Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

9 de março de 2015

Inezita, nossa Inezita

Parece enredo, parece história. Outro dia mesmo comentava que o programa de Inezita Barroso, Viola, minha viola, era uma das poucas coisas boas que passavam na tv brasileira. Ela que estava por esses dias mesmo completando 90 anos, foi pontear viola no céu. Sua contribuição à cultura brasileira, como intérprete, instrumentista, pesquisadora e divulgadora da música popular e folclórica, quer seja chamada de sertaneja ou caipira, é inestimável. 
Reuni aqui algum material com a finalidade de homenageá-la e dar uma pequena mostra de sua energia e ousadia, que fica especialmente demonstrada no episódio, que me era desconhecido*, em que percorreu de jipe [aqui] 6.200 km entre São Paulo e Bahia recolhendo falas, músicas e outras manifestações do folclore. Selecionei também o documentário Inezita Barroso, A Voz e a Viola realizado por alunos da ECA-USP (Jornalismo e Audiovisual) e do Jornalismo da PUC-SP, que me causou boa impressão especialmente pela quantidade de imagens de arquivo, muitas da TV Cultura, mostrando Inezita ainda jovem clamando por um programa especializado para divulgar a música folclórica. 

* agradeço ao Cláudio Ruas que me enviou a matéria do Estadão sobre o feito



Acrescentei arquivos em áudio, como o Programa Ensaio (1991), e a seleção musical da Rádio Batuta do IMS, em que "quase todas as faixas (...) foram retiradas da caixa de seis CDs "O Brasil de Inezita Barroso", organizada pelo pesquisador Rodrigo Faour e lançada em 2011, com gravações entre 1955 e 1962". Fica por fim o agradecimento a ela que tanto fez por nossos ouvidos.

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