Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

8 de janeiro de 2011

Um encontro do jazz com a MPB

Prometi escrever mais um pouco sobre o assunto da última postagem, e quero tentar manter um ritmo mais frequente no blog. Quando comecei a pesquisar a história da música popular, sempre gostei de encontrar discos com encartes, encontrando neles informações úteis e elementos relevantes para entender o objeto de estudo. Hoje acredito que um dos atrativos que sobressai no LP de vinil é o encarte, e mesmo em alguns bons cds, algo que se perde um pouco quando se "baixa" música na Internet, mesmo que eventualmente haja material gráfico digitalizado acompanhando os arquivos de som. Os discos de jazz normalmente primam pelo cuidado com os encartes, apresentando muitas vezes textos escritos por críticos, muito reveladores de posições e interpretações que circulavam a respeito de temas que me interessaram nos anos de mestrado e doutorado. É justo o caso do 500 miles high, da Flora. Lembro até hoje o dia que comprei o cd, importado, numa loja recém-inaugurada na Savassi, em BH. Foi o maior preço que já paguei por um cd na vida, mas me livrei da "culpa" com o álibi de que era para a tese (diga-se de passagem, um álibi muito bom pra fazer coisas que geram muito mais culpa). Vou mandar então um trecho do encarte, bem significativo, pra abrir um debate sobre o encontro do jazz com a MPB (pretendo fazer uma série sobre o assunto no blog). Segue aí:
“No início dos anos 70, quando o jazz ganhava cores elétricas e exóticas em sua encarnação fusion e a bossa nova estava sendo similarmente distendida num estilo chamado MPB, Flora Purim e seu marido Airto Moreira representaram uma conjunção particularmente clara de novas idéias musicais (...)”

5 de janeiro de 2011

Pra começar 2011

Dando as boas-vindas ao ano de 2011, uma bela imagem que remete ao tema do renascimento, simbolizado pela borboleta. É a capa do disco Butterfly Dreams da Flora Purim. Efeito simples, mas bonito. Sou muito fã da Flora, pra mim uma das melhores cantoras da história da nossa música. Quando comecei o doutorado tinha a intenção de escrever um capítulo sobre ela e o marido, o percussionista Airto Moreira. Cheguei a fazer um contato com a produtora deles em Los Angeles e recebi de lá um envelope com muito material. Acabou não saindo o capítulo, mas alguma coisa entrou, incluindo a análise desse disco e do 500Miles High, que foi gravado no Festival de Montreux e tem a participação do Milton e mais alguns membros do Clube da Esquina. Depois vou postar alguma coisa desse material junto com um trecho da tese sobre o assunto. Aguardem. Mais uma vez, que 2011 decole ao som de muita música boa (começando por Dr.Jive, primeira faixa do disco)!