Parte das atividades de pesquisa que venho desenvolvendo envolvem a orientação de bolsistas de iniciação científica. É uma satisfação apresentar a seguir uma síntese do trabalho recentemente apresentado pela bolsista Julianne Paranhos (o texto e as fotos são dela):
Durante
a Semana do Conhecimento e Cultura da UFMG, que ocorreu entre os dias 21 a 25
deste mês, apresentei (Julianne Paranhos) os primeiros resultados das pesquisas
desenvolvidas no Projeto Museu Clube da Esquina: do sonho à cidade, coordenado
e orientado pelo Prof. Dr. Luiz Henrique de Assis Garcia. As pesquisas foram
realizadas em diálogo entre Museologia, História e Antropologia Urbana, e
buscaram perceber os laços simbólicos e de apropriação dos citadinos para com
três dos lugares (ARANTES, 1994) demarcados com placas comemorativas
pelo Museu Clube da Esquina* – o Edifício Archangelo Maletta, o Edifício Levy e
a Esquina no Bairro de Santa Tereza. Muitos dos processos da pesquisa foram
expostos aqui na página e aproveito para também compartilhar a conclusão
parcial- pois, o projeto ainda está em andamento - apresentada no evento. Os
lugares abordados na pesquisa, ao serem demarcados com as placas,
transformam-se por meio de uma ação museológica extra-muros (MENESES: 2003). À
esquina, locus adotado pelos músicos e letristas para a constituição da
identidade da formação cultural em questão, pode ser incluído à ideia de lugar
os sentidos atribuídos pelas canções do Clube da Esquina e a placa ali
instalada reforça esses sentidos. Já nos Edifícios Levy e Maletta,
estas apresentam aos citadinos seus sentidos de lugar.
As placas celebram situações e ao serem percebidas pelos citadinos, colaboram para trazer à tona memórias de diferentes naturezas marcando no tempo e no espaço os sentidos construídos sobre e no lugar, sentidos estes que se fundem com os novos usos e significados que as pessoas atribuem ao espaço urbano.
“Isso é um memorial, marca um momento, de um tempo onde a galera se encontrava, onde as coisas começaram. É um símbolo, o lugar é um emblema. Santa Tereza é um bairro rico, especifico do pessoal da música e o movimento do Clube da Esquina atrai outros músicos e a música é o que lembra o ambiente, é a música que faz lembrar o fato do passado. As placas guardam a memória de uma coisa que está muito viva.” (Grifo meu) Flávio Emauel. Entrevista concedida à autora no dia 04 de junho, na esquina no Bairro de Santa Tereza.
As placas celebram situações e ao serem percebidas pelos citadinos, colaboram para trazer à tona memórias de diferentes naturezas marcando no tempo e no espaço os sentidos construídos sobre e no lugar, sentidos estes que se fundem com os novos usos e significados que as pessoas atribuem ao espaço urbano.
“Isso é um memorial, marca um momento, de um tempo onde a galera se encontrava, onde as coisas começaram. É um símbolo, o lugar é um emblema. Santa Tereza é um bairro rico, especifico do pessoal da música e o movimento do Clube da Esquina atrai outros músicos e a música é o que lembra o ambiente, é a música que faz lembrar o fato do passado. As placas guardam a memória de uma coisa que está muito viva.” (Grifo meu) Flávio Emauel. Entrevista concedida à autora no dia 04 de junho, na esquina no Bairro de Santa Tereza.
“Mas você está no lugar errado! O Clube da Esquina é lá em Santa Tereza!”
“A noite é cara, tem que pagar para entrar nos lugares e os shows na rua acabaram (...). Depois veio a geração do Skank que faz show na praça. Hoje o povo quebra as praças. Hoje o povo não tem cultura e quebra tudo. Antigamente o povo entrava na borracha. A ditadura foi ruim, mas não tinha mendigo, a gente tinha que trabalhar. O povo pede dinheiro para droga, não é para comida. A polícia distribuía borracha”. João Martins. Entrevista concedida à autora no dia 13 de maio, na Av. Amazonas em frente ao Edifício Levy.
“Essa placa aqui cumpre a função de representar a memória de BH. Inclusive o Carlos Drummond de Andrade, frequentava aqui, os intelectuais freqüentavam esse lugar”. Karminha Primo. Entrevista concedida à autora no dia 23 de maio, no Edifício Maletta.
Espaço
de encontro e trocas culturais entre intelectuais, músicos e artistas
durante as décadas de 1960 e 1970, atualmente o Edifício Maletta ainda
se conforma como um lugar de encontro de pessoas associadas e
interessadas com a produção artística em geral. Assim como no caso do
Edifício Levy, a placa precisa ser percebida para que o sentido de lugar
atribuído, construído a partir da memória do Clube da Esquina, possa
ser apreendido pelos frequentadores do lugar.
Referências Bibliográficas:
AGIER, Michel.
“Introdução”, “Um etnólogo nas cidades”, “Os saberes urbanos da antropologia”,
“Situações elementares da vida urbana”. In._:Antropologia da
cidade: lugares, situações, movimentos. São Paulo, SP: Editora Terceiro
Nome, 2011.
ARANTES, Antonio
Augusto. “A Guerra dos Lugares”. In._: Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nº 23. Rio de Janeiro: IPHAN,
1994.
AUGÉ, Marc: Não-Lugares:
Introdução a uma antropologia da supermodernidade. Tradução Marília Lúcia
Pereira.Campinas, SP: Papirus, 1994.
BORGES, Márcio. Os sonhos não
envelhecem: histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial,
1996.
GARCIA, Luiz H. A.
“Canções Feitas na Esquina do Mundo: música popular e trocas culturais na
metrópole através da obra do Clube da Esquina”. In._: Revista
Brasileira de Estudos da Canção. Natal, n.2, jul./dez. 2012.
______________.
“Patrimônio Urbano e Música Popular: narrativas plurais na cidade e no museu”. IV SIAM
(Seminário de Pesquisa em Museologia dos Países de
Língua Portuguesa e Espanhola) / 21 ICOFOM LAM.Petrópolis: UNIRIO/MAST, 2012,
trabalho completo apresentado em Seminário. (imp.), 12p.
LEITE, Rogério Proença Leite. Contra-Usos da
cidade: Lugares e espaço público na experiência urbana contemporânea. 2º Ed. Campinas, SP: Editora da
Unicamp; Aracajú, SE: Editora UFS, 2007.
MAGNANI, José Guilherme
Cantor. “De perto e de dentro: notas para uma etnografia urbana”. In._: Revista
Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 17, nº 49. Jun., 2002.
MATTOS, Paulo César Vilara de. “Entrevistas Márcio Borges”, “Palavra de
parceiro Lô Borges” e “Palavras de Parceiro Milton Nascimento”. In._: Palavras
Musicais: letras, processo de criação, visão de mundo de 4 compositores
brasileiros. Belo Horizonte: s. Ed., 2006.
MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. “O museu de
cidade e a consciência da cidade”. In._: Afonso Carlos Marques dos Santos,
Carlos Kassel e Cêça Guimarães [Org.]. Museus e
Cidades: Livro do Seminário Internacional. Museu Histórico Nacional: Rio
de Janeiro, 2003.
MUSEU CLUBE DA ESQUINA. Guia de Belo
Horizonte: roteiro Clube da Esquina. Belo Horizonte: Associação dos
Amigos do Museu Clube da Esquina, 2006.
OLIVEIRA, Roberto
Cardoso. “O trabalho do Antropólogo: olhar, ouvir e escrever”. In._: O Trabalho do
Antropólogo. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Editora Unesp, 2000.
*O projeto recebe bolsa IC FAPEMIG e apoio da PRPq/UFMG
*O projeto recebe bolsa IC FAPEMIG e apoio da PRPq/UFMG
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