Espaço que visa divulgar e disponibilizar trabalhos de criação e crítica referentes à MPB e música popular, não apenas para promover o intercâmbio de gostos e opiniões, mas fundamentalmente catapultar o debate sobre o tema.
Cerejas
Silêncio
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
15 de julho de 2012
Reflexões: Atemporalidade da música e a temporalidade do arti...
Reflexões: Atemporalidade da música e a temporalidade do arti...: Há alguns dias assisti a um ótimo show do Lô Borges. Não poderiam faltar os clássicos como “Paisagem da Janela”, “Nuvem Cigana” e outras ...
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Mais uma boa análise sua, sempre no ponto certo com seu texto elegante e descomplicado. É um tema que vira e mexe a gente pensa sobre. Pra dar mais um caldo, algo que penso em relação a artistas consagrados que já tiveram seu momento de ruptura é que alguns sabem envelhecer, outros nem tanto. Chico, comedido nos lançamentos, solta coisas relevantes de tantos em tantos anos. Caetano de repente poderia ser mais moderado. Esse Zii e Zie dele, tão badalado, pra mim tem muito auto-plágio, embora embalado por arranjos "indie", "descolados", o que for. O Lô acho que faz muita força para conquistar o público jovem, se aproximando de parceiros fracos e de uma sonoridade "juvenil". Curioso pois o cara com menos de 25 fazia uma música mais madura do que a que faz atualmente. Desses últimos discos procure o Harmonia, que o único que vale o trabalho de baixar. P.S. Um cara que pra mim é um eterno inovador, é o Hermeto Pascoal. Mas a liderança dele é sem alarde, ele não rompe, ele simplesmente não toma conhecimento dos limites.
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