Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

28 de abril de 2014

Não vai ter Belo Horizonte

Enquanto a copa se aproxima, mais e mais reflexões apresentam um quadro nada animador - e também nada surpreendente - sobre as consequências de sua realização na sociedade brasileira. Também não estou nada animado e nada surpreso. Mas mesmo quando a gente pensa que já viu o bastante, que já se empanturrou com os absurdos que desfilaram pelos jornais, pela rede, pela cidade em que a gente vive e caminha, podem ter certeza que ainda haverá o que ver pra passar um pouco mais de raiva. Passo quase todos os dias pela Av. Antônio Carlos e vejo o tal BRT-Move, arremedo inconcluso e condenado à obsolescência precoce e premeditada, malfadado substituto do prometido metrô que já se converteu de promessa de campanha em lenda, enquanto o belorizontino agoniza lentamente no meio do trânsito e da falta crônica de mobilidade para todos. Vejo hotéis que se anunciaram como feito arquitetônico, ainda nas estruturas, financiados com empréstimos públicos a perder de vista, que nem por milagre ficarão prontos, enquanto levas de pessoas são desalojadas do que nem aos olhos de Mr. Magoo poderia ser tomado por uma moradia decente, mas que é tudo o que tem. Vejo uma estrutura hospitalar, pública e privada, em petição de miséria para atender quem já está aqui. Poderia continuar nessa toada mas ainda tem outro assunto pra postagem. Apenas resumindo, vejo uma cidade que em absolutamente nada melhorou e que é anunciada como que embrulhada numa fina seda pra presente de grego, para nós cidadãos daqui, e até mesmo para os tais turistas, clientes, o que for, que certamente irão ver, por mais maquiagem que se passe, que a fisionomia de BH é diferente daquela mostrada nos comerciais de 30 segundos que passam na TV. 
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Como membro do Centro de Convergência de Novas Mídias (CCNM) da UFMG, integro um grupo de pesquisadores que atualmente investiga entre outras coisas transformações no espaço urbano relacionadas a megaeventos como a Copa do Mundo, e de que forma elas estão articuladas por e nas mídias, como as pessoas interpretam, discutem e participam dessas mudanças na cidade, nos jornais, nas redes sociais. Estávamos há pouco numa discussão que começou tratando dos grupos escolhidos para tocar na Fan Fast da Fifa [sim, isso aqui ainda é um blog sobre música popular rsrsrs] em Recife [aqui]. A discussão que se seguiu vale uma postagem própria, que poderá vir em breve. Agora quero apenas mencionar que no decorrer da conversa acabei querendo apurar o que e quem tocaria em Belo Horizonte. Na busca por respostas fui à página oficial turística da cidade, de responsabilidade do órgão municipal dedicado ao turismo, a Belotur. Não tenho agora o tempo e paciência necessários para fazer um exame profundo de seu conjunto, para tentar entender que espécie de "produto" os responsáveis pensam que BH é, digo apenas que é diferente da cidade em que vivo. Fui direto ver o que tinha a respeito de música, sem encontrar o que procurava, mas sempre atento pois a pesquisa tem dessas coisas, o bom investigador pode muito bem atirar no que viu e acertar no que não viu. E assim cheguei a essa coleção inigualável de pérolas sobre a história da música popular aqui
: Belo Horizonte apresenta miscelânea em seu cenário musical. [P.S. 2020: a página foi tirada do ar]. Ainda estou estarrecido. Nem mesmo sob o ponto de vista de uma narrativa comercial, de guia turístico, sintética, superficial e genérica como devem mandar os manuais, esse texto se sustentaria. Será mesmo que a Belotur não tem em seus quadros gente capaz de fazer algo no mínimo sem equívocos primários e com uma redação razoável. Ou não poderia pagar um profissional de gabarito nem que fosse para "pintar melhor a fachada"? É difícil crer. De fato assusta a completa falta de capacidade de uma administração de sequer prezar pela mínima qualidade numa página oficial voltada para o turismo na cidade, num ano de copa, com toda a parafernália discursiva que se monta em torno da exploração comercial desse evento. Vamos a algumas - deixo o resto pra quem tiver muito saco de ler asneira
s. Cito e comento em negrito:

"O Clube da Esquina foi o precursor do movimento da música em BH, na década de 60. Na época, a sua influência atingiu não só Belo Horizonte e Minas, como o Brasil e o mundo. Cantores consagrados como Milton Nascimento, Lô Borges e Toninho Horta foram exaltados com o movimento revolucionário, regionalista e bem elaborado. Na obra de Beto Guedes notam-se características rurais e na produção de Lô Borges, o barroco mineiro. Já as letras de Milton Nascimento sempre tiveram um toque da música contemporânea com características de Minas." Adoro Toninho cantando mas certamente sua consagração é como compositor e instrumentista; classificar o Clube como regionalista é mais que descabido; a caracterização das obras de Lô e Beto é, para ser gentil, imprecisa; Milton, quando se arrisca, vai bem nas letras mas não acho que era por aí... o texto não acerta nem mesmo como senso comum.

"Nos anos 70 e 80, algumas bandas, como Sagrado Coração da Terra, de Marcus Viana e 14 Bis de Flavio Venturini já demonstravam a diversidade musical da capital mineira.  Tuatha de Danann se destacou em todo o mundo no estilo Folk Metal. Fernando Brant, Wagner Tiso e Vander Lee trouxeram à tona a MPB para os mineiros." Vai ficando até difícil comentar... Será que quem escreveu isso sabe o que é diversidade musical? Tem noção de que a cidade foi fundada ainda no século XIX? Tem ideia do que é MPB? Sabe ao menos que Vander Lee emergiu num momento diferente do de Brant e Wagner Tiso, dois músicos que estiveram entre os principais protagonistas da geração que elaborou a MPB? Aliás - por favor, nada contra o cara, ok - porque justo o Vander Lee nessa frase? 
"Já na década de 90, algumas bandas de rock também surgiram como uma reação às ideias plantadas pelo Clube da Esquina: Jota Quest, Pato Fu, Tianastácia e Skank, ficaram conhecidos em todo o país e começaram sua trajetória de milhões de cópias vendidas e shows históricos." Hein, como é que é? Reação? Não dá pra acreditar... uma leitura completamente equivocada do surgimento dessas bandas todas. Fora a tremenda bola fora de pensar que de alguma forma o Clube da Esquina se opõe ao rock. Como disse o Jim Capaldi ante o estranhamento dos jornalistas brasileiros quando disse a eles que a novidade do rock no Brasil era Milton Nascimento, quem escreveu isso aí não sabe nada de rock. O máximo que daria pra falar é que muitos dos componentes dessas bandas não se identificam nem se inspiram em Clube da Esquina. E isso teria que ser contrabalanceado pelo fato de alguns gostarem e até procurarem - ainda que com resultado duvidoso - se aproximar de músicos como o Milton e o Lô Borges. 




O texto continua desfiando uma combinação de ignorância e lugares comuns que dá realmente nos nervos. Destaca-se coisas que só uma meia dúzia de gatos pingados conhece -não é por isso que são boas ou ruins, diga-se de passagem - junto com outras figurinhas manjadas, deixando entrever que basicamente quem escreveu misturou aquilo que gosta com aquilo que não gosta nem entende mas está "na lista" do que não poderia faltar e aí fez a tal miscelânea do título. Não vou aqui fazer uma exaustiva lista de ausentes indispensáveis, simplesmente não é por aí [mas claro que quem quiser pode deixar aqui nos comentários do blog as suas indicações, com ou sem justificativa]. Como historiador digo basicamente que foi feito um corte cronológico pouco criterioso e nada representativo da história da música no tempo de existência da cidade. Como compositor que circula de alguma forma pela cena contemporânea, há mais de 10 anos, vejo o apagamento injustificado de um monte de coisas. Fica, por exemplo, subentendido que não se fez MPB dos anos 90 em diante, ou, na melhor das hipóteses, depois do Vander Lee. De novo, nada contra o cara, tá bom? Contra quem escreveu esse texto e quem mandou escrever, tenho. Deixo enfim meu protesto porque é simplesmente inaceitável ver o cenário musical de Belo Horizonte tratado dessa maneira porca.
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Nossa cidade é outra, a que vemos e ouvimos a despeito de tudo isso. Na copa, já sabemos, não vai ter Belo Horizonte.

20 de abril de 2014

Música para vender?

O infográfico acima, baseado em pesquisa do Ibope, fui publicado na edição de Janeiro de 2014 da Revista Superinteressante [*obs: essa inserção é de caráter estritamente cultural e devidamente creditada. A propósito, uma revista que sempre achei, de fato, muito interessante]. Enfim, ando completamente sem tempo de desenvolver as postagens atualmente mas é sempre bom lançar essas coisas e ter depois a possibilidade de retomar. As estatísticas não estão completas e infográfico sempre implica em simplificações, mas acho interessante como forma sintética de disponibilizar informações que depois podem ser alvo de alguma reflexão. Já fiz, inclusive, pesquisas de natureza "micro", trabalhando com  o conceito de colecionismo relacionado às preferências musicais e é possível ver um quadro mais nuançado do que o que oferecem esses dados brutos. Sei que o blog tem vários leitores que se interessam por esse tipo de tema e já faço o convite para que venham comentários. 


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Essa postagem também me lembrou de uma canção nova de um trio assombroso de rock muito criativo, com humor e assinatura próprios, que coincidentemente está agora em campanha para produzir seu novo disco via catarse. Falo da banda SOMBA - os grandes Avelar Júnior, Guilherme Castro e Léo Dias. Esse post não ficaria completo sem a trilha que o inspirou: Eu queria fazer uma música para vender mas, puta que pariu... eu não consigo!

17 de abril de 2014

Música Popular e memória II

Dando sequência à série iniciada com o texto do Pedro Munhoz, convidei o compositor, autor de quadrinhos e pesquisador Rafael Senra. Seu texto, em suas próprias palavras [tão boas que o editor aqui não quis desperdiçar] "mescla o memorialismo descritivo e algum teor analítico", costurando sua trajetória biográfica às experiências sociais e sonoras no tempo. Na forma, me lembra um pouco uma série de ensaios de vários historiadores que curto muito, que se chamou "Ensaios de ego-história".
Deu pra sentir que é material do bom. Então sem mais delongas, Rafael Senra:

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Tenho confiança na veracidade da "colcha de retalhos" que é a minha memória, apesar de saber que boa parte das lembranças são sempre reescritas pela porção mais "malandra" da cabeça. Como se não bastasse, entre o vivido e o reinventado, existem as elaborações feitas a partir de depoimentos de outras pessoas. A grosso modo, entendo essas três diferentes operações como o processo pessoal de arquivamento da vida.



Dito isso, me volto para a proposta dessa série, de rememorar algumas experiências com (e sobre) música popular – só que o farei aqui de uma maneira talvez inusitada. De trás para a frente, subvertendo a gravidade evolutiva do ciclo cronológico, como naquela crônica do Chico Anysio em que o personagem nasce velho e morre menino.



Mesmo que não seja profissional, a minha relação com música atualmente tem uma dimensão teórica e outra prática. Em 2013, publiquei um livro chamado Dois Lados da Mesma Viagem, sobre a identidade de Minas Gerais na obra do Clube da Esquina. Tal obra não me fez mais rico, nem me levou ao Jô Soares, mas proporcionou que eu viajasse, conhecesse muita gente bacana, e divulgasse o resultado do meu estudo. Parafraseando meu "objeto de estudo", foi um livro que me deixou "com a roupa encharcada e a alma repleta de chão". Já a minha relação prática com a música é um pouco mais subjetiva, se resumindo a uma enorme gaveta lotada de composições diversas, com muitas letras e melodias. Tenho gravado várias delas em meu home-studio.

Presença ilustre de Fernando Brant no lançamento do livro Dois Lados da Mesma Viagem (2013), na Livraria Quixote (BH)


Apesar de continuar lidando com música, não tenho ambição de ser músico profissional, algo que já quis em outros tempos. Após defender o mestrado, cismei que ganharia a vida tocando violão em barzinho. Alguns amigos meus tinham e tem essa profissão, e eu achava que isso seria melhor que a burocrática carreira acadêmica que se anunciava.



 Cartaz de show, produzido pelo próprio autor.

 
Se minha relação com música hoje em dia é teórica num lado e prática no outro, é porque aprendi nos barzinhos que amar e fazer música são contas que nem sempre batem. Na minha curta carreira como músico de bar, enfrentei bravamente as madrugadas com alegria e fôlego, e creio que até fiz alguns olhos e ouvidos brilharem. Mas... 

As frustrações cresciam como mato. Ainda que meu repertório fosse popular, as pessoas pediam que eu tocasse material do infame sertanejo universitário. Fazia apresentações de três horas em média, sozinho, as vezes sem intervalo. Em alguns lugares, sequer me davam o que comer, muito menos transporte, e por várias vezes pagavam menos que o combinado. Já fiz shows longos por 50 reais, por 10 reais, já toquei de graça, já paguei para tocar. Ouvi desaforo de dono de bar, mais de uma vez, coisas por vezes mesquinhas e rancorosas. Percebi que o músico pertence ao lado fraco da predatória cadeia do entretenimento regional. 

Show do projeto/banda Zastrados no festival Musiminas (BH), março de 2011.



Antes disso, tive bandas na época de faculdade, em São João del-Rei (MG), coisas consideradas mais cult – e aqui preciso fazer um parêntese: é engraçado como o erudito de ontem se torna o popular de hoje, e viceversa. Por exemplo, quando toquei bandolim em um grupo de chorinho, fui acusado por algumas pessoas de trair minhas raízes de músico popular. Como se o choro tivesse sido música das cortes reais ou da aristocracia européia na Idade Média... 



Sobre o "popular" de então, participei também de bandas de pop rock, mesmo no período da faculdade, e até antes. Poucas composições minhas deram o ar da graça nessas bandas. Tocar material autoral sempre representou algo meio que de resistência, como se o zeitgeist da minha geração fosse a lógica "Emerson Nogueira"; uma constante reciclagem de hits cristalizados no tempo, um eterno ruminar das enquetes radiofônicas dos tempos áureos da indústria fonográfica.                                     

  Banda Pedra da Lua, 2005.[esq.] Banda Vovó Manguaça ao vivo no Clube São Jorge, 2009. [dir.]
                                  
No entanto, quando ainda pensava em investir no trabalho autoral para valer, demorei a adequar minhas ambições aos novos tempos de mp3, pirataria e nichos de mercado. Sonhava anacrônico, hipnotizado com as histórias que lia sobre tantas bandas que alcançaram um alto patamar de respeito profissional. Os primeiros sites populares de internet (e, ainda antes, revistas como a Showbizz) narravam as lendas de artistas iluminados, recompensados pelo seu dom, ricos e adorados por milhões. Eu buscava a opulência e a fama dos dinossauros da música popular, acreditava ter o potencial para conquistar um lugar ao sol do inconsciente coletivo. Em 2001, tive uma banda onde as promessas que orbitavam eram grandes. Até nosso nome era divino: Mahadeva. Nossa formação lembrava o Abba, com dois homens e duas meninas lindas. O irmão do baterista tinha um estúdio, onde iríamos gravar nosso CD (e até gravamos uma composição antiga minha, chamada Som de Sonho). Vencemos um festival de música em nossa cidade. Tudo parecia grandioso. Mas a banda acabou tão rápido quanto começou. 
                          
Como guitarrista da banda Mahadeva, 2001.

O que fiz antes disso musicalmente era menos ambicioso, no sentido de se adequar a padrões radiofônicos e tentar algum tipo de sucesso comercial. Quando toquei com duas bandas de rock progressivo em Congonhas, a pretensão era sobretudo estética. Não saímos da garagem, mas realizamos um ímpeto pessoal, mais livre, um rito de amor ao som que ouvíamos em casa: Yes, Marillion, Genesis, Rush. O que nos faltava em técnica, sobrava em entusiasmo (e cabelos compridos!). Fui vocalista nas duas, decerto por falta de candidatos adequados. 
                                                             Com os amigos num show de rock em Conselheiro Lafaiete, 1998.


Mas na verdade, comecei minha vida de músico como baterista numa banda de pop rock chamada Alquimia. Tudo levava a crer que a percussão seria meu instrumento, mas tentei aprender violão com o objetivo de criar alguma noção melódica. Acabei largando as baquetas, e até hoje o violão se configura como meu instrumento seminal. A partir dele, vieram as primeiras tentativas de fazer música, e é a ele que devo o prazer lúdico da composição. Ter banda foi algo que surgiu pra mim só a partir dos 14 anos. Entre os 10 e os 14, fui apenas ouvinte. Nesses anos de acnes e revistas de mulher pelada, cunhei boa parte da base do que até hoje se configura como meu gosto musical: rock progressivo e pop rock principalmente (a paixão pela MPB viria forte só uns três anos depois). 

Homenageando os Beatles a caminho de uma festa à fantasia, anos 1990.
Nos anos 90, pré-internet, as pessoas formavam seus gostos a partir de rádio, TV e boca-a-boca. Era inevitável que eu me tornasse fã de rock progressivo. Começou quando fiquei fissurado num CD do Genesis que aluguei na locadora (será que meus netos vão acreditar que, no fim do século XX, se alugavam CDs?). Depois, fiquei obcecado com alguns clipes do Rush que passavam no programa Kliptonita. Na época da MTV, a canção Owner of a Lonely Heart do Yes virou quase um mantra pessoal. Ao longo dos anos, liguei os pontos e descobri que todos os artistas acima se situavam no mesmo estilo. 


Show do Yes no estacionamento do Minas Shopping (BH), 1998.
Mas o boom de curtir rock veio mesmo com Nirvana e Metallica, que era o que meus vizinhos de quarto ouviam no internato. Fechados naquele enorme colégio, éramos como que uma centena de irmãos, que trocavam dicas de sons através de fitas cassete, em meio à capina das hortas e as missas. Ainda no internato, peguei com o amigo Daniel Moreira o hábito de criar bandas e discos imaginários. Criei toda uma discografia para a banda fictícia Adaga, com várias capas heróicas e um repertório de títulos que incorporavam todo o léxico de um hiperativo menino de 10 anos de idade. 

Um dos primeiros shows tocando violão, festival sertanejo em Congonhas (MG), talvez 1998.

 
Na infância, lendo quadrinhos ao lado do pai.

Antes disso, na infância, não fui tão emocionalmente conectado com música (meu coração nessa época pertencia às histórias em quadrinhos). Mas já captava nuances que mais tarde influenciariam meu gosto. Recordo-me de um jogo de videogame chamado Strider, cuja trilha sonora era composta por melodias cheias de dissonâncias e sofisticação. Quando ouvi Emerson Lake and Palmer, anos depois, encontrei muita da magia que me emanava de trilhas como essas.



Mas minhas lembranças mais antigas com música remetem a uma das categorias que citei bem no início do texto, e sobre a qual falo com menos propriedade de rememorar – a das lembranças alheias. Minha mãe conta que, ainda muito guri, eu tinha todo um ritual com minha pequena coleção de vinis. Eu largava os brinquedos, ia até o som, pegava uma capa, tirando o disco cuidadosamente do plástico com as mãozinhas pequenas e gordinhas, o inseria na vitrola, adequava a agulha, e me sentava ao lado, com pose de gente grande.



Devem haver outras histórias, enterradas nessa cronologia que apresento às avessas, mas deixo tais ruínas para o anjo que Walter Benjamin avistou na pintura de Paul Klee, voando de costas para o presente, enquanto enxerga atrás (ou na frente) de si "tanta coisa ainda por dizer". Mas confesso que, entre o menininho habil no manuseio da vitrola e o homem barbudo que pesquisa e compõe música, existe uma calorosa e bela colcha de retalhos.

15 de abril de 2014

Popular music - periódico referência

Desde o início uma das propostas da página era ser um canal de divulgação de publicações e estudos sobre música popular. Objetivo difícil de cumprir porque demanda uma regularidade de postagens informativas que, por enquanto, não tenho como manter. Hoje porém, calhou de aparecer, compartilhado pela página da ANPUH (Associação Nacional de História) no facebook o link para o novo número da revista Popular Music*, periódico internacional e multidisciplinar que certamente é uma referência importante para quem pesquisa música popular em qualquer lugar do mundo. As abordagens são variadas - tem, literalmente, para todos os gostos. Destaque para a enorme seção de resenhas (reviews) que deixa entrever num relance a variedade de produções que são publicadas nesse campo de estudos interdisciplinar por natureza.


*Popular Music is an international multi-disciplinary journal covering all aspects of the subject - from the formation of social group identities through popular music, to the workings of the global music industry, to how particular pieces of music are put together. The journal includes all kinds of popular music, whether rap or rai, jazz or rock, from any historical era and any geographical location. Popular Music carries articles by scholars from a large variety of disciplines and theoretical perspectives. Each issue contains substantial, authoritative and influential articles, shorter topical pieces, and reviews of a wide range of books.

14 de abril de 2014

O fim dos Beatles e a indústria cultural



Um vídeo curioso. Obviamente não há qualquer possibilidade de comparação entre os Beatles e o Led Zeppelin. Mas é interessante como documento de época, da maneira como mostra como funcionava a indústria cultural. Aqui vali-me de uma grande lição metodológica para os historiadores, que é aquela que ensina a evitar os anacronismos. Nós aqui sabemos perfeitamente o que representam historicamente, desde nosso ponto de vista, os Beatles, o Led Zeppelin, quem mais for o caso. Porém lá estão os ingleses em 1970, vendo um programa de TV cujo argumento básico era demonstrar que os Beatles "haviam ficado pra trás". Na impossibilidade de continuar a vendê-los após a dissolução da banda, de repente a mídia move as baterias contra eles (de uma maneira que pra nós até surpreende porque a posteridade só fez aumentar o prestígio - e valor de mercado também, não há porque negar - de sua obra) e procura fabricar novos fenômenos de venda mobilizando até um discurso supostamente autorizado, como do tal Coleman, editor da revista Melody Maker. Mas, justamente, essas revistas só podem ser vistas como engrenagem da máquina da indústria cultural, elas não fazem sentido fora desse "circuito" de produção, circulação e consumo.  

6 de abril de 2014

Beatles: aqui, ali, em todo lugar - XI Congresso da IASPM-AL

De 13 a 18 de Outubro 2014 será realizado o XI Congresso da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular -Seção Latino-americana (IASPM-AL)* em Salvador (UFBA) e também, no último dia do evento, Cachoeira (UFRB). Segundo a página do evento [entre aqui]: "O tema geral do congresso enfatiza a relação entre música e lugar através do amplo tema da 'territorialidade'.". Na condição de recém-filiado à entidade, e dividindo a coordenação com o prezado colega Lauro Meller, da UFRN, convidamos pesquisadores daqui, dali, de todo lugar, a enviar propostas na forma de resumos em até 600 palavras em arquivo word diretamente para o e-mail lauromeller@ymail.com , até o dia 30 de abril. As propostas aprovadas serão divulgadas no dia 31 de maio. Segue a ementa do nosso simpósio, cujo título é Beatles: aqui, ali, em todo lugar

"Em 2014 completam-se 50 anos da primeira viagem dos Beatles aos EUA e do subsequente disparo da beatlemania como fenômeno mundial, marco significativo da história da música popular. As trajetórias traçadas pelos Beatles articulam, de várias formas, música e lugar, assinalando trocas culturais que marcam a construção de identidades de grupos e territórios, indo do local ao global e evidenciando uma obra que interfere nos espaços e culturas pelos quais circula. Cumpre lembrar que a música popular, em sua trajetória social-histórica, está intimamente relacionada às transformações próprias da modernidade, como a urbanização, a presença das massas na cidade e a introdução dos meios massivos de comunicação. Sendo um construto que se desloca entre o transitório e o permanente, torna-se objeto privilegiado para pensar a reprodução ou a reinvenção dos laços sociais nos universos densos, abertos e heterogêneos das sociedades contemporâneas. Se a canção pode informar um “sentido de lugar” para indivíduos e comunidades (STOKES, 1994), pode representar, simultaneamente, um “lugar de sentido”, configurando-se como ponto nodal em que disputas simbólicas são travadas, forças sociais são mobilizadas e interlocuções possíveis são construídas (GARCIA, 2013). Em relação à obra dos Beatles, diversos estudos sinalizam as dinâmicas de territorialização envolvidas, desde sua influência na configuração de uma sonoridade local em Liverpool e no Merseyside (COHEN apud. STOKES, 1994) à atribuição de sentido a lugares específicos em sua cidade natal (NEGUS, 1996; KRUSE II, 2005, GARCIA, 2011); desde as referências ao “pastoral suburbano”, que podem ser associadas a uma “inglesidade” (DANIELS, 2006) aos trabalhos que a abordam um cenário globalizado, em contato com outros contextos e músicos populares (MELLER, 1998). Desse modo, são bem-vindos trabalhos que tratem da trajetória da banda, da cena local à “invasão britânica”, da recepção pelo público ao redor do mundo (com destaque para as Américas), de sua apropriação hibridizada por compositores e intérpretes variados (bandas que, por sua imagem ou por características musicais, são evocativas dos Fab Four; grupos e intérpretes que gravaram versões de canções dos Beatles; alusões em capas de álbuns; bandas tributo), da referência ao lugar nas escolhas estéticas em suas canções e álbuns, e do consumo globalizado de sua música e imagem através das diversas mídias, dos roteiros turísticos ou das práticas colecionadoras, entre outros. Propostas de análises da própria obra dos Beatles, sejam elas sob viés musicológico, literário, historiográfico, filosófico etc., serão igualmente bem-vindas."


*"A IASPM-AL é um espaço de convergência multidisciplinar em torno da reflexão sobre as músicas populares latino-americanas e caribenhas em qualquer de suas dimensões estéticas, usos e períodos históricos. Em sua qualidade de associação, se define como um espaço acadêmico de gestão e coordenação aberto a todos os campos de pesquisa sobre música. Suas atividades incluem tanto a transmissão de experiência de músicos práticos quanto a produção teórica de estudiosos e acadêmicos que realizam aportes ao conhecimento social por meio da problematização das músicas populares."

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P.S. Não posso deixar de mencionar que hoje mesmo testemunhei, em ótima companhia, a manifestação dessa articulação de tempos e lugares que a música dos Beatles promove, ao assistir o concerto da Orquestra Ouro Preto na Praça da Liberdade em Belo Horizonte. Com belos arranjos e ótima integração com a plateia, os músicos desfiaram para o grande público que lotou a praça da capital mineira os clássicos do repertório do quarteto de Liverpool.   

Bye, bye, Wilker

A saída de José Wilker do palco da vida é de ser lamentada. Sua galeria de personagens, no cinema, teatro e tv, dão a medida do ator que era, mas também de sua profunda ligação com a história e a cultura brasileiras (ver matéria de O globo, aqui). Wilker viveu Lorde Cigano em Bye, bye, Brasil (Cacá Diegues, 1979),  o filme da transição dos anos 1970 para os 1980 [assista aqui], fez a súmula dos contrastes culturais, sociais, políticos e econômicos resultantes das contradições de nossa modernização, brilhantemente sintetizados na canção tema com música de Roberto Menescal e letra de Chico Buarque, emulando genialmente uma conversa ao orelhão (esse aparelho que caminha a passos largos para tornar-se relíquia do mundo pré telefonia celular) em que só ouvimos "o lado de cá" da conversa, como se estivéssemos imediatamente atrás do cantante aguardando nossa vez de falar ao telefone. Sei inclusive por experiência própria que quando se saca o "tema" e o "conceito" de uma letra, ela pode ser estender indefinidamente enquanto o autor saboreia o jogo para o qual inventou as regras. Conta-se que o Chico chegou para gravar levando uma letra quilométrica e que o próprio Cacá (mas em algumas versões teria sido o Menescal) cortou com tesoura num dado ponto em que acho quer era suficiente. Muitos casos contados e coisa boa escrita sobre essa canção - recomendo o excelente texto do Túlio Villaça em seu blog Sobre a canção, e também a exemplar análise de José Miguel & Guilherme Wisnik em O artista e o tempo, no volume 2 do Songbook produzido pelo saudoso Almir Chediak. Colhi também alguns trechos de livros que são citados no site oficial do Chico para complementar, e já está de bom tamanho porque hoje o principal é a homenagem. Bye, bye, Wilker.


"Os casais Cacá Diegues/Nara e Roberto Menescal/lara foram vizinhos durante anos em um prédio de apartamentos em Ipanema, tendo Cacá, num encontro cotidiano, proposto a Menescal que compusesse a trilha musical de seu filme "Bye Bye, Brasil", sugerindo Chico Buarque como letrista. Juntos pela primeira vez numa parceria e indecisos sobre quem faria antes a sua parte, Chico e Menescal acabariam concordando que qualquer um poderia começar, a partir do momento em que tivesse uma boa idéia. Um dia, voltando de São Paulo pela ponte aérea, o violonista teve de repente "a boa idéia", uma melodia inspirada pelo próprio título do filme. O curioso é que a inspiração surgiu quando ele aguardava, sentado numa poltrona do avião, espremido entre dois sujeitos enormes, que fosse resolvido um problema para a decolagem. Anotada a frase inicial numa pauta improvisada e concluída a melodia um dia depois, Menescal entregou-a a Chico e ficou esperando a letra. Só que o poeta demorou tanto, que chegou o dia da gravação sem que ele a tivesse aprontado. Finalmente, na hora da mixagem, com o tema principal gravado no seu tom, Chico entrou no estúdio trazendo uma imensa tira de papel, com uma letra maior do que se poderia desejar...Mas Cacá logo resolveu a parada da maneira mais prática. Leu os versos até certo ponto e decretou: "tá bom até aqui", cortando o resto com uma tesoura. Assim foi gravada por Chico Buarque a excelente canção "Bye Bye, Brasil", bem vinculada ao enredo do filme, com um personagem narrando num telefone público suas aventuras ambulantes para a namorada: "Oi, coração / não vai dar pra falar muito não / espera passar o avião / assim que o inverno passar / eu acho que vou te buscar / aqui tá fazendo calor / deu pane no ventilador / já tem fliperama em Macau..." Foi desta gravação que se originou o compacto duplo do filme de grande sucesso. Depois, Chico fez nova gravação com outro arranjo de Menescal para o elepê, enquanto o músico a gravava em versão instrumental para o seu disco Ditos e feitos. Existem ainda outras versões de destaque como a do Grupo Pau Brasil e a de Zé Roberto Bertrami, com Hélio Delmiro, premiada pela revista Playboy. Meses mais tarde, Menescal viveria uma experiência pitoresca em Cabo Frio. Tocando numa reunião de amigos, foi interpelado por uma garota: "Você sabe aquela música do Chico Buarque, 'Bye Bye, Brasil'? Ah, toca pra gente cantar..." Então, com sua calma habitual, o autor ignorado tocou sua música, por sinal uma das mais difíceis de sua obra. Que o digam os que se atrevem a gravá-la, pois enquanto a melodia tem diferenças sutis, às vezes apenas uma notinha entre frases aparentemente iguais, a harmonia é uma sugestiva sucessão de acordes ao improviso". Jairo Severiano /Zuza Homem de Melo


"...Chico viu o filme já pronto e sonorizado antes de pôr letra na música de Roberto Menescal. O diretor lhe pediu que tirasse "duas ou três coisinhas" - uma delas, o verso tem um japonês 'trás de mim. Cacá temia que parecesse uma alusão ao ministro das Minas e Energia do governo Médici, Shigeaki Ueki. Chico conseguiu dobrá-lo e o japonês ficou. Mesmo que o ministro Ueki fosse aquela pessoa na fila do orelhão em Bye bye Brasil, como chegou a desconfiar Cacá Diegues, Chico dificilmente confirmaria. Não se conte com ele para buscar na vida real as chaves de suas canções.  Humberto Werneck

Oi, coração
Não dá pra falar muito não
Espera passar o avião
Assim que o inverno passar
Eu acho que vou te buscar
Aqui tá fazendo calor
Deu pane no ventilador
Já tem fliperama em Macau
Tomei a costeira em Belém do Pará
Puseram uma usina no mar
Talvez fique ruim pra pescar
Meu amor

No Tocantins
O chefe dos parintintins
Vidrou na minha calça Lee
Eu vi uns patins pra você
Eu vi um Brasil na tevê
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo tão só
Oh, tenha dó de mim
Pintou uma chance legal
Um lance lá na capital
Nem tem que ter ginasial
Meu amor

No Tabariz
O som é que nem os Bee Gees
Dancei com uma dona infeliz
Que tem um tufão nos quadris
Tem um japonês trás de mim
Eu vou dar um pulo em Manaus
Aqui tá quarenta e dois graus
O sol nunca mais vai se pôr
Eu tenho saudades da nossa canção
Saudades de roça e sertão
Bom mesmo é ter um caminhão
Meu amor

Baby, bye bye
Abraços na mãe e no pai
Eu acho que vou desligar
As fichas já vão terminar
Eu vou me mandar de trenó
Pra rua do Sol, Maceió
Peguei uma doença em Ilhéus
Mas já tô quase bom
Em março vou pro Ceará
Com a benção do meu orixá
Eu acho bauxita por lá
Meu amor

Bye bye, Brasil
A última ficha caiu
Eu penso em vocês night and day
Explica que tá tudo okay
Eu só ando dentro da lei
Eu quero voltar, podes crer
Eu vi um Brasil na tevê
Peguei uma doença em Belém
Agora já tá tudo bem
Mas a ligação tá no fim
Tem um japonês trás de mim
Aquela aquarela mudou
Na estrada peguei uma cor
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo um jiló
Eu tenho tesão é no mar
Assim que o inverno passar
Bateu uma saudade de ti
Tô a fim de encarar um siri
Com a benção de Nosso Senhor
O sol nunca mais vai se pôr

1 de abril de 2014

Sumidouro, Olho d'água



A belíssima canção Olho d'água, gravada por Milton Nascimento em Clube da Esquina 2, é de fato comovente e a forma como alinhava os sentimentos e sensações na letra e no arranjo, pode mesmo levar o ouvinte às lágrimas. Instalando um estado ambivalente, suspenso, em que o tempo, as ações humanas, as manifestações da natureza e do espaço, tudo oscila entre o já ter se passado e o sequer acontecido, entre o encontro e a separação, a lembrança e o esquecimento, o perdido e o localizado. O jogo de duplos nos remete ainda aos cantos que embalam crianças, às valsas de ninar. Nos movemos, junto com a música, entre os lugares e estados da alma, entre as pessoas perdidas, encontradas. Tempos ainda sombrios, em que era importante enfrentar o desaparecimento das gentes, dos sonhos, da vida. A lista das cidades, como se vê pelo relato do Paulo Jobim, traz um certo jogo em que todos sugeriam mais uma peça. A grande habilidade do Ronaldo Bastos fez pequenas arrumações que dão toque extra pelas justaposições, como em "Morro Velho, Ponte Nova", "Vista Alegre, Cruz das Almas" ou "Poço Fundo, Montes Claros". E, enfim, "Sumidouro, Olho d'água". Evocar nomes, lugares, lembranças, era dizer não às ausências.

“Olho d’água” nasceu como uma valsa no violão, que meu pai tinha gravado só com cordas lá nos Estados Unidos e eu nem participei, e o Milton já gostava e ela sempre teve um princípio de letra assim. E nessa época o Ronaldo completou uma letra e a gente botou o nome de tudo quanto era cidade possível, então tem as cidades misturadas de Minas com o Rio de Janeiro. Tem um pedaço dela que é só: “Maravilha… não sei o que…”
Então uma salada… Guanabara… Uma salada de cidades ali que todo mundo ia dando palpites: “Bota mais uma!” (RISOS) Depoimento de Paulo Jobim ao Museu Clube da Esquina
[completo, aqui]


Olho d'água (Paulo Jobim/Ronaldo Bastos)





E já passou, não quer passar
E já choveu, não quer chegar
E me lembrou qualquer lugar
E me deixou, não sei que lá


Não quer chegar e já passou
E quer ficar e nem ligou
E me deixou qualquer lugar
Desatinou, caiu no mar


Caiu no mar, 

Nena
Pipo, cadê você?
Dora, cadê você?
Pablo, Lilia, cadê você?


Beira Rio
Duas Barras
Morro Velho
Ponte Nova
Maravilha
Buracada
Sumidouro
Olho-D'Água


Não quer chegar e já passou
E quer ficar e nem ligou
E me deixou qualquer lugar
Desatinou, caiu no mar


Caiu no mar, 

Pedro
Chico, cadê você?
Lino, cadê você?
Zino, Zeca, cadê você?


Vista Alegre
Cruz das Almas
Maroleiro
Asa Branca
Bom Sossego
Santo Amaro
Poço Fundo
Montes Claros
Cachoeira
Mambucaba
Porto Novo
Água Fria
Andorinha
Guanabara
Sumidouro
Olho-D'Água