De passagem pela livraria Ouvidor no começo da tarde, vi naquela banquinha da porta e comprei por 10 mirréis. Uma leitura saborosa, pitoresca mas não fútil [quem quiser uma resenha mesmo, aqui]. Os bastidores de várias gravações, uma descrição bastante acurada do trabalho de produção e de engenharia de som, alguns bons relatos sobre a composição de canções, apresentações ao vivo, idiossincrasias de artistas, macetes de estúdio. Para quem tem alguma noção de como se grava(va) discos, prato cheio. Legal inclusive para acompanhar, através da longeva carreira de Phil Ramone, as mudanças da indústria fonográfica, sem perder o frescor do relato, pois provavelmente muito foi escrito a partir de conversas gravadas, fora as entrevistas com gente da música que aparecem ao longo do livro. Gosto dessas auto/biografias [neste caso com auxílio do pesquisador Granata, especialista na carreira de Frank Sinatra] centradas nas atividades de trabalho, na dimensão pública da vida do sujeito, em que os detalhes privados entram apenas na medida em que elucidam uma ou outra situação. A edição - Guarda-Chuva, 2008 - tem lá uns pecados, probleminhas de tradução e revisão, mas não compromete a apreciação. Uma boa leitura de férias, pra ler de papo pro ar, digamos assim.
Espaço que visa divulgar e disponibilizar trabalhos de criação e crítica referentes à MPB e música popular, não apenas para promover o intercâmbio de gostos e opiniões, mas fundamentalmente catapultar o debate sobre o tema.
Cerejas
Silêncio
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
18 de janeiro de 2017
Na estante - Gravando! Nos bastidores da música
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