Essa preciosa compilação que encontrei hoje reune simplesmente 5 décadas da produção de vídeos para canções de Paul McCartney, que são testemunho da imensa imbricação da música popular com a imagem em movimento, na qual os Beatles obviamente configuraram um momento a parte que eventualmente poderá ser motivo de outra postagem. McCartney sempre demonstrou particular interesse por essa linguagem. Sobre os vídeos propriamente, apesar da falta de Ebony and Ivory (parece que por motivos legais foi retirado do You Tube), mostram bem como McCartney deixou sua marca também em cada uma das décadas pelas quais se distribui seu repertório multifacetado, que está inclusive sendo objeto das análises certeiras de Pablo Castro em mais uma de suas listas (que está sendo publicada pelo blog parte I parte II). Alguns são simples registros de Paul executando as canções, acompanhando pelos Wings ou outros músicos, outros são mais pretenciosos e dialogam com o vocabulário cinematográfico e audiovisual disponível no tempo de sua produção, apresentando narrativas e uma estética que merecem nossa atenção para além do evento musical propriamente dito. São, em sua diversidade, um modo de ver todos os lados de McCartney.
Espaço que visa divulgar e disponibilizar trabalhos de criação e crítica referentes à MPB e música popular, não apenas para promover o intercâmbio de gostos e opiniões, mas fundamentalmente catapultar o debate sobre o tema.
Cerejas
Silêncio
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
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