Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

29 de setembro de 2011

Roque em Rio

Hoje me dei conta que o assunto da hora é esse tal de "roque em rio". Tô aqui pensando numa abordagem cultural quando me lembro de uma grande sacada do antropólogo Marshall Sahlins - entre tantas - a do "signo em aposta". Vejo na internet muitas tentativas de definir o que é ou não é o Rock in Rio, o rock, o pop, o axé... discursos convergem e divergem ao misturar o gênero musical, o aspecto comportamental, os trânsitos culturais, os gostos, as identidades. O rock, um gênero nascido e criado híbrido, mulato americano que ganhou o mundo, de repente passa a ser interpretado como uma tradição, cujos guardiões aparecem para defender sua suposta pureza. Os festivais, que com uma ou outra exceção, sempre foram comerciais, de repente devem recuperar sua "autenticidade". Ao mesmo tempo, nos vemos como país encarando, de um ângulo novo, o velho dilema entre o lá e o cá, entre a submissão reconhecida e a criatividade e autonomia que celebramos por vezes numa eufórica melancolia, ou seria melancólica euforia... Oscilamos, arrisco, entre a ideia subalterna de que somos por alguns instantes alçados a uma condição que não é nossa ao sediar um evento que representa o supra-sumo do espetáculo, maná das massas que cai do céu cultural do norte "in" Rio, o rock vem ao Rio como que ali ainda não estivesse, e a outra ideia, expressão mais multifacetada, o Roque em Rio, que demonstra, ainda que seja de modo oblíquo, que já se fez do rock outras coisas, e que o próprio não se deixa reduzir (mesmo que o jogo de forças seja desigual) à redundância almejada pelos aficcionados, muito mais que pelas massas. Por exemplo...

26 de setembro de 2011

Show Pablo Castro – Projeto Songbook

"Caetano é figura central na cultura brasileira, difícil exagerar sua importância. Agora, o que mais nos interessa é seu cancioneiro, que é uma vasta obra em que reluzem a poesia urbana icônica irônica com uma música que se apropria de várias dicções cancionais , em variados graus de sofisticação/simplicidade, que vão no sentido da revelação de verdades ocultas ... ou não !Interessante também notar as várias fases dele como compositor ; antes do Tropicalismo, ele lançou o disco Domingo (67), posteriormente desprezado pelo próprio autor, caracterizando-o como sub-bossa-nova, o que me parece injusto, porquanto há ali um barroquismo melódico hamônico que ainda vai estar presente na fase tropicalista , em canções como Clara, Paisagem Útil, etc ..." (Pablo Castro)
Show Pablo Castro – Projeto Songbook
terça, 27 de setembro · 21:00 - 21:30
Mezanino da Livraria da Travessa
R. Pernambuco, 1286 – Savassi, 2º andar
Belo Horizonte
Terça-feira tem projeto Songbook, dessa vez sobre a obra de Caetano Veloso, com a ajuda luxuosa de Yuri Vellasco (bateria) e Paulim Sartori (contrabaixo), na Travessa, a partir das 21h.

23 de setembro de 2011

Quando sair setembro....

Pois é, mês de setembro muito trabalho, viagem a trabalho e blog parado...mas pra compensar outros outubros virão...
Enquanto isso umas postagem "de ocasião" pra compensar...
Projeto multimídia da Philips em que se consegue ouvir em destaque cada instrumento da orquestra:
E já que é setembro, e primavera...Duas canções que tratam do tema, explorando, cada qual a seu modo, as conotações poéticas e políticas dessa estação.
Pra encerrar, uma música com cara de primavera também, numa versão sensacional. Aproveitem!

2 de setembro de 2011

Uma leva a outra

Um experimento para ser utilizado nas aulas de música popular e colecionismo. O objetivo é constituir uma coleção com gravações que são organizadas em lista a partir do critério de que cada faixa tenha alguma conexão mais ou menos explicita com a seguinte. Quem quiser pode tentar advinhar as ligações...