Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

9 de junho de 2013

Grandes encontros da música popular - Edu e Chico

A longa parceria, iniciada com Moto-contínuo em 1981, vicejou e deu belíssimos frutos para a discografia da MPB daí em diante, especialmente em projetos como O grande circo místico (1983), O corsário do rei (1985), Dança da meia-lua (1988) e Cambaio (2001). Curioso, de certa forma, que esses dois verdadeiros pontas-de-lança da música brasileira tenham demorado a iniciar essa parceria. "Não importa, são bonitas as canções"... Versos pinçados belíssima meta-canção Choro Bandido, mas essa postagem começou com outra que não fica atrás, Uma canção inédita. Dá pra perceber o grande entrosamento desses dois craques, seja compondo, cantando ou conversando:


7 de junho de 2013

Noel é assombroso, Lamartine não fica atrás



Isso é uma das pedras de toque da música popular mundial de qualquer tempo. Noel é assombroso. Lamartine não fica atrás. Por isso que ser cancionista no Brasil não é brincadeira, pois o padrão de qualidade estabelecido por feras desse quilate é altíssimo.



2 de junho de 2013

Na estante extra - El Jazz en acción continua

Para acompanhar a cativante leitura de "O jazz em ação" de Becker e Faulkner, essa rápida lista de vídeos praticamente só de álbuns completos. Horas e horas do melhor jazz disponível em LPs. É só dar o play!


25 de maio de 2013

Grandes encontros da música popular: desencontros

Quantos de nós já não embarcamos em longas especulações sobre como seria se baixista "x" tocasse com o baterista "y", se "aquele" compositor fizesse uma parceria com um "outro" tão bom quanto, ou se um intérprete "tal" gravasse um disco só com canções de "um certo" autor. Algumas vezes esses exercícios, verdadeira operação colecionista em plano imaginário - análoga, por exemplo, à criação das mais incríveis seleções de futebolistas que nenhum técnico jamais conseguirá convocar - beiram ou mesmo alcançam o impossível, pois surgem supergrupos inacreditáveis e colaborações condenadas ao reino do fantástico, impossibilitadas pelas limitações do espaço e do tempo, ao menos nessa existência que conhecemos. Porém, certos encontros podem não ter acontecido por um triz, por uma pequena travessura do destino, esse trapaceiro que vive por aí a nos pregar suas peças. Por exemplo, o artigo que motivou essa postagem [aqui] relata que em 1969 Jimi Hendrix  e Miles Davis pretendiam gravar juntos e tentaram, por telegrama (atualmente exposto no Hard Rock Café em Praga), convidar Paul McCartney para ser o baixista numa banda que já tinha simplesmente Tony Williams na bateria. 


Grandes também são os desencontros na história da música popular, e de alguma forma testemunha o quão humana ela é. Além de McCartney estar em férias quando o telegrama chegou, os conflitos internos dos Beatles, questões financeiras e de agenda que afetavam Miles e em seguida o falecimento de Hendrix tonaram esse encontro irrealizável. Mas a mente de qualquer amante da música vai girar num verdadeiro carrossel sonoro só de imaginar o que poderia ter acontecido caso ele ocorresse. 
Convido quem mais tiver devaneado encontros como esse a relatar aqui no blog.  

24 de maio de 2013

"O Instituto Antonio Carlos Jobim disponibiliza a partir desta terça-feira (21) para visualização e pesquisa o acervo do cantor e compositor Milton Nascimento em seu site.Com cerca de 45 mil documentos catalogados e digitalizados, o acervo estará disponível para visualização e pesquisa, sendo possível ver fotos, documentos e vídeos, inclusive ouvir as músicas dos álbuns de Milton."
de Portal EBC.

Futuramente espero fazer uma postagem mais dedicada ao acervo, por enquanto fica o convite aos leitores para que naveguem à beça por lá. O trabalho de digitalização e disponibilização desse tipo de acervo é extremamente importante, pois garante não só a difusão de informação e material relativo à carreira de figuras chave, como é o caso de Milton Nascimento, mas também representa ponto de partida para pesquisas imprevistas, sacadas no meio dessa massa documental por quem sabe procurar agulhas no palheiro.