[2] LP Minas. Rio de Janeiro: EMI, 1975.
[3] Amargo que não se limita a um recurso literário, pois a bebida realmente integrava o cotidiano do grupo. Durante um show no Museu de Arte Moderna do Rio, em 72, Milton estatelou-se no palco, completamente embriagado. Fredera, guitarrista do Som Imaginário, com muita presença de espírito acalmou a platéia, atribuindo o porre à opressão causada por oito anos de ditadura! Ver BORGES, Márcio. op. cit. , pp. 264-266.
[4] Pablo. Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. LP Milagre dos Peixes. Rio de Janeiro: EMI, 1973.
[5] Léo. Milton Nascimento e Chico Buarque. LP Clube da Esquina 2. Rio de Janeiro: EMI, 1978.

7 de junho de 2015

Paulo Moura na Mangueira


Paulo Moura - short film 35 mm - by Paulo Martins from Paulo Martins on Vimeo.



Legenda do vídeo:
Filmado no Morro da Mangueira, RJ; o saxofonista, clarinetista, maestro e arranjador Paulo Moura conta fatos da sua vida e apresenta algumas músicas.

Apresentado no V Festival Internacional de Curtas, SP, 1994
4 semanas em cartaz no Cine Veneza, RJ, em complemento do longa metragem The Art of Love, Arthur Rubinstein, de François Reichenbach.

Produzido por: Flávio Tambellini
Fotografia e direção: Paulo Martins


Música:
Diálogos, Vigor e Bicho Papão (Paulo Moura); Moto Perpétuo (Paganini) ; Fantasias (Villa-Lobos); As rosas não falam (Cartola).
 

3 de junho de 2015

Pano preto sobre as placas

A proposta do campo intitulado “Pano preto” surgiu em meio a reflexões e discussões em reuniões sobre a eficácia das placas e nossas constatações a respeito da atenção que os citadinos dão a elas. A ideia de cobrirmos as placas com um tecido preto era chamar a atenção das pessoas que passam despercebidas por elas. 

Nosso objetivo seria então analisar as diferentes reações que a intervenção causa e conseqüentemente criarmos situações com a possibilidade de diálogos mais direcionados sobre o tema referente às placas. 

Placas demarcam, registram e musealizam os cenários urbanos que fazem parte da trajetória do Clube da Esquina e trazem para debate as experiências museológicas que ampliam o campo de atuação dos museus, seja na cidade ou em meios virtuais. As transformações ocorridas na noção de museu a partir da década de 70 apontam para ideias de Museus Território e para uma relação mais intensa de proximidade entre museus e a comunidade. 

O primeiro campo, de caráter experimental, aconteceu no dia 20 de maio, uma terça-feira, no Edifício Levy. A metodologia dos outros campos foi adaptada para o “Pano Preto” com um roteiro pré-estabelecido - após a colocação do pano ficávamos em observação em torno de 40-60 minutos tomando nota das reações dos citadinos. Após o período em observação nos aproximávamos das placas na tentativa de abordar quem demonstrasse algum interesse/curiosidade e estivesse disposto a conversar – neste momento, em alguns casos, poderíamos recorrer ao material de campo (pasta com trechos de músicas+fotos e o gravador de áudio). 

O roteiro de perguntas era baseado nas impressões que os citadinos tiveram ao ver o pano cobrindo a placa; se sabiam da existência da mesma; porém com o tempo acabamos por incorporar as perguntas que norteavam os outros campos.

Uma curiosidade que constatamos neste trabalho de campo é que a placa do Edifício Levy é um tanto alta. No campo anterior (dia 15 de maio de 2014), observamos que este poderia ser um fator que dificultasse a visão das pessoas, pois a mesma se encontra muito acima da altura dos olhos, sendo assim, mais um fator que contribui para que não seja notada. (foto 1). 

É importante lembrar que enfrentamos algumas dificuldades que quase não nos permitiram concluir a atividade. No edifício Maletta a equipe se dirigiu à administração para informar-lhes sobre nossa proposta, a fim de evitar uma situação como a ocorrida no Levy em que certo dia uma moradora retirou o pano de forma brusca, pensando que teria algo haver com as manifestações da Copa do Mundo 2014. 

Naquele local houve também interferências dos zeladores do prédio, já que não conseguimos (apesar de inúmeras tentativas) contato previamente com o síndico ou outro responsável. Fizemos uma quantidade considerável destes campos, intercalando os horários e dias da semana, com intuito de abarcar a maior variedade de citadinos, tanto no centro (nos edifícios Levy e Maletta) quanto na esquina no bairro Santa Tereza. 

Consideramos que foi uma experiência interessante que contribuiu para a constatação do caráter ordinário das placas. Os passantes em geral não têm familiaridade com a placa, principalmente nos edifícios Levy e Maletta. 

É interessante observar a reação das pessoas que estão mais próximas às placas, como vizinhos, moradores dos edifícios e funcionários do comércio ao redor, que geralmente são os que percebem nossa presença em campo. É relevante refletir sobre essas observações uma vez que elas apontam para construções de sentido diversas, tanto para a esquina quanto para o bairro de Santa Tereza, considerando a noção de museu, de cultura e de história. 

É pela significação dada à esquina do Clube que podemos intuir que a valorização do patrimônio urbano via musealização pode evidenciar os significados construídos pela sociedade para os museus. 

Nesse sentido é importante tentar apreender o que os citadinos almejam ao ver uma placa em uma esquina com a inscrição “Museu Clube da Esquina”. O que esperam encontrar e o que compreendem sobre museu? Ainda em constante transformação, estas ideias gradativamente começam a ser implantadas em diferentes museus do Brasil. O significado da esquina do Clube poderá sofrer outras transformações com a implantação da sede física do Museu Clube da Esquina. Conectada a lugares específicos da cidade, poderá intensificar as relações entre a história do Clube, a cidade de Belo Horizonte e seus habitantes, contribuindo para a ampliação dos significados construídos para os museus e para as suas possibilidades de atuação no espaço urbano. 

O Clube da Esquina e seus Cruzamentos Culturais.

A formação do Clube da Esquina tem um caráter fluido, do cotidiano, da amizade e a partir daí surgem as parcerias musicais que darão origem a diversas canções emblemáticas no cenário musical brasileiro e mundial. A identidade do Clube é fruto dessa coletividade, dessa convivência desinteressada. É isso que traz a inovação, confluência de ritmos, de saberes, de culturas, para a produção do grupo. 

Considera-se que as músicas do Clube revolucionaram a MPB ao lidarem, com naturalidade, com a mistura de elementos nacionais, regionais e internacionais em suas composições, graças a modernidade que rompeu com a barreira do tempo-espaço e permitiu a circulação de uma grande quantidade de informação e cultura. Grande parte dessa variedade é resultado das diversas influências sofridas por cada um desses músicos. 

Em depoimento para o museu online do Clube da Esquina, Toninho Horta diz que “Essa é a energia que me dá pra chegar aos 55 e tocar o Clube da Esquina de uma forma meio rock and roll, que também é uma parte da formação da gente que não dá pra negar. No princípio, eu falava que os roqueiros eram o Lô e o Beto, porque eu era bossa-nova, sofisticado, jazzista. Mas, no fim, todos nós absorvemos todas essas culturas.”

Enquanto Milton trazia o jazz, a musicalidade afro, Lô Borges e Beto Guedes traziam a irreverência dos reis do iê-iê-iê. Além da importância da Bossa Nova e da musicalidade do interior que Bituca (apelido de Milton Nascimento) e Wagner Tiso trouxeram de Três Pontas, houve mais inúmeras influências que passam pelo congado e vão até a música orquestrada, passando pelos ritmos latinos. 

Dessa forma, não podemos separar os membros do Clube entre populares e eruditos, considerando-os a própria ponte entre diferentes culturas, sendo que “num mesmo espaço, estão elementos distintos de formação letrada (institucionalmente ou não) e de formação prioritariamente popular.” (OLIVEIRA, 2006, p.100). 

Apesar disso, buscam uma sonoridade própria, não deixando de ser “Esse depositário da cultura popular,composto por vozes, histórias, valores, e diversos outros elementos, que foi o que legitimou os integrantes do Clube da Esquina a compor seu projeto estético de uma identidade coesa, que soasse mais íntegra que as opções "oficiais".” (COELHO, 2010, p.58).

O Clube da Esquina representa um movimento de síntese da música brasileira, tornando-se referencia para uma enorme gama de músicos que vieram posteriormente. Para VILELA os membros do Clube da Esquina ressuscitaram o espaço da MPB quando conseguiram incorporar diversos elementos de movimentos anteriores.

Segundo Canclini, esses cruzamentos culturais acabam provocando uma reestruturação radical dos vínculos entre o tradicional e o moderno; o popular e o culto; o local e o estrangeiro; e os membros do Clube querem, justamente, descobrir formas comuns entre esses antônimos a fim de provocarem uma aproximação. 

Garcia afirma que, no caso ao qual nos referimos, “essa convivência [entre o local e o global, o tradicional e o moderno] torna-se possível no próprio espaço da cidade, na medida em que este viabilizou o encontro da música com trajetórias de vida e formação musical diversa.”. (GARCIA, 2012, p.54). 

Com a presença da música sacra, além de elementos religiosos nas letras, e através da presença da musicalidade afro – resultado da forte presença negra no estado, devido à escravidão nas minas – percebemos a identidade das Minas como elemento de destaque nas criações do Clube. 

Maria Arminda do Nascimento Arruda fala sobre a formação da mineiridade que “no destemor, porém suave, elabora-se a personalidade básica dos mineiros, fruto da combinação permanente da impetuosidade na temperança, da força na serenidade, da harmonia na desorganização "O tempo mítico é abstrato e a-histórico exatamente por confundir presente, passado e futuro. [...] O mito, ao parar o tempo, promove a identidade abstrata dos homens e os memorialistas repousam nas imagens formadas nas visões do passado, de onde sorvem os seus princípios identificadores.” (ARRUDA, 1990, p.98, 211) 

A mineiridade pode ser definida e discutida em inúmeros aspectos, sendo as Minas entendida como o local da tradição, ao mesmo tempo em que o da liberdade, lugar da religiosidade, do “come quieto”. Para COELHO, “Alguns mitos arraigados sobre Minas Gerais, entretanto, tratam da perspectiva oposta: de uma tendência que seria inerente ao mineiro para a ‘trama’ e a ‘conspiração’”. 

Brant diz que é mais fácil revolucionar na música do que na sociedade mineira. Sobre isso Lima defende que “Nessa concepção, o mineiro é pensado como um rebelde, um ser individualista que conspira em benefício próprio, o que, por sinal, entra em contradição com outro mito do estado, onde a missão dos mineiros é “a de ficardes fiéis à filosofia mineira de vida. E um dos postulados é o respeito ao passado, a fidelidade aos pontos fundamentais, às linhas de força de vossa tradição" (LIMA, 1945, p.45 APUD COELHO, 2010, p.33).” 

Minas é entendido como o lugar da tradição e do progresso, ao mesmo tempo, e Belo Horizonte é o exemplo mais claro disso. A atual capital foi construída segundo os ideais da modernidade, porém, encontra-se os traços da cultura tradicional do antigo Curral del Rey. A poucos quilômetros está Ouro Preto, a antiga capital, sendo símbolo de preservação, da tradição, da identidade das Minas. Da mesma forma, a música do Clube carrega essa dualidade de conter, ao mesmo tempo, elementos do moderno e do tradicional. 

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