Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

18 de novembro de 2010

Aula de Música (2): Para Lennon e McCartney


Continuo sendo um "aprendiz de blogueiro". Mas dessa vez a demora tem álibi, pois estava às voltas com a tomada de posse e início das atividades como professor do curso de museologia na ECI-UFMG. Só que este mês temos no Brasil um evento de proporções cósmicas no universo da música popular: Show de Paul McCartney! E, corrigindo um equívoco imperdoável do destino, dessa vez EU VOU. With a little help from a friend... Pra completar a alegria, na companhia especial do meu filho João Paulo, cujo nome já diz tudo, né? Como estou às voltas com a logística, não dá pra arrumar nada novo, mas quero deixar um registro desse momento único. E como amanhã vou falar de "Estudos Culturais" para os meus alunos do Mestrado em Gestão Integrada do Território na Univale, a seção Aula de Música só podia ter a ver com conexões, interculturalidade, e coisas afins. E a canção tinha que ser Para Lennon e McCartney. Acompanha um pequeno trecho da Tese sobre o assunto: 

"A interseção local/global é chave no entendimento das propostas estéticas e das diversas fontes que informam a obra do Clube da Esquina. Preocupados em produzir uma música que fosse universal e ao mesmo tempo particular e local, já anunciavam em Para Lennon e McCartney (L. Borges, M. Borges e F. Brant): “Mas agora sou cowboy/ sou do ouro, eu sou vocês/ sou do mundo, sou Minas Gerais”. Esta canção é emblemática, não só pela letra, anunciando a conexão local/global mediada por aqueles que desconheciam o “lixo ocidental”, mas pelo arranjo e harmonia, talvez uma das mais poderosas traduções da influência dos Beatles na música popular brasileira (baixo descendente nos acordes em Lá menor, guitarra-base marcante, riff no refrão, solo com alguma distorção)." (GARCIA, 2007)



Nenhum comentário:

Postar um comentário