Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

16 de abril de 2011

Ah, já que falei de Som Imaginário...



Um trecho sobre o Som Imaginario pinçado da minha tese de doutorado:
E a perplexidade de Jaguar, ao ver o pessoal do Som Imaginário “(...)num embalo de sambão que me pegou de surpresa(...)”[1]. Observo que, num cenário tão polarizado, era difícil delimitar as particularidades emergentes do Clube da Esquina.

Cumpre ressaltar a importância da atuação do conjunto no disco Milton e no LP com seu próprio nome (Som Imaginário, EMI, 1970). Em sua primeira formação, o grupo era composto por Wagner Tiso (Piano), Luiz Alves (Baixo), Tavito (Guitarra Base), Frederyko (ou “Fredera”, Guitarra Solo), Robertinho Silva (Bateria) e Zé Rodrix (Órgão Elétrico e Voz). A familiaridade de todos eles com a linguagem musical internacionalizada, de viés roqueiro ou jazzista, é perceptível nos dois trabalhos. A própria capa do disco do conjunto, trazendo um desenho estilizado do instrumento de cada integrante voando no espaço – alguns até providos de asas – enfatiza a liberdade formal e a ênfase no desempenho de seus músicos como instrumentistas. As composições, a maioria feita pelos próprios membros, têm caráter bem experimental, mesclando canção e improviso, letras em português e inglês, explorando sonoridades elétricas, muitos timbres na percussão e mudanças inesperadas de compasso. (GARCIA, 2007, pp. 189-190)

[1] “Show Gal Costa e Som Imaginário”. O Pasquim, n º 83, 4-10/02/1971, p.15.


Abaixo, duas formações do Som Imaginário:


Trecho de programa do Canal Brasil "O som do vinil" sobre O Som Imaginário.

E também um vídeo da canção Feira Moderna, executada no programa Ensaio
em que a banda acompanhava Gal Costa:


 Leituras complementares nos blogs Valvulado [aqui] e Tarati Taraguá [aqui]

Um comentário:

  1. Bacana. Esse programa do Gavin é bem interessante. Pena que comecei a ver há pouco tempo. Bacana o que o Tavito falou: era uma época onde não se tinha medo de fazer as coisas (e acho que vale também para temas 'não-música'). O retrato da música atual pode ser visto no programa "ídolos", produtores como o Rick Bonadio selecionando gente com perfil para ser ídolo instantâneo, isso é, que vai ser comprado pelas multidões sem muito esforço.

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