"A noite do meu bem", de Ruy Castro, pretende fazer para o samba-canção o mesmo trabalho memorialístico que fez o autor sobre a bossa nova com "Chega de saudade" [apresentação oficial, aqui]. É aquele tipo de leitura sob medida para um período de rebordosa. Leitura amena de final de semestre, cheio de trívia, casos, intrigas de bastidor e façanhas de boêmios. Algumas dessas partes estou até pulando sem maior cerimônia. O que vale mesmo é a descrição acuradíssima da noite carioca e das boates, e o desfile do repertório de compositores, intérpretes e canções. Não foi por acaso que adquiri o livro no contexto do projeto de pesquisa "Patrimônio urbano e música popular: os sentidos dos lugares", apoiado pelo CNPq [sobre o projeto, aqui]. Seu maior mérito é o inventário gigantesco de canções, que provavelmente se trabalhado com maior atenção pode ajudar a repensar algumas coisas em relação ao cenário de emergência da bossa nova. Não achei tão bom quanto o outro, mas propicia boas doses de diversão.
Até quando narra as mortes de alguns dos principais expoentes do samba-canção Ruy Castro o faz com uma certa verve, o que tira um pouco o peso. Mesmo se arriscando às vezes a recair no excesso de trivia misturado com recortes de coluna social e algumas inconfidências, consegue vários arremates com estilo para consolidar o que de fato é o livro - não a pretensa reconstrução histórica, expressão que considero impertinente - mas um belo tributo memorialístico às mulheres e homens que escreveram, cantaram e tocaram algumas das mais belas pérolas do repertório da música popular desse país, o que representa parte de um patrimônio cultural sem qualquer paralelo.
Vou ver se providencio uma playlist - leitores e leitoras convidados a dar sugestões - e nesse meio tempo deixo a canção que inspirou o título, de Dolores Duran.
Vou ver se providencio uma playlist - leitores e leitoras convidados a dar sugestões - e nesse meio tempo deixo a canção que inspirou o título, de Dolores Duran.
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