Ontem fui assistir Elis, o filme [trailer], numa espécie de transversal do tempo que durou menos de duas horas. A primeira constatação é que a vida de Elis não cabe num filme, ainda mais tão curto. Cinebiografia é um tremendo desafio. Senti que o roteiro teve muitos, muitos problemas. O mesmo para a direção. Pra mim, inclusive, o filme devia chamar-se Elis & Eles, pois é, em suma, a tentativa - com erros e acertos - de ler a trajetória da Pimentinha nos encontros e desencontros dela com eles. O forte do filme, que o salva de ser ruim, no limite, é a ótima atuação de Andréia Horta. Ela se preparou bem, adquiriu os trejeitos, o riso, o choro, mandou bem o texto - que aliás, é bom, tirando seus melhores momentos de trechos de entrevistas que Elis efetivamente concedeu. Uma atuação convincente, mas talvez pelo fato dela não ter uma trajetória forte no cinema, de não a termos visto em outros papéis na telona, mais difícil de saber o quanto é qualidade de seu trabalho de atriz e quanto é a carga inerente da persona forte de Elis que ela simplesmente emula. Quanto à história em si, para quem conhece e/ou pesquisa o assunto, o filme deixa a desejar. Faltou pesquisa - o que é grave considerando que há boas biografias, encabeçadas por Furacão Elis e Elis Regina - Nada será como antes. Talvez tenha faltado construir melhor a narrativa mesmo. Nesse sentido reporto-me à resenha de Danilo Areosa [completa, aqui]:
Esta construção de cenas de forma arbitrária sem qualquer preocupação em estabelecer uma conexão de finalidade narrativa entre uma sequência e outra indica uma postura amadora por parte de Prata, digna daqueles trabalhos acadêmicos onde a pessoa cópia e cola os parágrafos sem se preocupar se com a lógica do texto.Do ponto do retrato social e político, Elis consegue ser mais radical na sua caricatura até porque evita a polêmica ou mergulhar o dedo na ferida. As sequências voltadas para a ditadura militar são rasas e se resumem há poucos minutos em tela – a cena que Elis retorna para casa depois de interrogatório e percebe que o berço do filho encontra-se vazio beira a encenação da tensão novelesca. A crítica ao poder das gravadoras musicais também é sintetizada em um único momento – uma entrevista da cantora marcada por frases de efeito – e o próprio abuso de drogas por parte dela é bem discreto evitando manchar a imagem canonizada de Elis.
Episódios chave, como a passeata contra a guitarra elétrica, viraram alvo de referência casual, e situações irrelevantes, como o disco produzido por Nelson Motta, que deve ser um dos mais fracos da discografia dela, merecem destaque. Aliás, Nelson Motta vamos botar na conta da produção Globo Filmes, enquanto gente como Edu Lobo , Chico Buarque, Gil, Caetano, Milton, João Bosco e Aldir, Tom Jobim, entre outros, sequer surgem e/ou são meramente mencionados. O engajamento político de Elis é dosado. Sua participação na luta pela Anistia fica subentendida ao entrevero com Henfil ser resolvido por gravar O bêbado e a equilibrista. A trilha , como tinha que ser, é ótima, ainda que se possa cobrar algumas faltas (Casa no campo, Romaria, Maria, Maria, Vou deitar e rolar, são algumas que me ocorrem. Aliás, nenhuma do Bituca e nenhuma do Gil, se eu não estou enganado). Enfim, quem conhece a história, que vá avisado. Em resumo, vale pela atuação de Andréia, vale para ouvir a voz única de Elis ressoando na sala de cinema, e, para quem não conhece, para ter uma ideia, ainda que tênue, de quem foi a maior cantora do Brasil.
Acabei revendo essa entrevista, que teve vários trechos pinçados para o texto do filme. Vale muito a pena assistir:
Acabei revendo essa entrevista, que teve vários trechos pinçados para o texto do filme. Vale muito a pena assistir:
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