A proposta do campo intitulado “Pano preto” surgiu em meio a reflexões e
discussões em reuniões sobre a eficácia das placas e nossas constatações a respeito da
atenção que os citadinos dão a elas.
A ideia de cobrirmos as placas com um tecido preto era chamar a atenção das
pessoas que passam despercebidas por elas.
Nosso objetivo seria então analisar as
diferentes reações que a intervenção causa e conseqüentemente criarmos situações com
a possibilidade de diálogos mais direcionados sobre o tema referente às placas.
Placas demarcam, registram e musealizam os cenários urbanos que fazem parte
da trajetória do Clube da Esquina e trazem para debate as experiências museológicas
que ampliam o campo de atuação dos museus, seja na cidade ou em meios virtuais. As
transformações ocorridas na noção de museu a partir da década de 70 apontam para
ideias de Museus Território e para uma relação mais intensa de proximidade entre
museus e a comunidade.
O primeiro campo, de caráter experimental, aconteceu no dia 20 de maio, uma
terça-feira, no Edifício Levy. A metodologia dos outros campos foi adaptada para o
“Pano Preto” com um roteiro pré-estabelecido - após a colocação do pano ficávamos em
observação em torno de 40-60 minutos tomando nota das reações dos citadinos. Após o
período em observação nos aproximávamos das placas na tentativa de abordar quem
demonstrasse algum interesse/curiosidade e estivesse disposto a conversar – neste
momento, em alguns casos, poderíamos recorrer ao material de campo (pasta com
trechos de músicas+fotos e o gravador de áudio).
O roteiro de perguntas era baseado nas
impressões que os citadinos tiveram ao ver o pano cobrindo a placa; se sabiam da
existência da mesma; porém com o tempo acabamos por incorporar as perguntas que
norteavam os outros campos.
Uma curiosidade que constatamos neste trabalho de campo é que a placa do
Edifício Levy é um tanto alta. No campo anterior (dia 15 de maio de 2014), observamos
que este poderia ser um fator que dificultasse a visão das pessoas, pois a mesma se
encontra muito acima da altura dos olhos, sendo assim, mais um fator que contribui para
que não seja notada. (foto 1).
É importante lembrar que enfrentamos algumas dificuldades que quase não nos
permitiram concluir a atividade. No edifício Maletta a equipe se dirigiu à administração
para informar-lhes sobre nossa proposta, a fim de evitar uma situação como a ocorrida no Levy em que certo dia uma moradora retirou o pano de forma brusca, pensando que
teria algo haver com as manifestações da Copa do Mundo 2014.
Naquele local houve
também interferências dos zeladores do prédio, já que não conseguimos (apesar de
inúmeras tentativas) contato previamente com o síndico ou outro responsável.
Fizemos uma quantidade considerável destes campos, intercalando os horários e
dias da semana, com intuito de abarcar a maior variedade de citadinos, tanto no centro
(nos edifícios Levy e Maletta) quanto na esquina no bairro Santa Tereza.
Consideramos que foi uma experiência interessante que contribuiu para a constatação
do caráter ordinário das placas. Os passantes em geral não têm familiaridade com a
placa, principalmente nos edifícios Levy e Maletta.
É interessante observar a reação das
pessoas que estão mais próximas às placas, como vizinhos, moradores dos edifícios e
funcionários do comércio ao redor, que geralmente são os que percebem nossa presença
em campo.
É relevante refletir sobre essas observações uma vez que elas apontam para
construções de sentido diversas, tanto para a esquina quanto para o bairro de Santa
Tereza, considerando a noção de museu, de cultura e de história.
É pela significação
dada à esquina do Clube que podemos intuir que a valorização do patrimônio urbano via
musealização pode evidenciar os significados construídos pela sociedade para os
museus.
Nesse sentido é importante tentar apreender o que os citadinos almejam ao ver
uma placa em uma esquina com a inscrição “Museu Clube da Esquina”. O que esperam
encontrar e o que compreendem sobre museu?
Ainda em constante transformação, estas ideias gradativamente começam a ser
implantadas em diferentes museus do Brasil. O significado da esquina do Clube poderá
sofrer outras transformações com a implantação da sede física do Museu Clube da
Esquina. Conectada a lugares específicos da cidade, poderá intensificar as relações entre
a história do Clube, a cidade de Belo Horizonte e seus habitantes, contribuindo para a
ampliação dos significados construídos para os museus e para as suas possibilidades de
atuação no espaço urbano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário