Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
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27 de setembro de 2017

A canção e o humor contra a violência

Entre os dias 2 e 4 de outubro próximo, na Escola de Arquitetura da UFMG, acontecerá o Colóquio Internacional O humor contra a violência na cidade. Juntamente com a colega Miriam Hermeto, do Departamento de História da UFMG, coordeno a sessão A canção e o humor contra a violência [todos os detalhes aqui]. 


Uma versão resumida da apresentação:
A canção popular se define basicamente na refinada coordenação entre música e letra, imbricadas a ponto de configurarem um ente único. Nas relações entre o formato-canção e o meio urbano, definem-se espaços de produção, circulação e consumo, estabelecendo as ligações entre seus artífices, os mediadores culturais e o público. Assim, a canção tem sido tratada como um híbrido: produto de mercado, obra de arte, expressão de representações sociais e elemento catalisador de sociabilidades. Sempre foi uma forma de pensar o social e seus conflitos, inclusive a violência, desenvolvendo uma tradição crítica marcada por recursos expressivos, como o humor, em suas diversas tonalidades: a farsa, a ironia, o sarcasmo, a sátira, o humor negro, a paródia, o nonsense, entre outros. Ressalta-se que o recurso da crítica, na linguagem cancional, emerge não apenas nas palavras, mas na relação entre texto e elementos sonoros, como melodias, ritmos, timbres, ruídos, harmonias, arranjos, citações, etc.


Procurando sair um pouco da rotina dos formatos tradicionais de eventos acadêmicos, decidimos montar uma sessão que partisse do princípio de que dedicaríamos um tempo maior para a audição e debate, após apresentações mais curtas dos 4 convidados:


As sonoridades do humor, com Guilherme Castro, Doutor em fundamentos teóricos aplicados à produção musical pela UNICAMP e Mestre em sonologia/música e tecnologia pela UFMG. Professor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix e da UEMG. Compositor, guitarrista, vocalista e produtor musical.

A canção como mediadora dos conflitos sociais, com Makely Ka, Poeta, cantor, violonista, produtor cultural e compositor.

À la lanterne: humor e violência na Paris sob a Revolução de 1789, com Allysson Lima, Mestre e graduado em História pela UFMG.

“Nós vamos invadir sua praia”: violência social e marginalização geográfica na cidade do Rio de Janeiro, com Bruno Vinícius de Morais, Doutorando, mestre e graduado em História pela UFMG.
Só pra dar o gostinho montei aqui uma lista com algumas das canções que iremos debater na sessão:









P.S. Síntese do evento:

Corri pra não perder o ônibus e chegar em tempo na Escola de Arquitetura para coordenar junto com Miriam Hermeto a sessão musical do colóquio O humor contra a violência na cidade, contando com uma escalação de prima na mesa com Guilherme Castro Allysson Lima Bruno Vinícius de Morais e Makely Ka, o prestimoso apoio da Maria Letícia Ticle e demais colegas da organização. Com a proposta de fugir, ainda que parcialmente, do lugar comum das mesas acadêmicas, promovendo a coloquialidade, passeamos por diversas épocas, contextos e gêneros, ouvimos de tudo um pouco, de marcha revolucionária francesa a rock brasileiro e samba de breque, falou-se de Mozart a Rincon Sapiência, cantou-se alguma coisa, de introdução de Bohemian Rhapsody a refrão de pagode. Que esse ecletismo não engane os desavisados. Análises argutas puseram a nu os conflitos sociais, as querelas estéticas, as disputas políticas, demonstrando como a canção tem enorme energia centrípeta, capturando em seus termos os embates e deles participando tantas vezes exercendo pelo humor formas de mediação que sugerem acomodações mas também alguma forma de violência, que pode ser do tipo que demole as convenções e os mitos, dessacraliza os grandes e dá voz aos silenciados. Esse humor que é um recurso indispensável para a vida democrática, hoje tão ameaçada.

27 de maio de 2016

O "falso inglês" na BH Beatleweek

Motivado por uma conversa recente com o colega pesquisador e igualmente beatlemaníaco de carteirinha Lauro Meller, que não por acaso encontra-se atualmente em Liverpool fazendo o pós-doutorado, lembrei-me de uma pesquisa em campo realizada no final de 2013, por ocasião da 2a. edição da BH Beatleweek. Esse trabalho acabou sendo apresentado em alguns eventos acadêmicos e foi finalmente publicado esse ano, no artigo que escrevi junto com o Pedro Marra, pesquisador e coautor em várias empreitadas e colega de grupo de pesquisa no Nucleurb/CCNM  da UFMG. O artigo completo, Praças polifônicas: o som e a música popular como tecnologias de comunicação no espaço urbano, publicado na Revista FAMECOS do PPGCOM da PUC do Rio Grande do Sul, pode ser acessado aqui
O trecho que destaco acho bem expressivo da nossa metodologia, da forma como procuramos pensar a articulação entre o espaço urbano e o som  simultaneamente em seus aspectos materiais e simbólicos, e passa de uma descrição mais geral do ambiente (complementada pelas fotografias que tirei) para a análise de uma situação bem particular, ocorrida dentro do evento, para em seguida, na análise, adotar uma perspectiva panorâmica, global, sem contudo descuidar do objeto em seu contexto micro, local:


"Deve notar-se que os quarteirões fechados proporcionam uma acústica adequada da forma como configuram lacunas entre duas fileiras de edifícios que não são altos, mas atuam como paredes. Os bares ou cafés que promovem apresentações de música ao vivo aproveitam-se dessa arquitetura, posicionando palcos improvisados e equipamentos de som dos músicos de costas para as avenidas e para o interior das ruas fechadas, onde estão posicionadas as suas mesas e cadeiras dobráveis. Percebemos, por um lado, um esforço para demarcar os limites da propriedade – o que amplia para o espaço da rua a fronteira do bar e reproduz, portanto, a lógica privada dos espaços comerciais – e marcar o perfil do público que se sentam em suas mesas para comer enquanto conversa e ouve música, e, do outro lado, uma série de práticas que desafiam ou tentam adaptar-se aos limites impostos. O caso da Status parece particularmente significativo:

As divisórias ostensivas de fato reforçam a divisão que de alguma forma já opera ali no quarteirão fechado da Status e do McDonald’s. Os meninos pobres, catadores, moradores de rua, hippies e pedintes ficavam nas margens, embora por vezes se aventurassem em passar entre as mesas e pessoas que estavam em pé na área delimitada por elas em frente aos bares. Em geral para pedir dinheiro ou catar latinhas. Um deles interagiu comigo, um senhor que carregava um saco de lixo nas costas, mas não catava nada. Bebia uma cerveja e ofereceu colocar um pouco no meu copo, mas neste havia pequenos churros que comprara no Fujiama, na esquina seguinte à do quarteirão fechado. Ofereci e ele aceitou um, trocamos sorrisos, e ele seguiu passando no meio das pessoas. Em outro momento, enquanto uma das bandas (Nélson e os Besouros - RS) tocava Twist and Shout, passou por mim um adolescente, descalço, sujo e maltrapilho, tentando acompanhar a canção num “falso inglês” como aquele que utilizam os lavadores de carro “otcheiquirobeibe/ pissensau...[well, shake it up, baby/twist and shout]” e coisas do tipo.[1]

A atividade de catar latinhas assinala uma liminaridade aí, na medida em que as latas são simultaneamente o resto do consumo dos clientes do bar e o ganha pão dos catadores (figura 6). O ‘falso inglês’ por sua vez representa um marcador de diferença. A apropriação realizada pelo jovem que passou por mim demarca a tensão entre o inglês globalizado que circula através de uma canção muito veiculada pela indústria cultural e sua forma “localizada” em que se guarda a sonoridade mas se impõe uma dicção abrasileirada. Ao cantá-la desse modo o rapaz não deixa de assinalar que encontra uma forma de integrar o fluxo global do qual a canção participa, ao mesmo tempo em que se encontra desprovido do capital cultural/social que o habilitaria a estudar inglês regularmente para apropriar-se com precisão do que está cantando. Usamos “localidade” aqui como categoria relacional e contextual, “[...] constituída por uma série de elos entre o sentido de imediaticidade social, as tecnologias de interatividade e a relatividade dos contextos” (Appadurai, 1996, p.178). Neste sentido, ao apropriar-se e “transcultural” em seu contexto o que emite a aparelhagem de som, esse sujeito participa da produção espacial da “localidade” (Appadurai, 1996, p.179)."
[GARCIA e MARRA, 2016]

Fig. 6: Público nas mesas da Status durante a BH BeatleWeek, com palco ao fundo; Plano mais próximo da borda do quarteirão fechado, mostrando artesãs e ambulantes nos bancos de pedra,
14 de dezembro de2013. Detalhe para as grades de separação em 2° plano.
Fotos: Luiz Henrique Assis Garcia





[1] Luiz Henrique Assis Garcia. A. Relato de campo, durante a BH Beatle Week. Praça da Savassi. Belo Horizonte, 14 de dezembro de 2013. 1p.

6 de abril de 2014

Beatles: aqui, ali, em todo lugar - XI Congresso da IASPM-AL

De 13 a 18 de Outubro 2014 será realizado o XI Congresso da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular -Seção Latino-americana (IASPM-AL)* em Salvador (UFBA) e também, no último dia do evento, Cachoeira (UFRB). Segundo a página do evento [entre aqui]: "O tema geral do congresso enfatiza a relação entre música e lugar através do amplo tema da 'territorialidade'.". Na condição de recém-filiado à entidade, e dividindo a coordenação com o prezado colega Lauro Meller, da UFRN, convidamos pesquisadores daqui, dali, de todo lugar, a enviar propostas na forma de resumos em até 600 palavras em arquivo word diretamente para o e-mail lauromeller@ymail.com , até o dia 30 de abril. As propostas aprovadas serão divulgadas no dia 31 de maio. Segue a ementa do nosso simpósio, cujo título é Beatles: aqui, ali, em todo lugar

"Em 2014 completam-se 50 anos da primeira viagem dos Beatles aos EUA e do subsequente disparo da beatlemania como fenômeno mundial, marco significativo da história da música popular. As trajetórias traçadas pelos Beatles articulam, de várias formas, música e lugar, assinalando trocas culturais que marcam a construção de identidades de grupos e territórios, indo do local ao global e evidenciando uma obra que interfere nos espaços e culturas pelos quais circula. Cumpre lembrar que a música popular, em sua trajetória social-histórica, está intimamente relacionada às transformações próprias da modernidade, como a urbanização, a presença das massas na cidade e a introdução dos meios massivos de comunicação. Sendo um construto que se desloca entre o transitório e o permanente, torna-se objeto privilegiado para pensar a reprodução ou a reinvenção dos laços sociais nos universos densos, abertos e heterogêneos das sociedades contemporâneas. Se a canção pode informar um “sentido de lugar” para indivíduos e comunidades (STOKES, 1994), pode representar, simultaneamente, um “lugar de sentido”, configurando-se como ponto nodal em que disputas simbólicas são travadas, forças sociais são mobilizadas e interlocuções possíveis são construídas (GARCIA, 2013). Em relação à obra dos Beatles, diversos estudos sinalizam as dinâmicas de territorialização envolvidas, desde sua influência na configuração de uma sonoridade local em Liverpool e no Merseyside (COHEN apud. STOKES, 1994) à atribuição de sentido a lugares específicos em sua cidade natal (NEGUS, 1996; KRUSE II, 2005, GARCIA, 2011); desde as referências ao “pastoral suburbano”, que podem ser associadas a uma “inglesidade” (DANIELS, 2006) aos trabalhos que a abordam um cenário globalizado, em contato com outros contextos e músicos populares (MELLER, 1998). Desse modo, são bem-vindos trabalhos que tratem da trajetória da banda, da cena local à “invasão britânica”, da recepção pelo público ao redor do mundo (com destaque para as Américas), de sua apropriação hibridizada por compositores e intérpretes variados (bandas que, por sua imagem ou por características musicais, são evocativas dos Fab Four; grupos e intérpretes que gravaram versões de canções dos Beatles; alusões em capas de álbuns; bandas tributo), da referência ao lugar nas escolhas estéticas em suas canções e álbuns, e do consumo globalizado de sua música e imagem através das diversas mídias, dos roteiros turísticos ou das práticas colecionadoras, entre outros. Propostas de análises da própria obra dos Beatles, sejam elas sob viés musicológico, literário, historiográfico, filosófico etc., serão igualmente bem-vindas."


*"A IASPM-AL é um espaço de convergência multidisciplinar em torno da reflexão sobre as músicas populares latino-americanas e caribenhas em qualquer de suas dimensões estéticas, usos e períodos históricos. Em sua qualidade de associação, se define como um espaço acadêmico de gestão e coordenação aberto a todos os campos de pesquisa sobre música. Suas atividades incluem tanto a transmissão de experiência de músicos práticos quanto a produção teórica de estudiosos e acadêmicos que realizam aportes ao conhecimento social por meio da problematização das músicas populares."

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P.S. Não posso deixar de mencionar que hoje mesmo testemunhei, em ótima companhia, a manifestação dessa articulação de tempos e lugares que a música dos Beatles promove, ao assistir o concerto da Orquestra Ouro Preto na Praça da Liberdade em Belo Horizonte. Com belos arranjos e ótima integração com a plateia, os músicos desfiaram para o grande público que lotou a praça da capital mineira os clássicos do repertório do quarteto de Liverpool.   

6 de novembro de 2013

Museu Clube da Esquina e lugares da cidade na Semana do Conhecimento e Cultura da UFMG 2013


Parte das atividades de pesquisa que venho desenvolvendo envolvem a orientação de bolsistas de iniciação científica. É uma satisfação apresentar a seguir uma síntese do trabalho recentemente apresentado pela bolsista Julianne Paranhos (o texto e as fotos são dela):

Durante a Semana do Conhecimento e Cultura da UFMG, que ocorreu entre os dias 21 a 25 deste mês, apresentei (Julianne Paranhos) os primeiros resultados das pesquisas desenvolvidas no Projeto Museu Clube da Esquina: do sonho à cidade, coordenado e orientado pelo Prof. Dr. Luiz Henrique de Assis Garcia. As pesquisas foram realizadas em diálogo entre Museologia, História e Antropologia Urbana, e buscaram perceber os laços simbólicos e de apropriação dos citadinos para com três dos lugares (ARANTES, 1994) demarcados com placas comemorativas pelo Museu Clube da Esquina* – o Edifício Archangelo Maletta, o Edifício Levy e a Esquina no Bairro de Santa Tereza. Muitos dos processos da pesquisa foram expostos aqui na página e aproveito para também compartilhar a conclusão parcial- pois, o projeto ainda está em andamento - apresentada no evento. Os lugares abordados na pesquisa, ao serem demarcados com as placas, transformam-se por meio de uma ação museológica extra-muros (MENESES: 2003). À esquina, locus adotado pelos músicos e letristas para a constituição da identidade da formação cultural em questão, pode ser incluído à ideia de lugar os sentidos atribuídos pelas canções do Clube da Esquina e a placa ali instalada reforça esses sentidos. Já nos Edifícios Levy e Maletta, estas  apresentam aos citadinos seus sentidos de lugar.



As placas celebram situações e ao serem percebidas pelos citadinos, colaboram para trazer à tona memórias de diferentes naturezas marcando no tempo e no espaço os sentidos construídos sobre e no lugar, sentidos estes que se fundem com os novos usos e significados que as pessoas atribuem ao espaço urbano.


“Isso é um memorial, marca um momento, de um tempo onde a galera se encontrava, onde as coisas começaram. É um símbolo, o lugar é um emblema. Santa Tereza é um bairro rico, especifico do pessoal da música e o movimento do Clube da Esquina atrai outros músicos e a música é o que lembra o ambiente, é a música que faz lembrar o fato do passado. As placas guardam a memória de uma coisa que está muito viva.” (Grifo meu) Flávio Emauel. Entrevista concedida à autora no dia 04 de junho, na esquina no Bairro de Santa Tereza.




“Mas você está no lugar errado! O Clube da Esquina é lá em Santa Tereza!” 
“A noite é cara, tem que pagar para entrar nos lugares e os shows na rua acabaram (...). Depois veio a geração do Skank que faz show na praça. Hoje o povo quebra as praças. Hoje o povo não tem cultura e quebra tudo. Antigamente o povo entrava na borracha. A ditadura foi ruim, mas não tinha mendigo, a gente tinha que trabalhar. O povo pede dinheiro para droga, não é para comida. A polícia distribuía borracha”. João Martins. Entrevista concedida à autora no dia 13 de maio, na Av. Amazonas em frente ao Edifício Levy.

“Essa placa aqui cumpre a função de representar a memória de BH. Inclusive o Carlos Drummond de Andrade, frequentava aqui, os intelectuais freqüentavam esse lugar”. Karminha Primo. Entrevista concedida à autora no dia 23 de maio, no Edifício Maletta. 

Espaço de encontro e trocas culturais entre intelectuais, músicos e artistas durante as décadas de 1960 e 1970, atualmente o Edifício Maletta ainda se conforma como um lugar de encontro de pessoas associadas e interessadas com a produção artística em geral. Assim como no caso do Edifício Levy, a placa precisa ser percebida para que o sentido de lugar atribuído, construído a partir da memória do Clube da Esquina, possa ser apreendido pelos frequentadores do lugar. 


Referências Bibliográficas:


  AGIER, Michel. “Introdução”, “Um etnólogo nas cidades”, “Os saberes urbanos da antropologia”, “Situações elementares da vida urbana”. In._:Antropologia da cidade: lugares, situações, movimentos. São Paulo, SP: Editora Terceiro Nome, 2011.

  ARANTES, Antonio Augusto. “A Guerra dos Lugares”. In._: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nº 23. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994.

  AUGÉ, Marc: Não-Lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Tradução Marília Lúcia Pereira.Campinas, SP: Papirus, 1994.

  BORGES, Márcio. Os sonhos não envelhecem: histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial, 1996.

  GARCIA, Luiz H. A. “Canções Feitas na Esquina do Mundo: música popular e trocas culturais na metrópole através da obra do Clube da Esquina”. In._: Revista Brasileira de Estudos da Canção. Natal, n.2, jul./dez. 2012.

  ______________. “Patrimônio Urbano e Música Popular: narrativas plurais na cidade e no museu”. IV SIAM (Seminário de Pesquisa em Museologia dos Países de Língua Portuguesa e Espanhola) / 21 ICOFOM LAM.Petrópolis: UNIRIO/MAST, 2012, trabalho completo apresentado em Seminário. (imp.), 12p.
LEITE, Rogério Proença Leite. Contra-Usos da cidade: Lugares e espaço público na experiência urbana contemporânea. 2º Ed. Campinas, SP: Editora da Unicamp; Aracajú, SE: Editora UFS, 2007.

  MAGNANI, José Guilherme Cantor. “De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana”. In._: Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 17, nº 49. Jun., 2002.

  MATTOS, Paulo César Vilara de.  “Entrevistas Márcio Borges”, “Palavra de parceiro Borges” e “Palavras de Parceiro Milton Nascimento”. In._: Palavras Musicais: letras, processo de criação, visão de mundo de 4 compositores brasileiros. Belo Horizonte: s. Ed., 2006.

  MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. “O museu de cidade e a consciência da cidade”. In._: Afonso Carlos Marques dos Santos, Carlos Kassel e Cêça Guimarães [Org.]. Museus e Cidades: Livro do Seminário Internacional. Museu Histórico Nacional: Rio de Janeiro, 2003.

  MUSEU CLUBE DA ESQUINA. Guia de Belo Horizonte: roteiro Clube da Esquina. Belo Horizonte: Associação dos Amigos do Museu Clube da Esquina, 2006.

  OLIVEIRA, Roberto Cardoso. “O trabalho do Antropólogo: olhar, ouvir e escrever”. In._: O Trabalho do Antropólogo. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Editora Unesp, 2000.

*O projeto recebe bolsa IC FAPEMIG e apoio da PRPq/UFMG

15 de julho de 2012

A faixa de pedestres mais famosa do mundo!

Um dos temas que abordo constantemente em minhas pesquisas é a relação da música popular com os lugares da cidade. Muitos locais prosaicos, tornaram-se, depois de serem abordados em uma canção ou retratados numa capa de disco, espaços recobertos de significados diferentes dos que a princípio guardavam. É o caso da faixa de pedestres mais famosa do mundo, em Abbey Road, Londres, local em que os Beatles posaram para a capa do álbum homônimo (falei dela em postagem anterior). O endereço dos estúdios em que os Beatles gravaram a maior parte de sua obra também foi citado na canção abaixo, do álbum de estréia da banda 14Bis:


Perdido em Abbey Road (Vermelho/Flávio Venturini)

Esses lugares também são cada vez mais apropriados em um viés mercadológico, como roteiro turístico e como "produto cultural". Reconhecer esse processo não implica dizer que se apagam outras formas de apropriação, mas que este deve ser considerado como compenente que constitui as relações, eventualmente conflituosas, que dão forma ao espaço urbano.  Os estúdios Abbey Road posicionaram uma webcam que permite visualizar "ao vivo" a faixa e as práticas de pedestres e motoristas em seu entorno [abbey road crossing webcam]. Que objeto privilegiado para observação!

11 de março de 2012

Caetano muito bacana: a formação de um músico popular

Trecho do especial 4a. Nobre (Rede Globo) de 1973 (o original tem 42 min.), belas imagens da Bahia e entrevista bacana com Caetano Veloso e depoimento de parentes, vizinhos... Entre tantas coisas, ele fala de Santo Amaro, Salvador e São Paulo. Uma fala interessante, logo no início, é a que aborda a importância do rádio em sua vida e formação como músico. Lembrei imediatamente do 2° capítulo da minha tese (GARCIA, 2007) [para baixar e ler, aqui], na parte em que comparo os anos de formação através de relatos auto-biográficos de Caetano, Gil, Chico, Edu e Milton. 
Transcrevo de lá algo sobre o assunto, com algumas citações incorporadas das leituras que pesquisei à época:


"(...) Sendo todos eles advindos dos extratos médios da sociedade brasileira, e mesmo tendo alguns deles vivido em cidades interioranas até a juventude, há alguns elementos recorrentes nas descrições que fazem das manifestações da música em seu ambiente doméstico. A presença de eletrodomésticos responsáveis pela transmissão e reprodução musical, como rádios e vitrolas, traz à lembrança de Edu Lobo todo um repertório sonoro:

“Agora estou me lembrando de uma vitrola. (...) Lembro muito de ouvir Frank Sinatra, que tinha na minha casa. As músicas de George Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin, os compositores americanos da época. E brasileiros, muitos: Aracy de Almeida cantando Noel, as canções do Caymmi, as canções do Herivelto Martins, do Lupicínio [Rodrigues], as cantoras todas, a Nora Ney.” (NAVES, COELHO & BACAL, 2006: 226)

O mesmo vem à tona na fala de Chico Buarque:

“(...) eu ouvia muito rádio. E tocava na época [adolescência] música francesa, muita música latino-americana, muita música americana. E brasileira, especialmente na época de Carnaval, em que tocavam aqueles sambas, aquelas marchas.(...) E depois a primeira safra do rock, com Elvis Presley, Little Richard e aquela gente toda (...)” (NAVES, COELHO & BACAL, 2006: 165)

Milton Nascimento também pontua uma série de referências a partir do acervo discográfico de sua casa: “(...) a gente tinha os discos de operetas, música clássica, temas de filmes (...) os discos das cantores de jazz com grandes bandas... Então, lá em casa, sempre ouvi de tudo (...)” [Entrevista concedida a Márcio Borges para encarte do CD coletânea de Milton Nascimento produzido pela revista Seleções em 2002, p.27.]

Fosse pelo rádio ou pelo disco, o que se ouvia representava um espectro razoavelmente grande da canção popular nacional ou de outras procedências. Tanto Chico quanto Caetano Veloso viriam a se valer, anos depois, do vasto conhecimento do repertório da música popular brasileira anterior à bossa nova adquirido através destes meios, quando participaram do programa televisivo Esta noite se improvisa. Em Verdade Tropical, Caetano recorda-se das horas gastas ao piano da sala de sua casa em Santo Amaro “(...) no qual tirava de ouvido canções simples aprendidas no rádio (...)”, ainda que as harmonias fossem massacradas pelas limitações de sua percepção (VELOSO, 1997: 28).