Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

22 de abril de 2020

Ouvindo um museu - um registro de campo no The Beatles Story, em Liverpool

Em 2015 estive na Inglaterra para apresentar uma comunicação num evento internacional e realizar  diversos trabalhos em campo, em Londres e Liverpool. Com apoio do CNPq, aliás. Isso era parte do investimento em pesquisas sobre as relações entre patrimônio cultural e música popular, veio que continuo explorando. 
Atualmente tenho pesquisado também o papel do som de maneira mais ampla, tanto enquanto acervo que exige cuidados específicos quanto como recurso expográfico que também traz demandas e desafios para seu emprego nos museus. Estava aqui lendo um artigo de Nathalia Lavigne na Folha [aqui] falando em overdose de lives e experiências sensoriais visuais em tempos de quarentena, e me lembrei do  registro em áudio do que fiz percorrendo os diversos módulos da exposição permanente do museu The Beatles Story, em Liverpool, Inglaterra, em 21/06/2015, de 17:20 às 18:20. Alguns trechos são comentados. Foi feito também um registro fotográfico a ser disponibilizado em conjunto com esta gravação.



Para quem quiser acompanhar com mais detalhe, pode ler o trabalho completo que apresentei naquele mesmo ano no 2º Seminário Brasileiro de Museologia (Sebramus) e/ou ver uma apresentação mais simples em slides de uma comunicação que realizei em outra ocasião na UFMG. 

19 de abril de 2020

Bolacha completa - Terra, vento, caminho (1977), de Dércio Marques

Fico muito contente em inaugurar uma nova fase da coluna "Bolacha completa", trazendo como colunista convidado meu caríssimo e admirado Felipe José, compositor, multi-instrumentista e professor do curso de Música da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana). Quem quiser pode sacar melhor o trabalho e o currículo dessa grande figura. Estamos ainda desenhando uma proposta, mas podem esperar coisa boa a caminho, como séries temáticas dentro da coluna. Por agora fiquem com a postagem de estreia, que foi a motivação para esse convite. Vamos longe!


-- V --


Um disco de música forte e misteriosa, do mineiro (de Uberlândia) filho de Uruguaio, cabra forte e lamentavelmente muito pouco conhecido: Dércio Marques. Nesse álbum, o primeiro da carreira de #derciomarques - lançado em 1977 - aparecem canções de #atahualpayupanqui e também de #elomarfigueiramelo, além de canções autorais. Gosto muito dos arranjos e da força dessa música que não sei nomear... um misto de canção simples com música devocional pagã e mineiridade clássica (leia-se #sacroprofana). Uma beleza pra guardar direitinho no peito de gente humana.
Tive a sorte desse disco aparecer na minha mão um certo dia desavisadamente num sebo em São João del Rei, me me deleitei com um teor musical de tipo enigmático pra mim. Depois vim a saber, pela minha amiga @deatrancoso_oficial - também figura forte enigmática - que o tal Dércio era ligado à natureza e aos vegetais, e dei ainda mais valor à esse disco que conjuga coisas simples e poderosas: TERRA, VENTO, CAMINHO. De lá pra cá o escuto a tempos esparsos, sem me deter demasiado, mas sempre, a cada encontro, tenho uma sensação de força profunda, coisa de raiz de árvore grande. #minasgerais #musicamineira #musicabrasileira #violao #songs #latinoamerica #sertao #brasil #brasilprofundo #musicaboa #voz #ohminasgerais

Por Felipe José 

 

13 de abril de 2020

Começar e acabar chorare por Moraes


Começamos a semana com a triste notícia da partida de Moraes Moreira, passarinho da MPB que agora baterá asas nas nossas lembranças. Seu último gorjeio, como informa essa matéria no G1 da Bahia, foi um cordel sobre a atual pandemia do novo coronavírus. Haverá certamente muitos textos que celebrem a carreira, a obra e a energia criativa dele, com os Novos Baianos e no brilho próprio como artista solo. Tinha um violão brasileiro cheio de suingue, melodias contagiantes, letras lúdicas e vivas. Estarão perdidas as contas do tanto de corpos e sorrisos que embalou anos a fio em agitos elétricos e acústicos, e continuará a embalar. Para mim pensar agora em Moraes Moreira começa por um obrigatório exercício de rememoração da infância. Para quem tiver, como eu, nascido em meados da década de 1970, provavelmente terá sido nos carnavais e brincadeiras de criança que chegou a seus ouvidos deliciosas canções como "Pombo correio" ou sua inconfundível interpretação de "As abelhas" do musical Arca de Noé. Depois a grande explosão de amor nas trincheiras da alegria, "Festa no interior", sucesso multiplicado na voz de Gal Costa. Ver o Moraes diante da massa é impressionante.





Depois viria a associação da música com a pessoa, um fenômeno que, como vivi a infância em que o som era de fita cassete e rádio, mas sem vinis, dependia muito da mediação do aparelho de TV, num tempo em que os canais estavam abertos à música popular mais esmerada feita entre nós. E lá estava ele, sempre uma figura que transpirava energia e tomava a tela, especialmente com aquele cabelo grande, que troféu maravilhoso de mestiçagem - aquela de que só bem mais velho fui perceber a sutil negação na constância com que me levavam pra cortar bem rentes os meus virtuais caracóis. Depois de um tempo em que meus ouvidos foram carregados, no início da adolescência, para as terras frias e enevoadas porém excitantes da beatlemania, na redescoberta do Brasil, ainda que não imediatamente, lá estava o Moraes, junto a sua tribo musical, verdadeiro escrete dessa terra miscigenada, Os Novos Baianos. Fascinante mesmo foi entender que esses Baianos eram mesmo outros, que sua receita era pra ser saboreada de outro jeito daquela dos primeiros baianos, os que haviam vindo pretensamente quebrar as estruturas. Sob as bênçãos de João, esses verdadeiros filhos dele mudaram o disco, botaram pandeiro, cavaquinho, bandolim, refizeram a receita de Brasil e mostraram seu valor [uma postagem anterior do blog aborda o tema, Cantando a nação]. Que inundação foi Acabou chorare, sobretudo. Novamente a infância terá que ser lembrada aqui, inspiradora de tantos motes nesse disco, coautora do singelo balbucio da canção que lhe dá título. Não é casual meu filho e filha terem sido apaixonados por esse disco de pequenos, e eu diria que ele tem sido um guia certo para gerações jovens encontrarem ou reencontrarem o berço e o balanço musical brasileiros depois de escutar o alhures. Recentemente, quando assisti a Filhos de João, ótimo documentário sobre a trupe, me surpreendi com o relato dele sobre o delicado momento em que passou a questionar o arranjo coletivo que vigorava naquela grande família musical, Novos Baianos Futebol Clube [disco, aqui e documentário, aqui]. Um mundo e um amor lhe chamaram, enquanto corria a barca. Ele foi e afirmou-se de pleno direito, como grande cantautor que sempre foi, sabendo cantar o lado solar do Brasil sem desconsiderar seus desafios, mas espantando pra longe qualquer sentimento vira-lata, pois sempre foi um grande propagador de brasilidade. Avoa, Moraes Moreira, que essa brincadeira não acaba, e logo a gente vai começar chorare só de alegria com tudo que você deixou plantado na terra. 




11 de abril de 2020

É o bicho, é o Chico

Acabei de assistir ao show Caravanas, do Chico Buarque, baseado em seu último álbum de estúdio, de mesmo título. Falar dos show do Chico nas últimas décadas corre o risco de chover muito no molhado. Ele encontrou um formato bem sucedido, para plateias elitizadas, economica e culturalmente falando. Tudo de muito bom gosto, acompanhado de músicos tarimbados sob a batuta do inseparável Luiz Cláudio Ramos. O repertório, obviamente, é impecável, dado o manancial de onde jorra. Há uma boa combinação das obras-primas que atravessam décadas com as novidades do disco que dá nome ao show, com boas concatenações na sequência combinada, como quando casa Desaforos (de Caravanas) com Injuriado (uma das minhas preferidas, de As cidades), A volta do malandro e Homenagem ao malandro, Todo sentimento e Tua cantiga, ambas parcerias com Cristóvão Bastos e a que mais repercutiu do trabalho mais recente. O som é isso, é infalível, é candidato à unanimidade, mas às vezes falta uma aresta, uma sujeirinha que seja, algo fora do roteiro. O visual talvez denote mais ainda esse problema, a iluminação exagera em focar só o Chico o show praticamente todo, e às vezes os músicos não são mostrados no vídeo nem quando solam. No final o Chico apresenta a banda, como manda o figurino, mas fica essa sensação de que ficou tudo profissional demais. Confesso que gosto mais do Chico menos gourmet, menos arrumado, mais suburbano dos anos 1970. O público também não surge de frente em momento nenhum, no máximo algumas cantaroladas numa ou outra mais conhecida e uma vaga de braços que acenam, e que o Chico, numa corridinha demonstrativa de seus cuidados providencias com a saúde, cumprimenta como aqueles jogadores de basquete da NBA fazem. Tudo isso me recorda uma passagem do André Midani, então diretor da Phillips, se queixando que o Chico não era profissional como o Gil. A Terra, afinal, é redonda sim, e dá voltas.







Aproveitando o ensejo, recupero um texto que ficou no rascunho, que era baseado em alguns debates levados no facebook, e que de certa forma "morreu" porque a oportunidade de publicá-lo passou. Em véspera de páscoa, acho que vale tentar essa ressurreição.No período de lançamento do disco, reagindo a uma provocação sobre a acomodação do artista, ponderava o seguinte: levemos em conta que o sujeito em questão passou dos 70. Uma certa dose de autocomplacência é aceitável. Claro que ele encontrou uma fórmula que lhe agrada e fica relativamente aferrado a ela, com os mesmos músicos, mesmo arranjador. Nesse ponto da carreira ele pode se permitir esse conforto. Ainda assim, o esmero dele, em especial nas letras, me faz pensar que não há isso, apenas uma decantação mais demorada de se constatar. Se a minha vida inteira eu conseguir uma vez atingir algo próximo a "Tua cantiga", "As caravanas", ou "Jogo de bola", morro feliz. Os arranjos do Luis Cláudio Ramos são muito bem cuidados, só não são propriamente ousados. Escrever isso dá trabalho. Chico é um excelente cantor, pode-se perguntar a qualquer um que entende de música. A voz dele é emblemática, da forma como encampa o que canta. Essa personalidade tem a ver inclusive com o timbre. O disco todo é embebido na temática contemporânea das construções de representação de identidade, especialmente nas redes sociais - daí inclusive a nova versão de Dueto, cantado com sua neta (e como tantos de sua geração ele dá uma forcinha pra descendência, botando letra e gravando uma parceria com o neto, Chico que nem ele). Há um questionamento de certo modus operandi raso do "identitarismo", provocações contra as patrulhas. Quem der uma chance vai acabar achando que é político demais. No calor da fervura do lançamento, duas canções capturaram a atenção e foram alvo de intensa discussão, "Tua cantiga" e "As caravanas", justamente por pisarem nesse campo minado. Da primeira já tratei em outra postagem. Aqui então passo a tratar da segunda, começando por rebater a acusação - montada em cima da apreciação do vídeo oficial da canção. Considero, antes de mais nada, que o Chico não é racista (creio que não preciso enumerar as razões suficientes para esta constatação), mas ao mesmo tempo é um grande "radiologista" do racismo no Brasil. Basta ler algumas páginas do romance Leite derramado, fora tantas das suas canções. Talvez se alguém arregimentasse músicos negros para compor a orquestra,outro poderia dizer que isso foi feito num ato politicamente correto... o próprio Rafael Mike foi surpreendido pelo convite, dá pra ver um pequeno depoimento dele em algum lugar, no vídeo ou numa matéria de jornal. Aí podemos pensar nos diálogos que são propostos na música também, desde a referência a Caravan de Duke Ellington. Estamos também muito condicionados pelo 'oculocentrismo' do nosso tempo, emprestamos ao que vemos mais importância do que ao que ouvimos. Certamente se pode pensar pelo ângulo sociológico, uma vez que a maioria dos músicos que aparecem são de uma orquestra, onde essa ausência é bem visível. Não temos também como saber se alguns, sendo brancos ou mestiços - e em se tratando de Brasil, em boa medida somos mais é mestiços que qualquer outra coisa - nasceram numa favela. Por outro lado, percebo que os elementos do funk que entraram estão domesticados. Isso me pareceu estar em confronto com o que a canção propõe, ou seja, que ninguém para a caravana, gostando ou não dela.

Já escrevi um pouco antes e ainda não consegui amadurecer a reflexão, mas acho reducionismo ficar colocando tudo na sacola do pós-colonial. É lógico que nossa colonização nos marca. Como Brasil, como América do Sul, Latina. E até como Americanos que raramente recordamos que somos. Mas é uma experiência totalmente distinta em vários aspectos daquelas do período do imperialismo em África e Ásia, que depois do processo de descolonização deram origem a esse pensamento pós-colonial. Além de ser necessário lembrar que muito disso passou a ser cozido no coração anglo-saxão do imperialismo, na Grã-Bretanha e nos EUA. Tudo isso tem implicações que não se pode desconsiderar. Agora mesmo eu li uma crítica da exposição da Tarsila no MoMA que supunha haver uma linha muito tênue (!) entre a antropofagia e a apropriação cultural. Nada mais distinto. A academia, longe de ser um reino de cristal em que o conhecimento circula livre leve e solto, é um lugar cheio de embates. Há uma tentativa, ainda que sutil, de transformar várias das conquistas culturais e intelectuais latino-americanas, que inauguraram tradições e transformaram essas sociedades, além de prefigurar soluções de vários de seus dilemas mais profundos, em espécies de ensaios incompletos e versões inacabadas de concepções mais elaboradas e concatenadas que estão patenteadas ao Norte. Em bom português, os bispos estão tentando nos comer. Certamente passarão, e Chico Sabiá Passaredo.
Finalmente, como quase sempre tem sido ultimamente quando se lançam as críticas esquemáticas, sem estofo nem ponderação dos praticantes do "identitarismo", o mexido entre preconcepção e falta de interpretação de texto sempre impede que o reclamante enxergue muito mais que um palmo à frente do nariz, de modo que ele nunca se dá conta que existe um "eu lírico", que o compositor possa estar na pele do "Outro", que isso é uma faculdade da criação artística tanto quanto é um exercício antropológico. Assim, no automático, acusaram Chico de reproduzir preconceitos, quando ele traz mais essa exposição da fala preconceituosa, mas malandramente a critica pelo exagero evidente das expressões que emula saindo das bocas das elites tupiniquins. É justamente pra colocar esse preconceito em pauta mesmo, e talvez isso possa ser mais coerente com o percurso dele, e ser mais crível do que simplesmente uma imitação barata de uma estética da favela atual, por exemplo. Eu vejo que às vezes ele chega pela língua, e acho essa a aproximação mais orgânica, digamos assim, quando ele incorpora coisas como "chapa quente", "quebrada", "é o bicho"... quer dizer, o cancionista brasileiro produz aí, no meio dessa língua tão mutante, incansavelmente criada e recriada. É o bicho, é o Chico, e ele nos devora.


4 de abril de 2020

Festival de Montreux - 50 apresentações em livre acesso

Em meio a essa tormentosa pandemia do novo há uma quantidade imensa de conteúdos de qualidade ficando disponíveis gratuitamente na rede, como forma de ajudar as pessoas a passar um bom tempo isoladas em casa, e obviamente transformar um problema em oportunidade para promover negócios online de toda sorte. 
Algumas dessas iniciativas são especialmente bem vindas, como a da Plataforma de Streaming Stingray Qello. Entre outros conteúdos sensacionais, está disponível um acervo de 50 apresentações do prestigiado Festival de Montreux [página oficial]. Entre outras atrações imperdíveis, Nina Simone, Santana, Yes, Return to Forever e Ladysmith Black Mambazo.
Para acessar, basta seguir as instruções, e vale ressaltar que a plataforma não fez aquela típica malandragem dos períodos de teste gratuito que já te pedem cartão de crédito. O acesso livre é válido até 04 de maio. 

  1. Acesse stingray.com/FREEMJF1M
  2. Entre com o código FREEMJF1M
  3. A lista dos concertos do Festival de Montreux liberados: stingray.com/MJF

3 de abril de 2020

Já que o trem tá russo


Uma querida  amiga e colega me marcou agorinha nesse compartilhamento no mínimo inusitado. Em meados dos anos 1980, quando a redemocratização no Brasil coincidiu com a adoção da Perestroika e da Glasnost, políticas de abertura econômica e política na antiga URSS, o então presidente José Sarney articulou, segundo consta com patrocínio de uma fábrica de tintas (cuja logomarca constaria da contracapa), a gravação de um LP (traduzindo no Google o título fica: Brasil - País de Todas as Cores, com produção do saudoso Zé Rodrix), como forma de presente sua viagem diplomática àquele país, em que nomes consagrados no cenário da música popular brasileira, incluindo gente como Alceu Valença, Moraes Moreira, João Bosco, Belchior, Leila Pinheiro, Wagner Tiso e Jards Macalé gravaram canções feitas a partir das traduções de poemas de grandes nomes da poesia russa, como Maiakóvski, Serguei Iessiênin e Velimir Khlébnikov. Ocorre que, segundo informa quem postou o "vídeo de áudio" , quem traduziu (não sei se um ou vários tradutores) processou (quem? O governo federal?) por falta de autorização e imagino que igualmente dos devidos créditos. Difícil apurar mais do que isso. Além de tudo, dada minha completa ignorância do russo, o pouco que pude fazer fica na dependência total do tradutor do Google. Fica a curiosidade da página do site Discogs, em que o disco se encontra elencado, e a gente se diverte com a grafia em alfabeto cirílico de nossos mestres, como esses dois aqui que são fáceis de adivinhar Жоао Боско e Жоелью-Де-Порко. Ali também não há crédito de tradução, mas dá pra saber a autoria original do poema que foi musicado por cada um dos brasileiros. 
Dessas coisas que só acontecem no Brasil, e se não alivia em nada a biografia política profusa em conchavos e outras obscuridades de José Sarney, serve hoje para nos lembrar de um tempo em que um contingente maior de políticos brasileiros, inclusive seu presidente, mantinha, nem que fosse por aparências, uma relação de apreço pela cultura brasileira e seus melhores artífices, bem como uma atividade diplomática responsável. Vale muito a audição, dada a excelência dos poemas e da grande maioria dos músicos que se ocuparam em torná-los canções, verdadeiras transcriações que azeitam com jeitinho brasileiro a densidade poética dos russos.  Pra não pesar selecionei só algumas, mas é possível ouvir a reprodução do disco todo.