Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

29 de abril de 2013

A última ronda

Faleceu mais uma dessas figuras ímpares que o Brasil é capaz de produzir: o compositor e zoólogo Paulo Vanzolini. Que as gerações saibam apreciar a criação do cientista e do músico. Um sujeito de franqueza, um nome de moral. Para homenageá-lo, segue essa instigante entrevista com o provocador Abujamra!

28 de abril de 2013

Sabe essa? O repertório de jazz em ação (Na estante especial)

Absolutamente fascinante a leitura de El jazz en acción (edição em espanhol de "Do you know...? The jazz repertoire in action" 2009, + infos. da editora aqui) do renomado Howard S. Becker (piano) e do também bem credenciado Robert R. Faulkner (trumpete), ambos acadêmicos e jazzistas com décadas de atuação nos palcos da vida. Nada melhor para reativar a coluna "Na estante" em edição especial, imaginando uma série de postagens com trechos do livro, comentários, e, obviamente, muito jazz. 
O texto flui como um disco de vinil cujos sulcos são profundos e deixam passar suavemente o cristal da agulha sem que a rotação tenha qualquer alteração, e dessa forma o tempo passa num outro ritmo enquanto o leitor se deixa ficar envolto na atmosfera dos clubes noturnos, no embalo das ondas do rádio, nas paisagens sonoras pintadas com habilidade de dois conhecedores do ofício, que combinam suas próprias experiências com as que recolheram através de entrevistas com 50 músicos. De quebra, seguramente uma fonte para enriquecer o repertório dos leitores, dada a quantidade espantosa de referências que surge com imensa naturalidade. É como se estivéssemos sentados com os autores em uma mesa de bar, ou então como se acompanhássemos, de camarote, intermináveis jam sessions e virtuosos improvisos.  O grande defeito desse livro é não ter sido publicado 10 anos antes, quando teria me influenciado decisivamente na escrita da dissertação (risos). De fato eu conhecia o Art Worlds do Becker, mas aqui encontrei concatenadas e expressas de uma forma brilhante várias percepções que me ocorreram sobre como os músicos populares fazem música mas que não tive como expressar para além de algumas mal traçadas linhas. Esse livro, que espero seja em algum momento publicado no Brasil, já nasceu indispensável para quem se interessa por música popular, e, evidentemente, jazz. Mas, igualmente, para cientistas sociais, historiadores, ensaistas e críticos que terão aqui a possibilidade de ser atingidos em cheio por seus inúmeros "insights" metodológicos. É por essas virtudes todas que o livro será debatido em seções quinzenais do Centro de Convergência de Novas Mídias, grupo de pesquisa da UFMG do qual faço parte.
Uma passagem que particularmente me interessa, no contexto em que discute as diferentes formas de apreensão do repertório por parte dos músicos, diz assim:

A música gravada, bem como a música impressa, permite conservar os temas e recuperá-los. Enquanto o objeto físico  (partitura ou gravação)  segue existindo, um músico empreendedor poderia encontrar o tema, aprendê-lo, tocá-lo e ensiná-lo a outros. Assim conservada, sempre pode entrar no repertório vivo dos outros. 

A tradição portanto adquire sentido na medida em que é apropriada, usada, e obviamente, modificada por novas performances, novos arranjos, novas interpretações. A cultura faz das coisas sempre outras coisas, e o que está conservado ao circular ganha sentido e se transforma, necessariamente deixando um estado "estático", "morto", para ser posto em movimento. Me ocorreu imediatamente a forma como nos aproximamos de repertórios e artistas a partir da forma como estão reapropriados numa obra que já é nossa conhecida. Teria aqui exemplos mil. Mas parei os olhos na menção que Becker faz à canção "Memphis in June" de Hoagy Carmichael, cantautor que conheci primeiro graças à primorosa versão de George Harrison para a sua Baltimore Oriel, com letra preciosa de Paul Francis Webster. 


Memphis in June 


Baltimore Oriel, interpretada por Barbara Lea 


Baltimore Oriel, com George Harrison

As 20 mais geniais lados B de Paul McCartney - Parte I

Mais uma vez o blog recebe com especial satisfação as preciosas considerações de meu parceiro Pablo Castro sobre o cancioneiro popular. Dessa vez, o objeto de sua criteriosa seleção e investigação é nada menos que Paul McCartney. Vou editá-las de 5 em 5 como fiz com a lista do Clube, fazendo pequenos ajustes na digitação e eventuais comentários ou indicações que virão entre [ ] acrescidas da sigla n.e. [nota do editor]. Não serão muitas, pois os leitores mais uma vez receberão textos primorosos. Sem mais, à lista...

Depois da repercussão positiva da minha lista das 30 mais geniais do Clube da Esquina (veja aqui: http://massacriticampb.blogspot.com.br/2012/12/as-30-mais-geniais-do-clube-da-esquina.html ) decidi , por ocasião da visita a BH do grande Paul McCartney, um dos maiores compositores populares vivos no planeta, fazer uma lista das 30 canções desconhecidas mais geniais do Beatle Paul, a maioria de sua extensa carreira solo. Tal a variedade estilística do cancionista britânico que várias pérolas de sua incrível carreira ficaram escondidas, e não tenham muita esperança de que ele vá tocar alguma delas nesse concerto.

De qualquer maneira, vale como aplicação para um público menos especializado, vamos dizer assim.

Começo com a balada melancólica Junk, cuja letra versa sobre um tema inusitado: a compaixão pelos objetos velhos e esquecidos, vendidos num antiquário. Com uma melodia altamente consequente, feita de cuidadosos graus conjuntos e ocasionais saltos, vemos as estrofes em Fá sustenido menor, desembocando no seu irmão relativo e mais otimista Lá maior, no refrão. Lançada logo no seu primeiro disco solo, denominado apenas McCartney ( 1970 ) em que toca e canta todos os instrumentos, e talvez influenciado pelas canções de Burt Bacharah para o clássico Butch Cassidy & Sundance Kid, Paul mostra mais uma vez sua maestria para baladas meio tristes meio irônicas, que já havia experimentado durante a carreira com os Beatles.

Motor Cars, Handle Bars
Bicycles for Two
Broken Hearted Jubilee
Parachutes, Army Boots
Sleeping Bags for Two
Sentimental Jamboree

Buy Buy
Says the Sign in the Shop Window
Why Why
Says the Junk in the Yard

Candlesticks, Building Bricks
Something Old and New
Memories for You and Me

Buy...



Como segunda da minha lista das melhores lados Bs do Paul McCartney, incluo agora The Pound Is Sinking, curiosa canção sobre instabilidade monetária e emocional . Muito inusitado esse tema para uma canção, que também é marcante por uma terceira parte em outra levada rítmica, em que a narrativa sobre as instabilidades das moedas nacionais é entrecortada por um desabafo amoroso aparentemente sem muito nexo com o resto da letra. Com uma introdução em Fá Menor, a mesma melodia é cantada em seguida na estrofe mais consistente em seu relativo Lá Bemol Maior, com uma pequena ponte com seu acorde mixolídio Sol Bemol, seguida de um primeiro B em que a narrativa paternal de um banqueiro britânico sisudo condena a incapacidade do protagonista seguir os passos acertados de seu pai.
Voltando à estrofe, com mais alguns ditados do noticiário econômico e alguns dos truísmos da ideologia capitalista, e por fim a explosão da referida terceira parte. No fim, repete-se a introdução, que na verdade é uma estrofe diferida.

Uma forma bastante irregular e um tema realmente surpreendente para uma canção pop, a força da canção vem justamente da contraposição contrastante entre essas diferentes sessões , e , claro, a maestria vocal de Paul, que encarna três personagens na mesma letra . Do LP Tug Of War, de 1982, The Pound Is Sinking é mais uma canção com essa forma bricolada, assim como músicas tipo : You Never Give Me Money, Uncle Albert/Admiral Halsey, Band On The Run, Rock Show e outras. 


The pound is sinking
The peso's falling
The lira's reeling
And feeling quite appalling

The mark is holding
The franc is fading
The drachma's very weak
But everyone's still trading

The market's bottom
Has fallen right out
And only the strong are survivors

Well I fear, my dear
That it's eminently clear
That you can't see the trees
For the forest
Your father was an
Extraordinary man
But you don't seem to have inherited
Many of his mannerisms
Oh, any of his mannerisms

The dollar's moving
The rouble's rising
The yen is keeping up
Which hardly seems surprising

The market's bottom
Has fallen right out
And only the stout are survivors

Hear me lover
I can't be held responsible now
For something that didn't happen
I knew you for a minute
Oh, it didn't happen
Only for a minute
Your heart just wasn't in it any more

The pound is sinking
The peso's failing
The lira's reeling,
And feeling quite appalling





A terceira da lista do Paul é You Gave Me The Answer de 1975 (álbum Venus and Mars, com Wings), esse foxtrot  anos 1930, pastiche perfeito típico das estilizações camaleônicas de Sir Paul; ao piano virtuoso e característico o nosso herói ainda manda aquele canto parecido com um outro cantor dos anos 1930: não ele próprio. Essa sua faceta já havia enriquecido o repertório dos Beatles e cumprido um papel muito especial na relação dos mesmos com a música jovem dos anos 1960, proporcionando uma ponte intergeracional num contexto de aguda tensão entre os nascidos antes da guerra e seus filhos, jovens da contracultura emergente e afluente e sujeitos de uma revolução cultural e comportamental . Não apenas os Beatles acenavam para a música "antiga" com propriedade musical ; faziam-no deliberada e genuinamente, com alta qualidade composicional e até a ironia presente em clássicos com When I´m Sixty Four, Honey Pie e Your Mother Should Know, [todas mccartneyanas, n.e.] não é debochada - há um gosto . Lennon e Harrison não tinham essa inclinação. Até porque, como diz a letra dessa música, era tido pelos filhos do rock como uma música aristocrática e esnobe. Mas Paul é um estilista , um amante da forma, da curiosidade dos estilos mesmo.

Ironicamente, a letra dessas parece o espelho invertido de uma letra de George Harrison nos Beatles ; " I love you and you, you seem to like me " é precisamente o contrário de " You like me too much and I like you " . Tais os diferentes temperamentos entre os gênios de Liverpool.

Bastante engenhosa a harmonia de You Gave Me The Answer, sempre com uma pitada de originalidade e surpresa , como o acorde ré menor onde poderia se esperar um ré maior ali, entremeados de procedimentos típicos do jazz e dos musicais da Broadway .

You gave me the answer
to love eternally.
I love you and - you,
you seem to like me.

Wherever we wander
The local folk agree,
I love you - and you
you seem to like me.

Heading back to old familiar places,
Places where the cobwebs blow away
I can forget the airs and graces

TERPSICHORY…..

You'll never be crowned by
The aristocracy,
to their delight, you'd merely invite
them in for a cup of tea….. and

I love you and - you
you seem to like
you seem to like
you seem to like
me.
Versão ao vivo, da turnê Rockshow/Wings over America

Versão de estúdio (Venus and Mars, 1975)


Em quarto lugar na lista das melhores do Paul , temos agora London Town ( 1978, do álbum homônimo) - uma homenagem à capital inglesa no mesmo tom de crônica oblíqua que ele imprimira antes em Penny Lane, esta sobre um bairro de Liverpool. Por meio de personagens como o ator desempregado, o barqueiro e o policial com um balão rosa (!) , é com essas imagens peculiares que Paul traça um panorama da cidade. Sublinhe-se aí o velho amor de Paul às histórias mundanas e triviais de personagens comuns, com quem ele obviamente se identifica, construindo pequenas narrativas, pequenos "causos" que ilustram a vida de um lugar. Ao invés de apelar a fatos históricos, signos de uma capital imperial que praticamente comandou o mundo no século anterior, o compositor prefere identificar no povo comum, simples, a essência vital dessa cidade.

O arranjo e a forma são, mais uma vez, inusitados, e, sobretudo, o discurso harmônico. Uma introdução instrumental em que se destacam o piano elétrico e o piano acústico, sugere o tom de Si Maior , até que por meio de empréstimos modais a música se inclina a Mi maior, tom da primeira estrofe, cantada em três vozes, com Linda e o escudeiro Denny Laine, do Wings. De súbito em seguida, temos uma estrofe diferida em Lá Maior , com Paul cantando sozinho, onde no fim temos a altamente original cadência : F#m7 / Gm6 / E7/G# / A , cromatismo delicioso que se aproxima das piruetas harmônicas mais típicas da música brasileira, ainda que com um vetor nitidamente tonal. Mais interessante ainda é a semelhança deliberada com a cadência : D/F# / G / F#/A# / B que abre a música. Esse estrofe diferida ( em Lá Maior) é repetida mais uma vez ( dessa feita com uma segunda voz ) , seguida pela repetição engenhosa de motivos já expostos no tema, até voltarmos a uma segunda estrofe original, de novo em três vozes. Até o fim ainda aparece um breve intermezzo instrumental com o protagonismo de um slide guitar, até voltarmos com a fusão dessas cadências e uma lembrança sintética do proto-refrão - London Town. Nesse mosaico de passagens e imagens, temos também um rico colorido instrumental : cordas, sintetizadores, vocais, guitarras base e solo, pianos elétrico e acústico, e bateria remetem aos dias mais psicodélicos dos Beatles . Só que dessa vez, com um pouco mais de ingenuidade e engenhosidade meticulosa típica das melhores canções de Paul.

Walking down the sidewalk on a purple afternoon
I was accosted by a barker playing a simple tune
Upon his flute - toot toot toot toot

Silver rain was falling down
Upon the dirty ground of London Town

People pass me by on my imaginary street
Ordinary people it's impossible to meet
Holding conversations that are always incomplete
Well, I don't know

Oh where are there places to go
Someone somewhere has to know
I don't know

Out of work again the actor entertains his wife
With the same old stories of his ordinary life
Maybe he exaggerates the trouble and the strife
Well, I don't know

Oh, where are there places to go
Someone somewhere has to know

Crawling down the pavement on a Sunday afternoon
I was arrested by a rozzer wearing a pink balloon
About his foot - toot toot toot toot

Silver rain was falling down
Upon the dirty ground of London Town

Someone somewhere has to know
Silver rain was falling down
Upon the dirty ground of London Town



Em suas aventuras de forma e estilo, Sir Paul às vezes parece prenunciar movimentos e tendências, ainda que muito específicos. Em quinto lugar na Lista do Paul, cito aqui a bizarra Monkberry Moon Delight, de 1971, do recém relançado disco Ram, o segundo de sua carreira, ao lado de Linda, com quem ele assina a autoria dessa música; nesse caso, é como se Paul antevisse por um momento o surgimento do grande Tom Waits , alguns anos antes de seu surgimento. O piano, o sabor meio antiquado da construção musical, e sobretudo a voz rouca são claramente traços do estilo do americano. A voz rasgada e gutural grita em desespero versos enigmáticos, sobre a feitura alquímica de uma substância denominada de Delícia de Monkberry Moon. Se é uma seiva sagrada, uma poção mágica ou uma geléia alucinógena, difícil decifrar. O fato é que a visão terrível de dois jovens dentro de um barril sugando Monkberry Moon Delight é uma das cenas mais oníricas no cancioneiro de McCartney, com vários elementos perturbadores.

A harmonia é simples, em Dó Menor, com a participação elementar de Sol Menor (quinto grau do modo natural de Dó Menor ) , Sol maior com sétima (Dominante primária de Dó Menor ) , Fá Menor (Subdominante) e a brevíssima aparição de Lá Bemol com Sétima, substituto da dominante da dominante : tudo em casa, procedimentos arquetípicos da harmonia ocidental. Mas o que salta aos ouvidos é a levada quadrada de piano martelado , o arranjo obsessivo com um ostinato ( motivo melódico repetido) de guitarra e vocais de apoio meio infantis mas claramente malignos, e a forma, mais uma vez, interessante : uma primeira estrofe (de 10 compassos, de dois versos de 5 ), é seguido de um primeiro estribilho - Catch Up ! Soup and Pourée! - e logo de uma estrofe diferida que é exatamente igual à primeira mas dividida ao meio no primeiro verso, o que resulta em 8 compassos. Daí uma ponte com baixo descendente , preparando o refrão , que consiste em algumas repetições do enigmático título da canção. Voltamos para estrofe, o estribilho, e dessa vez direto para o refrão, que é reiterado por muitas vezes, ocasião propícia para que Paul cante absurdamente numa oitava acima a melodia que, de primeira, já era em alta tessitura, desembocando num improviso vocal sobreposto ao canto dos vocais de apoio e da voz principal que continua: Monkberry Moon Delight. Essa máscara de Paul é uma das mais impressionantes, rompendo a imagem usual de Peter Pan que ele sempre cultivou.

Numa última nota, vale a pena lembrar do conceito de canção expandida, não me lembro se de Wisnik ou Tatit [Wisnik
+ Arthur Nestrovski n.e.]: o que importa aqui não é só letra, harmonia e melodia, pelo contrário, a performance e o arranjo são cruciais para o sentido da criação musical, principalmente no que se refere ao canto impressionante do ex-Beatle.

Aqui vai a letra com uma tradução meio tosca mas interessante que achei na internet :

So I sat in the attic,
A piano at my nose,
And the wind played a dreadful cantata (cantata...).
Sore was I from the crack of an enemy's hose,
And the horrible sound of tomato (tomato...).

Ketchup (ketchup)
Soup and puree (Soup and puree),
Don't get left behind (get left behind)...
Ketchup (ketchup)
Soup and puree (Soup and puree),
Don't get left behind (get left behind)...

When a rattle of rats had awoken,
The sinews, the nerves and the veins.
My piano was boldly outspoken,
in attempts to repeat its refrain.

So I stood with a knot in my stomach,
And I gazed at that terrible sight
Of two youngsters concealed in a barrel,
Sucking monkberry moon delight.
Monkberry moon delight,
Monkberry moon delight,
Monkberry moon delight,
Monkberry moon delight.

Well, I know my banana is older than the rest,
And my hair is a tangled beretta (beretta...).
When I leave my pajamas to Billy Budapest,
And I don't get the gist of your letter (your letter...).

Catch up! (catch up),
Cats and kittens (cats and kittens),
Don't get left behind (get left behind)...
Catch up! (catch up),
Cats and kittens (cats and kittens),
Don't get left behind (get left behind)...

Monkberry moon delight...
Monkberry moon delight...
Suckin' monkberry moon delight...
Monkberry moon delight...

"Try some of this, honey!"
"what is it?"
Monkberry moon delight...

24 de abril de 2013

Um pulo no sebo

Já escrevi aqui em alguma das postagem em que narro um pouco dos prazeres e penares da pesquisa sobre música popular o papel fundamental desempenhado pelos sebos na vida do pesquisador. Depois que fiquei órfão do meu sebo preferido, o ótimo Páginas Antigas, não consegui encontrar outro para frequentar regularmente. Hoje acabei passando por um que vive mudando de cara, no andar de cima do prédio em que funciona a Livraria Ouvidor da Savassi. No meio de outras atividades, cuidando de pesquisas em andamento, foi apenas um pulo e não dá pra avaliar tão bem assim. Não tinha tanto coisa que empolgasse à primeira vista, mas acabei comprando Chico Buarque: análise poético-musical (bem mais poético que musical), de Gilberto de Carvalho, editado pela Codecri em 1982 [uma breve resenha, aqui], e Carmen Miranda foi a Washington, de Ana Rita Mendonça, publicado pela Record em 1999 [para sapear, aqui; sinopse da editora, aqui]. Dois livros que poderiam muito bem ter aparecido na bibliografia da Tese, mas enfim, sempre fica alguma coisa de fora, é inevitável. O livro do Gilberto, como então era usual, é um livro basicamente de análise de letras, com alguns comentários esporádicos sobre música. Tem os seus achados, claro. E referências e citações de trechos de entrevistas, sempre úteis. Na orelha escrita por Luiz Otávio Barreto Leite, me chamou a atenção o trecho que atribui aos então últimos LPs de Chico (Vida e Almanaque) "(...) a hibridização de ritmos e procedimentos lítero-musicais de diferente proveniência social e geográfico-cultural (o chorinho, o fado, o rock, o mambo, etc.) (...)".Interessante detectar essa percepção sobre a obra dele naquele momento. O livro sobre Carmen, fruto de uma dissertação de mestrado (orientada por Heloísa Buarque de Hollanda), à primeira vista aparenta ser uma pesquisa bem feita, em termos documentais. Parece ser um mapa da querela em torno da americanização ou não da cantora, assunto que me interessa e foi  abordado por mim no 2° capítulo da Tese, que acabou ficando mais conceitual do que o recomendável. Esse pulo parece que vai dar samba depois.

JazzMan!: 21 de Abril de 2013: 10 anos sem Nina Simone

JazzMan!: 21 de Abril de 2013: 10 anos sem Nina Simone, um c...: Nina Simone, um coração em forma de música Por Leonardo Alcântara (JazzMan!) https://twitter.com/jazzmanbrasil http://www.facebook.c...
Mais uma bela postagem do blog JazzMan!

MY BABE JUST CARES FOR ME by Nina Simone on Grooveshark

7 de abril de 2013

Não é qualquer “cozinha” que prepara um prato desses: Cama de Gato

Com o habitual bom gosto, e nesse texto do blog Reflexões do grande amigo Renato Ruas um verdadeiro desfile de feras. Lembrei do meu primeiro vinil do Cama de Gato, comprado num sebo, que na verdade até não estava no melhor estado. Foi pra matar a curiosidade, num momento em que não tinha a menor ideia de quem eram esses caras. Só posso torcer pra que muita gente ainda tenha o prazer dessa descoberta.

Reflexões: Há esperança: Na última sexta fui ao Sesc aqui em São José dos Campos ansioso para ver o show do Cama de Gato, grupo lendário da música instrumental...

Zamba Bem, Marku Ribas

A passagem de Marku Ribas motiva as devidas homenagens e por aqui não poderia ser diferente. Encontrei porém num texto do jovem e talentoso músico Paulim Sartori palavras precisas que compartilho por serem tão bem empregadas para uma tarefa nobre e necessária. 

 "Diz-se por aí, comumente, que quem nos deixa "vira estrela", ou seja, um astro no intangível céu. Hei de discordar parcialmente de tal aforisma. Certos seres, parece-me, os seres-no-mundo por excelência, que assim se assumem, encantam-nos justamente por serem astros (ou estrelas, como queiram) aqui mesmo no universo ôntico, esta dimensão repleta da mais bela e trágica imanência. Aqui, quando as coisas nos deixam, deixam-nos saudade – essa assimetria incurável da experiência fenomenológica. O paradoxo do tangível-inalcançável para mim se traduz por vezes quando ouço o célebre verso "vida, doce mistério".

Certa vez, dentro em minha irrisória finitude, saindo de um ensaio, deparei-me com a figura destoante de Marku Ribas; destoante porque este sempre portou o ar de um astro que, incompreensivelmente, habitava o âmbito terrestre. Não se questiona algo que emana de um mulato de mais de 1,90m de altura; simplesmente é-se ofuscado por aquilo. É mesmo como se o encontro com o astro fosse o imperativo do silêncio da admiração... cala-se. A estrela de Marku brilhou por todo o tempo enquanto esteve descendente dos céus. Num palco em Tiradentes, há uns anos, vi aquelas enormes mãos tangerem cordas percussivamente, harmonizando singulares e negras toadas, quiçá representações fidedignas de um Olimpo afro-brasileiro. É uma saudade que ficará.

Descrente da literalidade da posterioridade da morte, sempre preferi pensar na poética vívida e vivida. A carga simbólica que trespassa e transborda da obra de um autêntico artista tem mesmo um valor que intermedia o transcendente e o imanente, que legitima a fantasia da perenidade da alma e do pensamento, que faz da produção um hino a ser repetidamente bradado na transversal do tempo, ainda que em suas mais tenras margens.

Eis um canto marginal, genuinamente temperado pelo gênio de um mortal. E mais uma vez: a crítica que não toque na poesia. Zamba bem, Marku, que cá também zambamos."





Encontrei  uma boa entrevista de 2009 [aqui] em que o próprio Marku sintetiza sua trajetória e fala de seus projetos artísticos. Separei alguns trechos para que fiquem aqui suas palavras como traços riscados no plano da vida:

"A surpresa do chamado original, atávico, autóctone, que são sinônimos do mesmo sentimento, as pessoas que tem cultura própria onde nasceram, já ali. As manifestações folclóricas, a música erudita, eu tive a sorte de presenciar tudo isso com o meu pai, meu avô, meu bisavô, que era mouro. Meu pai, como médico, tinha muito interesse pela vida. Ele gostava de cantar coisas de Caruso, Carlos Gardel, Vicente Celestino, Orlando Silva, fazia serenatas nas horas vagas. Captei a diversidade das coisas, até do cantochão, da música nas igrejas, a confluência indígena, com influência negras e com o meu avô materno português. Sou barranqueiro da gota, como existem os cariocas da gema, os paulistanos etc. Represento uma cultura do rio São Francisco que tem semelhanças de espectro com o Rio Vermelho da China, o Rio Nilo da África, o Mississipi americano, são sentimentos iguais em lugares díspares, mas com uma vivência muito igual de depender da pescaria, da chuva, do sol, da enchente. (...) Faço sons com as mãos, no rosto, na testa, na bochecha, desde que era criança, alguma coisa eu aprendi com a minha mãe. Uma verdadeira sinfonia corporal. Aí, descobri o gutural, os sons onomatopaicos que traduzem não palavras ou línguas, mas sentimentos. Fui incorporando isso tudo enquanto ouvia grandes violonistas como Dilermando Reis, Manoel da Conceição, Baden Powell, Manoel da Conceição Mão de Vaca, Rosinha de Valença, Paulinho Nogueira, e um gênio da minha região, o Deoclécio, que morreu cedo tragicamente e que fazia cada “aranha” nos acordes que a gente não tinha a menor noção do que era, grande guitarrista e violonista. Sou parceiro de Erasmo Carlos, Walter Queiróz, João Donato, Djalma Correa. Tenho essa noção do violão cheio, violão magnífico, que se toca em todas as regiões do instrumento. Sou ainda um aprendiz de tudo, sim, mas tenho o bom senso e a sensibilidade de ter colocado alguns craques no jogo, como o baixista Artur Maia, o violonista Romero Lubambo, o tecladista Jotinha Moraes, que começaram tocando e gravando comigo. Vejo influências minhas em Eduardo Dussek, João Bosco, Tunai, Ed Motta e João Donato, entre outros.(...) Para quem não sabe, meu nome de batismo é Marco Antonio Ribas. Criei o personagem Marku para homenagear a tribo Cariri Macu, da minha região, onde tem um sítio arqueológico de 2.500 anos com resquícios históricos da vivência dessa tribo indígena na barranca do Rio São Francisco, no Norte de Minas Gerais, entre Pirapora e Buritizeiros. Já escrevi contando coisas que ocorreram comigo entre o meu nascimento em 1947 até 1977. Acho que depois farei um segundo volume, contando todo o resto. Nasci em um 19 de maio com eclipse total do sol, que tem toda uma influência cósmica, elétrica, na espiritualidade, também. Vou contar histórias nesse livro que farão muita gente cair de costas (risos). Por exemplo, como era quando eu cheguei em São Paulo em 1967 e gravei logo de cara um LP pela Continental. Eu namorava a passadeira e lavadeira para livrar a passagem e a lavagem de roupa. (risos) Ia às cinco da manhã às rádios para fazer a divulgação do disco, que na época era chamada de “caitituagem”.

 
Assim se guarde a memória das gentes que zambam, junto à lembrança estrelada do Marku.

4 de abril de 2013

Influência que atravessou o oceano

McKinley Morganfield, muito mais conhecido como Muddy Waters, completaria 100 anos. Um dos mais influentes bluesmen de todos os tempos, partiu de trem dos cotton fields forever do Delta do Mississipi para plantar os jardins elétricos de Chicago [para saber mais, essa boa matéria do site American Blues Scene e o site oficial do homem]. Sua música atravessou o Atlântico e ganhou a cabeça e o coração dos filhos pobres e rebeldes da antiga Grande Bretanha. Foi de uma canção sua que os Rolling Stones sacaram o nome da banda, enquanto os Beatles lhe fizeram uma deferente citação em Come Together. E para completar a viagem transatlântica sua música também aportou na América ao Sul do Sul, como podemos comprovar ouvindo o som da banda brasileira Blues Etílicos, que incluiu em sua discografia o álbum Viva Muddy Waters (2006), todo em homenagem  ao mesmo.