Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

26 de junho de 2011

Crítica precoce

Não resisto. Comentário da minha filha de 9 anos sobre a Lady GaGa:
- Por que você não gosta da Lady GaGa?
(ela) Eu acho que é plágio?
- De quem?
(ela) Ah, num sei, mas é porque não tem cara de ser dela...

18 de junho de 2011

Acervos digitais

Vale uma conferida. A obra digitalizada de Chico Buarque no site do Instituto Antonio Carlos Jobim. São 1.044 imagens, 7.916 letras e partituras e 26.152 textos, entre cadernos, documentos pessoais, reportagens de imprensa, roteiros para cinema e teatro, correspondências. Agora, segundo a Folha, "a digitalização custou R$ 200 mil e foi bancada pela Vale com uso da Lei Rouanet".
Se foi pela Lei, quem bancou fomos nós. Mas, enfim, o negócio agora é mergulhar no acervo.

14 de junho de 2011

A história do instrumento mais popular da MPB

De viola a violão
Livro de pesquisadora carioca revela detalhes sobre a história do instrumento mais popular da MPB, da sua chegada ao Brasil até as primeiras décadas do XX
Alice Melo
13/6/2011
Um trecho do texto publicado na Revista de História da Biblioteca Nacional:
Quando chegou ao Brasil, ele se chamava viola. O tempo passou, seu corpo aumentou, ganhou as seis cordas. O violão, como ficou conhecido, já foi visto como instrumento de malandro, mas, durante a década de 1920, passou a ser reivindicado como um elemento inerente à identidade nacional, sentimento que se reforçou no fim dos anos 1950, com a bossa nova. “É preconceito supor-se que todo o homem que toca violão é um desclassificado. A modinha é a mais genuína expressão da poesia nacional e o violão é o instrumento que ela pede”, já dizia Lima Barreto pela voz do personagem Policarpo Quaresma, em “Triste fim de Policarpo Quaresma”, publicado pela primeira vez em 1911.

1 de junho de 2011

44 anos atrás hoje

Escrever sobre o Sgt. Pepper's é quase tão bom quanto ouvi-lo.
"O estúdio torna-se um novo instrumento que permite alterar de diversas formas o som gravado: o corte, a sobreposição, a distorção, a alteração da velocidade da fita, a inserção de outros sons como recurso de citação (e não a citação composicional) aproximam a gravação das técnicas cinematográficas . Neste sentido, George Martin foi sem dúvida o Einsenstein da música popular". (GARCIA, 2000)

A feira (Pablo Castro/Luiz H Garcia) por Lívia Lucas

Lívia Lucas cantando A Feira (letra minha e música do Pablo Castro) ao vivo no Carioca da Gema 27/01/2010. Ontem vi o vídeo e deu vontade de postar. Né por nada não mas essa música aí... Mas por aqui tem que dar uma elaborada porque é um blog de crítica e não de autopromoção, rsrsrsrs. Vamos lá. Essa canção é especial pra mim em muitos sentidos, desde seu surgimento. Pesquisando e praticando, posso garantir que não tem fórmula pronta pra composição. Essa teve uma coisa que acho incrível, que de vez em quando acontece na minha parceria com o Pablo, que foi eu ter feito a letra antes de ouvir a música, mas como se já tivesse destino. Quando ele tocou a primeira vez pra mim, ouvi e soube na hora que tinha que ser A feira, que até então era uma espécie de poema. A parceria proporciona, na música popular, esse tipo de interação "misteriosa". Claro que ainda viria todo um tempo para burilar, mas tudo veio como consequência desse encontro inicial.