Faço questão de não deixar passar em branco essa data, 70 anos de Fredera, um dos mais inventivos guitarristas brasileiros, e uma cabeça pensante também, que mergulhou fundo nas inquietações dos anos incríveis e de chumbo. O Som Imaginário, muito além de um conjunto de acompanhamento para Milton Nascimento, ganhou asas e decolou em voo próprio, como bem ilustra a capa de seu primeiro disco. Como já escrevi alguma coisa sobre o grupo por aí [aqui], deixo o espaço pra mostrar Fredera em voo solo (Aurora Vermelha, 1981), seja com sua guitarra expressiva, sua visão musical, e sua esgrima com palavras, desenhada com cortante precisão nessa entrevista concedida ao blog Virtuália. Os elogios vocês verão que são todos merecidos, mas o melhor é ler e ouvir registros ímpares como esses.
Espaço que visa divulgar e disponibilizar trabalhos de criação e crítica referentes à MPB e música popular, não apenas para promover o intercâmbio de gostos e opiniões, mas fundamentalmente catapultar o debate sobre o tema.
Cerejas
Silêncio
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
Mostrando postagens com marcador Fredera. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Fredera. Mostrar todas as postagens
20 de maio de 2015
Fredera em voo solo
Marcadores:
entrevista,
Fredera,
instrumental,
MPB,
música popular,
Som Imaginário
Assinar:
Postagens (Atom)