Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

2 de outubro de 2015

De novo vinis


Venda de vinis gera mais receita que serviços como YouTube, Spotify e VEVO 
[matéria do Estadão, aqui]. A matéria traz dados que corroboram a intensidade com que o vinil voltou ao mercado fonográfico, claro que consumido de forma mais segmentada e certamente com um valor médio bem superior ao que já foi. Mas, de  um ponto de vista de uma história da música popular, mais significativo é constatar que um certo modo de ouvir, com toda a rotina e sociabilidade que o envolve, sobreviveu à avalanche da tecnologia digital e dá mostras de que retém aspectos da experiências que outros formatos,  inclusive o CD, não foram capazes de capturar de maneira efetiva. Vamos ver onde nos levaram essas novas voltas dos discos.



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