As navegações errantes podem nos transportar a sítios literalmente fantásticos, como é o caso desse MELT, basicamente orientado pelas artes visuais e com grande atenção para sua interface com a música, especialmente a seção album of the week que apresenta uma seleção de discos de diferentes épocas, todos com capas que prendem o olhar. Alguns também são acompanhados de resenhas e material fotográfico. A música, pelo jeito, é escolhida ao gosto dos editores, sem maiores detalhes. Ainda pretendo abordar a arte de capas com maior cuidado quem sabe escrever um artigo a respeito, mas por enquanto já vale esse exercício exploratório. Selecionei dois tópicos particularmente atraentes visual e musicalmente dentro do site, o primeiro mostra alguns dos trabalhos de Roger Dean, artista particularmente conhecido por ilustrar os discos do Yes com paisagens fantásticas e geografias interplanetárias, e o segundo é sobre Marijke Koger, uma das criadoras do coletivo de arte The Fool, que entre outras peripécias pintou a fachada da butique da Apple dos Beatles. Aproveitem o visual...
Espaço que visa divulgar e disponibilizar trabalhos de criação e crítica referentes à MPB e música popular, não apenas para promover o intercâmbio de gostos e opiniões, mas fundamentalmente catapultar o debate sobre o tema.
Cerejas
Silêncio
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
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