Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

26 de novembro de 2010

Noite mágica no Morumbi

Dessa vez vou me permitir uma exceção aqui no blog. É uma postagem totalmente pessoal, diferente do tom que domina os textos que venho postando. Mas merece. Foi mesmo uma noite mágica. Além do Paul, do show, do céu perfeito, da noite maravilhosa e amarela, do Morumbi cantando em uníssono algumas das canções mais bem acabadas da música popular mundial, de encontros esperados e inesperados com amigos. De dividir tudo isso com meu filho. Nem vou ficar escrevendo... Bem, lembrei da interatividade...depois da 1a. não fiz outra. Então é o seguinte: Qual canção do Paul foi citada nesta breve postagem? A qual disco pertence? Quem acertar ganha uma imagem "exclusiva" do show do dia 21. Divirtam-se!

18 de novembro de 2010

Aula de Música (2): Para Lennon e McCartney


Continuo sendo um "aprendiz de blogueiro". Mas dessa vez a demora tem álibi, pois estava às voltas com a tomada de posse e início das atividades como professor do curso de museologia na ECI-UFMG. Só que este mês temos no Brasil um evento de proporções cósmicas no universo da música popular: Show de Paul McCartney! E, corrigindo um equívoco imperdoável do destino, dessa vez EU VOU. With a little help from a friend... Pra completar a alegria, na companhia especial do meu filho João Paulo, cujo nome já diz tudo, né? Como estou às voltas com a logística, não dá pra arrumar nada novo, mas quero deixar um registro desse momento único. E como amanhã vou falar de "Estudos Culturais" para os meus alunos do Mestrado em Gestão Integrada do Território na Univale, a seção Aula de Música só podia ter a ver com conexões, interculturalidade, e coisas afins. E a canção tinha que ser Para Lennon e McCartney. Acompanha um pequeno trecho da Tese sobre o assunto: 

"A interseção local/global é chave no entendimento das propostas estéticas e das diversas fontes que informam a obra do Clube da Esquina. Preocupados em produzir uma música que fosse universal e ao mesmo tempo particular e local, já anunciavam em Para Lennon e McCartney (L. Borges, M. Borges e F. Brant): “Mas agora sou cowboy/ sou do ouro, eu sou vocês/ sou do mundo, sou Minas Gerais”. Esta canção é emblemática, não só pela letra, anunciando a conexão local/global mediada por aqueles que desconheciam o “lixo ocidental”, mas pelo arranjo e harmonia, talvez uma das mais poderosas traduções da influência dos Beatles na música popular brasileira (baixo descendente nos acordes em Lá menor, guitarra-base marcante, riff no refrão, solo com alguma distorção)." (GARCIA, 2007)



24 de setembro de 2010

Pra tocar a vida, um blues


Hoje vou mudar de assunto. Pra tocar a vida - se bem que às vezes é a vida que toca a gente - um blues sempre vem a calhar. E esse ponto em que estou, diante de uma encruzilhada de sentimentos, é que volto no tempo, aos meus tempos de graduação, meu primeiro artigo publicado [completo, aqui]. Graças ao grande incentivo de uma professora - Kátia Baggio, um trabalho final de História da América que foi para as páginas da Revista Varia História. Um trechinho:


"A errância não era opção de vida, mas a única alternativa para o bluesman sobreviver de sua música. (...) A estrada é tudo que tem pela frente, ela é o cenário de boa parte do seu cotidiano. Não se olha para trás, pois não há laços que prendam. Na verdade, se o músico se sentir preso, será através do blues que irá romper a ligação (com a mulher amada, por exemplo) e permitir a partida que é inevitável"

Escrevi ouvindo Walkin' Blues do Robert Johnson, e dedico essa postagem aos meus alunos da Univale.

21 de setembro de 2010

Interação

Como 1° "evento" do blog, vamos tentar um negócio "interativo" aqui: 1) Postem aí uma definições de MPB, e/ou lista de artistas que considerem de MPB (só pra ver como a coisa vai ficar confusa...rsrsrsrs) 2) Escalem o time que tá na capa da "Realidade" de 1966 . Quem acertar todos primeiro ganha um prêmio "inventado". Divirtam-se

20 de setembro de 2010

A invenção da MPB


Ando muito negligente com esse blog. É difícil arrumar tempo, mas agora fui meio que obrigado pela marcação de um "evento" amanhã. Vamos lá então. Vou juntar uns relampejos que andei tendo, misturar e ver se dá samba: uma sigla + revista realidade + livros de cabeceira + história cultural. A sigla, não poderia ser mais óbvio, é MPB. Tem certas coisas que parecem ter sempre existido. MPB, por exemplo. Mas aí uma pitada de história e... vemos que essa sigla só aparece em meados dos anos 1960, e seus contornos só serão um pouco mais definidos na década seguinte. Lembrando dois livros que eu adoro (falei dos dois em sala de aula semana passada), A invenção das tradições (Eric Hobsbawn e Terence Ranger organizaram) e A moderna tradição brasileira (Renato Ortiz escreveu), posso dizer que MPB é uma moderna tradição inventada. Categoria que foi ganhando sentido entre músicos, críticos e ouvintes, entre polêmicas e panteões, entre passeatas e festivais. Nas bancas de revista, nas paradas de sucesso. Pensei nessa paráfrase ..."ainda não havia para mim MPB4...". Aliás, até 66, a palavra-chave da música popular brasileira ainda era "samba". Será que deu MPB?

25 de abril de 2010

Aula de Música: Chuck Berry fields forever

Como ando dando aulas de História da África, ando retomando alguns assuntos que pesquisei há alguns anos quando iniciava o doutorado, envolvendo música popular e trânsitos culturais entre África e América. Tava com vontade de criar uma seção comentada a partir de uma única música, daí pensei: tem canções que valem por uma aula! Taí, Chuck Berry fields forever, do Gil. Verdadeira travessia pela história transatlântica da música popular, dos seus gêneros e protagonistas. Para dar "ressonância visual", a obra Negro Trovador, de Debret.
http://www.youtube.com/watch?v=_6k8VFnWxGs&feature=player_embedded