Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
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13 de fevereiro de 2016

Grandes Encontros da música popular - a parceria Edu Lobo e Chico Buarque

A possibilidade de elaborar listas de audição em sítios, portais e afins, representa uma nova forma de colecionismo e circulação da música gravada (ainda que lembre a possibilidade já oferecida pela fita k7  e depois pelo CD gravável de elaborar coletâneas próprias), sobre a qual ainda pretendo escrever com mais aprofundamento. Enquanto isso, é uma prática que permite criar uma noção de conjunto e auxiliar na exposição de um determinado tema. Como fez meu parceiro Pablo Castro ao criar uma playlist para "ilustrar" aspectos específicos da parceria Edu e Chico. Achei oportuno aproveitar tanto o  texto quanto a lista no escopo da série "Grandes Encontros da música popular".

Por Pablo Castro:
É provável que nunca, em lugar algum, houve uma parceria entre compositores que tinham sido revelados anos antes num esquema competitivo, quando eram em alguma medida adversários, disputando palmo a palmo os primeiros e mais influentes festivais da década de 1960, tendo ambos depois seguido as suas respectivas carreiras, ambos capazes de letrar e musicar (embora as letras de Edu se contem nos dedos de duas mãos, elas são ótimas), bons cantores, influentes e consagrados, com vários discos gravados, até se unirem para compor uma das mais importantes obras cancionais de uma música popular, como a parceria entre Chico Buarque e Edu Lobo. 

Normalmente duplas com esse nível de qualidade e quantidade de produção são estruturantes na carreira dos parceiros, e a tendência é a parceria em algum momento romper-se ou perder o ímpeto. Se o grosso da leva da parceria Tom/Vinícius se deu ainda na década de 1950, ela foi arrefecendo até virar apenas amizade. Tom e Vinícius pararam de compor juntos ainda no início dos anos 60. João Bosco e Aldir Blanc se encontraram como um choque de deuses antípodas e complementares, um acontecimento da natureza que gerou meia dúzia de discos espetaculares e dezenas de clássicos, até se desfazer e se bifurcar em meados da década de 1980. Aldir depois achou um parceiro tão significativo para suas letras como João fora: um dentista chamado Guinga, com quem construiu uma outra obra absolutamente expressiva.
Na música anglo-americana, temos o incontornável exemplo de Lennon/McCartney, cujo funcionamento era diferente: ambos compositores de letra e música, colaboravam entre si das mais variadas formas, mas nunca com a fronteira delimitada de letra e música para cada parceiro. Além disso, a dinâmica interna da duplas estava submetida a uma banda com outros dois músicos, um dos quais um compositor tão criativo quanto.
Os irmãos Gershwin , Burt Bacharah e Hal Davis, Rodgers e Hart, Andrew Lloyd Weber e Tim Rice, todas mais ou menos no padrão letrista / compositor. Edu Lobo e Chico também funcionaram assim. Mas a trajetória pregressa deles e o caráter e a importância de cada um na moderna música popular braseira fazem dessa junção algo realmente especial. Como uma lista de suas canções pode provar .
Fiz uma playlist que inclui praticamente toda a obra conjunta deles. Pra quem quiser conhecer, trata-se de 5 projetos de teatro ou dança que foram de encomenda, o que originou algumas das mais finas canções da história da música popular. O que demonstra o quanto poderia ser positivo para o Brasil uma articulação maior entre a música, o teatro, a dança e o cinema no país, que , hoje, praticamente não se comunicam.
Divirtam-se ! 


3 de agosto de 2015

A mística do circo e a canção popular

Enquanto encerro o "expediente" no último dia de férias, considerei imperativo fazer ao menos uma postagem para celebrar a marca de 60 mil acessos do Massa Crítica Música Popular, mesmo tendo decidido que dessa vez precisava evitar transformar o tempo de descanso em trabalho, por mais prazeroso que este possa ser.
Ao mesmo tempo uma nota melancólica vai entrar, uma vez que pensei essa postagem também como pequena homenagem. Numa dessas coisas incríveis e assustadoras da vida, estava hj na praça com queridos amigos (+ nossas respectivas filhas rsrsrs) e fiz um comentário casual sobre o Orlando Orfei, sem saber que ele havia falecido, como eles imediatamente me informaram. 

Outras coincidências da vida me fizeram pensar no assunto "circo" como tema dessa postagem. É que na última quinta tive o privilégio de assistir ao espetáculo da Sinfônica Pop, em que a OSMIG, sob a regência especialmente convidada do grande pianista e maestro Nelson Ayres, uniu-se à distintíssima cantora Mônica Salmaso para uma apresentação que combinou requinte no repertório, excelência na performance, mas também informalidade, calor, sentimento. E dentro dessa maravilha de espetáculo a Mônica cantou quatro pérolas da obra em parceria de Edu Lobo e Chico Buarque, O grande circo místico: a canção título, Ciranda da Bailarina, A história de Lily Braun e, num emocionante "triz", Beatriz (que vem a ser o nome da filha dos meus amigos Mariana e Léo que estavam comigo na praça). Essencialmente, creio que poucas vezes se viu e ouviu uma intérprete aliando tão bem técnica e sensibilidade. Simultaneamente, por esses mesmos dias acabei de ler a bem acabada biografia musical de Edu Lobo, São bonitas as canções, escrita por Eric Nepomuceno. Concordando essencialmente com o que escreveu o jornalista Mauro Ferreira em seu blog, o livro não ultrapassa a barreira da narrativa consentida, mas faz bem aquilo a que se propõe, oferecendo ao leitor uma boa apresentação do trabalho e da carreira de Edu. Foi justamente o capítulo que traz alguns detalhes sobre o surgimento e o modo de trabalho da parceria Edu/Chico, especialmente dentro do projeto do Circo Místico, um dos que mais gostei no livro. 
Enfim, uma coisa que me fascina nas canções são certas recorrências e tradições temáticas, que se estabelecem de repente num determinado gênero, mas por vezes também para além deles. Podemos citar o automóvel para o bom e velho rock and roll, o mar na bossa nova, os corpos celestes, especialmente o sol e a lua, em diversos gêneros, e por aí vai. O circo, especialmente nesse formato próprio da modernidade, de espetáculo itinerante que transita dos grandes centros ao interior, que vara o país, que fabrica através de toda uma narrativa e uma atividade artística e atlética concatenadas a atmosfera do sonho, do fantástico, da surpresa e da ilusão,da ultrapassagem dos limites do corpo e da mente, enfim, o circo merece ocupar os tratos à bola dos compositores populares. Além do Circo Místico poderíamos enfileirar um sem número de canções, joias como Gran Circo, de Milton e Márcio Borges, ou Being for the benefit of Mr. Kite, em que John Lennon literalmente musicou o pôster de anúncio de um espetáculo circense. Eu mesmo já me incumbi de escrever uma, chamada Parada no ar, sobre a qual depois devo contar alguma coisa. 
Enfim, que ecoem duradouras palmas ao sr. Orlando Orfei, que no picadeiro da memória de todos nós ele continue apresentando as atrações que tanto marcaram a infância da gente, pois seu nome é sinônimo de circo.


13 de maio de 2015

Upa, critatividade!

Este texto, gentilmente cedido pelo Sérgio Santos, que além de nos brindar com uma obra musical profícua, deslumbrante, de quebra lança reflexões de uma pertinência e elaboração que dispensam comentários, basta ler. Aqui ele discorre - partindo de magnífica performance de Elis Regina na tv francesa em 1968, acompanhada de feras como Roberto Menescal e Erlon Chaves - sobre o problema da criatividade e da excelência no cenário musical, considerando suas transformações nas últimas décadas. Para curtir e pensar:
"Vendo esse video, me dei de cara com a passagem do tempo. Peço que o assistam antes de ler o post.



E aí, viram? Isso aconteceu em 1968, há 47 anos. Quase meio século! E Elis, linda, estava na flor dos seus 23 anos. Edu Lobo, autor da música tinha 25. Pensando na música, esse conteúdo aí beira a perfeição, gravado ao vivo em algo que parece uma mera passagem de som, na França. Arranjo mortal, executado milimetricamente, com um suingue arrasador. E vai-se esperar o que de uma intérprete como Elis, no auge da gana musical da juventude, com um bando de feras ao lado, e ainda cantando Edu? Pois bem, para mim está aí o exemplo mais cabal do quanto andamos para trás. Será que a imensa maioria dos jovens de 20 e poucos anos que pretendem a cena musical hoje, sabem que no seu país, há quase meio século, jovens da mesma idade ganhavam o mundo fazendo música nesse nível? A maioria hoje ao menos sabe da existência dessa música? Antes de me chamarem de saudosista, pensem que não fomos capazes enquanto produtores, mercado e público, de garantir a simples existência desse patamar de excelência musical com o passar dos anos. Isso não é saudosismo, é fato: nossa indústria e nossa mídia literalmente jogaram fora a preciosidade que esse nível de exigência musical significa. Particularmente para a mídia que nos privou da diversidade, esse grau de excelência já morreu e com ele a continuidade da criatividade na música. E não estou falando de estilo, de MPB ou outras baboseiras: pode-se ser criativo em qualquer estilo. O que quiseram tornar fora de moda não foi um estilo, mas a própria criatividade!! É óbvio que ainda há hoje jovens, teimosos estranhos no ninho, fazendo música nesse nível, e eu fico feliz igual pinto no lixo ao ver que, apesar de tudo, a música de verdade não pára, ela vai sempre seguir em frente, usando agora de novos caminhos. Só que daqui há mais 50 anos, se nos mantivermos nessa incapacidade burra, quem saberá disso? Será que ninguém percebe que a música é uma das formas de identidade de nação, e que a educação musical, muito mais que uns caraminguás nas mãos de alguns, é uma das chaves para a construção de riquezas? Sim, originalidade, criatividade, linguagem própria são geradores de riqueza!!! Matar a galinha dos ovos de ouro, é a imagem que me vem. Mais que com a burrice, a indignação é com o desperdício!" Por Sérgio Santos

22 de setembro de 2014

Dançando com os ouvidos


Chico Buarque e Edu Lobo cantam "Ciranda da bailarina" no programa "Te lo do io il Brasile" de 1984 (RAI TV - Itália)




Ciranda da bailarina (Edu Lobo/Chico Buarque) do musical O Grande Circo Místico [conheça, aqui]. Espetáculo marcante, conjugando dança, música, circo, teatro e poesia. O tempo hoje tá curto mas qualquer hora pinta um texto aqui sobre ele. Mas acabei encontrando esses vídeos, intimistas, motivado pelo comentário feito por uma querida colega pesquisadora, com quem já tive muita satisfação em trabalhar, a Carla Corradi, relatando que estava transcrevendo uma entrevista concedida por uma bailarina. Me senti imediatamente dançando com os ouvidos...


Procurando bem todo mundo tem pereba,
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira, verruga, nem frieira
Nem falta de maneira ela não tem

Futucando bem, todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho,
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida, nem dente com comida
Nem casca de ferida ela não tem

Não livra ninguém,
Todo mundo tem remela quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem

Medo de subir, gente
Medo de cair,gente, medo de vertigem quem não tem?

Confessando bem,
Todo mundo faz pecado, logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem

Sujo atrás da orelha, bigode de groselha
Calcinha um pouco velha ela não tem
O padre também pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina

Reparando bem todo mundo tem pentelho
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília, goteira na vasilha
Problema na família, quem não tem?

Procurando bem...
Todo mundo tem...
Procurando bem...


(Outro vídeo, também de 1984, salvo engano extraído daquela série de dvds do Chico)


30 de agosto de 2013

Um Lobo nada bobo

Para homenagear os 70 anos do Edu Lobo, fiz aqui uma rápida seleção de alguns trechos de entrevistas que considero emblemáticas. Edu fala de sua formação musical, referências, amizades e criação. 

“Agora estou me lembrando de uma vitrola. (...) Lembro muito de ouvir Frank Sinatra, que tinha na minha casa. As músicas de George Gershwin, Cole Porter, Irving Berlin, os compositores americanos da época. E brasileiros, muitos: Aracy de Almeida cantando Noel, as canções do Caymmi, as canções do Herivelto Martins, do Lupicínio [Rodrigues], as cantoras todas, a Nora Ney.” (NAVES, COELHO & BACAL, 2006: 226)

“(...) e o Dori [Caymmi] roubava os acordes do João [Gilberto]. E onde é que ia aprender? Não tinha songbook, professor de violão dando aqueles acordes. E o Dori ficava ouvindo e olhando (...)”“ Na trilha dos sonhos”.Revista Palavra, ano 2 n°16 ago/2000, p. 14.

“(...) toda minha história musical começou com essas pessoas: com Vinícius [de Moraes], com Tom [Jobim], com Carlinhos [Lyra], com Baden [Powell], com Oscar [Castro Neves], enfim...Foi a partir desse momento que eu fui comprando os discos, me interessando pelo trabalho deles e convivendo com eles, que eu fui virando músico.” (NAVES, COELHO & BACAL, 2006: 226)


“Então, quando eu comecei a trabalhar em música (...) uma maneira de eu fazer alguma coisa que não fosse repetir o que estava sendo feito, foi misturar essa informação que eu tinha de música nordestina com toda a escola harmônica que tinha aprendido na bossa nova. (...) Eu comecei a fazer frevos e baiões, o que não era comum na época.” (NAVES, COELHO & BACAL, 2006: 224)


“(...) quando explodiu a história do tropicalismo, eu estava bem mais interessado no que estava acontecendo no Clube da Esquina. (...) tinha uma forma definida e novas idéias musicais (...) novidade harmônicas. E novidades de canto: aí tinha o Milton Nascimento cantando de um jeito que ninguém cantava, letras interessantes, compositores extraordinários como o Toninho Horta, o próprio Milton, Nelson Ângelo, Beto Guedes, depois o Lô Borges (...) os instrumentistas, como Wagner Tiso, Luís Alves, Helvius Vilella, Nivaldo Onellas... Eles eram grandes músicos e faziam uma espécie de música progressiva, assim pós-bossa nova (...)” (NAVES, COELHO & BACAL, 2006: 266)




Para ler entrevista recente de Edu, clique aqui.

O show Edu Lobo 70 anos, com direção musical e arranjos de Cristovão Bastos, está disponível no You Tube.




9 de junho de 2013

Grandes encontros da música popular - Edu e Chico

A longa parceria, iniciada com Moto-contínuo em 1981, vicejou e deu belíssimos frutos para a discografia da MPB daí em diante, especialmente em projetos como O grande circo místico (1983), O corsário do rei (1985), Dança da meia-lua (1988) e Cambaio (2001). Curioso, de certa forma, que esses dois verdadeiros pontas-de-lança da música brasileira tenham demorado a iniciar essa parceria. "Não importa, são bonitas as canções"... Versos pinçados belíssima meta-canção Choro Bandido, mas essa postagem começou com outra que não fica atrás, Uma canção inédita. Dá pra perceber o grande entrosamento desses dois craques, seja compondo, cantando ou conversando:


3 de janeiro de 2012

Grandes encontros e histórias de compositores: afro-sambas

Instigado pelo Marcelo Gloor, vou tratar do grande encontro de Vinícius com Baden Powell. Lembro com nitidez o momento exato em que descobri, numa das entrevistas do Pasquim, revisitadas durante a pesquisa do doutorado, um detalhe que escapa de muitos relatos (inclusive dos protagonistas!) sobre a história dessa reunião espetacular. Segundo Baden [O Pasquim, n°35, 09-15/02/1970, p.15], Berimbau foi composta por volta de 1960, e só posteriormente incorporada por Vinícius no conjunto dos “afro-sambas”, que seriam reunidos no LP Os Afrosambas (Forma, 1966).




Outra pista apareceu numa fala de Edu Lobo em mesa de debate promovida no n° 4 da Revista Civilização Brasileira, em 1965:
“(...) Mas nossa música não parou aí. Surgiram variações da bossa nova original, que só atestam sua riqueza. Até que surgiu Baden Powell que introduziu o elemento afro, no caso, o samba negro, com batida (‘Berimbau’ é um exemplo) e com influência de Villa-Lobos (...)”

Muito poderia ser dito a partir desse trecho, inclusive sobre o sentido que tinha então o termo "afro", certamente diferente do atual. Mas interessa aqui é constatar que os afro-sambas não podem ser interpretados como mero desenvolvimento dentro da bossa nacionalista de meados dos anos 1960, pois rompem com alguns de seus padrões, especialmente na sua concepção rítmica e execução violonística. Por outro lado não podem ser percebidos como projeto de ruptura total, uma vez que não foram criados ou recebidos assim no contexto de sua produção e recepção inicial. Por fim, vale ressaltar que as discussões sobre o nacional e o popular daquele momento foram acirradas e geraram muitos desdobramentos historica e esteticamente relevantes para a música popular brasileira. Os afro-sambas são prova disso e mereceram inúmeras regravações, dentre tantas maravilhosas destaco o disco primoroso de Mônica Salmaso e Paulo Bellinati:

27 de dezembro de 2011

Grandes encontros na música popular II

Dando sequência à série, esse não poderia faltar: Edu & Tom - Tom & Edu, 1981, produção do Aloysio de Oliveira. Falar o que desse disco? Nada. Deixa os caras falarem (reproduzo abaixo os texto do encarte, que foi um dos motivos pra comprar o vinil no sebo. curiosidade: ele estava recortado na parte da letra de É preciso dizer adeus, de Tom e Vinícius. Quem a terá recortado, e porquê?)

"O que acontece é o primeiro encontro de dois grandes compositors de nossa música. Tudo muito à vontade, tudo muito íntimo, que seria a única maneira como esse evento deveria ser realizado. E, como resultado da mútua admiração, um participa da música do outro sempre que o momento se apresenta naturalmente.
A única coisa a acrescentar é que tomar parte num disco assim é um grande prazer (ou um sarro, um barato)."
ALOYSIO DE OLIVEIRA

"Acompanho há muitos anos o trabalho deste grande músico. Conheci Edu ainda adolescente, magro, de grandes olhos, sobraçando o violão, expectante, atento, crescendo no corpo e na música. Era ainda uma promessa. Mais um jovem talentoso que se lançava na perigosa aventura musical; a tentative de uma música brasileira, que muito pode ferir o ego e o bolso.
Hoje o revejo homem feito, charmoso, sorridente, dono de cancioneiro vaso e lindo, além de incursões no campo erudito, pois Edu sabe música, orquestra, arranja, escreve, canta e toca violão e piano.Estudou, o que representa uma enorme vantagem.
Mal redimido da noite surge, na manhãzinha de névoa o avião.
No seu bojo vem Aloysio de Oliveira, nosso amigo e produtor deste disco. Full flaps down. Landing gear down. O avião aterissa no Galeão,Rio de Janeiro. Edu, Aloysio e eu somos velhos amigos. Há muito nos entendemos bem, naquele ambiente de amizade fraternal tão necessária a este tipo de trabalho.
Que bom que chegou o dia de gravar um disco com Edu! Que alegria, que prazer! Ainda mais tendo o Aloysio como produtor! Um disco que mostra Edu e eu na intimidade, bem à vontade, despido da paraphernalia da orquestra. Basicamente violão, piano e canto.
Mas ouçamos..."
TOM JOBIM

"De todos os arquitetos de música que conheço Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é, sem dúvida o de traço mais amplo e perfeito. Dele surgem projetos sólidos, feitos para abrigar os corações do mundo.
Como um artesão, Tom cuida de seu trabalho obsessiva e constantemente, mas sem pressa. Com a ponta dos dedos,na exata emoção de quem conhece o seu ofício inteiramente. E nos ensina, a todos, o que é a Música, esta incrível e solitária experiência dos sons, suas côres e seus mistérios.E também como tratá-la, de forma simples e econômica, como um poeta: jamais poetizando seu poema.
Mais do que a alegria e o prazer deste trabalho, fica o orgulho de dividir
alguns momentos de música com o Brasileiro Antonio, das agues de março, do matita, do pôrto das caixas, do amparo, das luísas, da sinfonia de Brasília, das saudades do Brasil. O maior compositor de música popular de todos os países."
EDU LOBO


Pra dar um gostinho, confiram a ótima Moto-contínuo (Edu e Chico Buarque)

10 de novembro de 2011

O circo e a música popular

Ainda sob inspiração do ótimo filme "O palhaço", dirigido pelo Selton Mello, encontrei esse vídeo feito em comemoração aos 20 anos de O Grande Circo Místico.

8 de novembro de 2011

Beatriz - O Grande Circo Místico

Uma das canções mais belas de toda música popular, uma das interpretações mais tocantes. Boas vindas à mais nova Beatriz do planeta.

Primeiros-Bailarinos do Balé Teatro Guaíra: Eleonora Greca e Wanderley Lopes.

Do canal de Eleonora Greca no You Tube.( em 30/11/2008)

'O Grande Circo Místico' é um espetáculo musical brasileiro estreado em 1983. Criado originalmente para o Balé Teatro Guaíra em Curitiba pelo coreógrafo Carlos Trincheiras, e inspirado no poema homônimo do parnasianista/modernista Jorge de Lima (da obra 'A Túnica Inconsútil', 1938), o espetáculo foi preparado durante todo o ano de 1982 e estreou em 17 de março de 1983 mesclando música, balé, ópera, circo, teatro e poesia. Consagrou umas das mais completas obras já apresentadas no país, lotando o Maracanãzinho no Rio de Janeiro, e o Coliseu dos Recreios em Lisboa. As letras e as músicas do espetáculo foram criadas por Chico Buarque e Edu Lobo e conta a história do grande amor entre um aristocrata e uma acrobata e a saga da família austríaca proprietária do Grande Circo Knieps, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século.

6 de novembro de 2011

Uma noite em 67 - extra - Edu Lobo conta a história de Ponteio

Mais uma postagem da seção 1a. c/ a 7a., que desta vez atende também à série Histórias de Compositores.
O ótimo documentário Uma Noite em 67, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil, penetra nos bastidores do III Festival da Música Popular Brasileira da Record. Nesse pequeno trecho extra Edu Lobo, Dory Caymmi e Marilia Medalha contam como a bela canção "O Cantador" (Dory Caymmi / Nelson Motta) inspirou a composição de "Ponteio".
De lambuja, o trailer oficial do documentário:




O link para o filme completo, aqui.

19 de agosto de 2011

Ambiente de estúdio



Essa música do Edu é super 'modal', num terreno que não é tão distante do rock, uma presença de um ostinato grave, o ritmo corrido, esses acordes menores com nona e décima primeira. Agora, a curtição do vídeo é a discussão sobre fazer ao vivo ou dublado ! Muito bom o Tom meio bêbado e teimoso... depois dá uma cantada .... aliás, duas ! (palhinha do meu parceiro Pablo Castro)
Observar o ambiente do estúdio, a interação, as categorias empregadas pelos músicos e o emprego dos recursos técnicos.


10 de fevereiro de 2011

Exercer as preferências, exercitar a crítica

Uma das propostas iniciais do blog era ser um espaço para discutir questões de gosto, sem reservas. Exercer as preferências, exercitar a crítica. Pra começar, na sequência da postagem anterior, coloco em debate: qual a melhor versão* de Reza (Edu Lobo/Ruy Guerra)?
Edu Lobo http://www.youtube.com/watch?v=6c8WU9-PGV0&feature=fvw
Quarteto em Cy http://www.youtube.com/watch?v=Wf3SQpDorTE
Elis Regina http://www.youtube.com/watch?v=n5EtYfZVYM4
*Além das que postei aqui, há outras. Os comentadores ficam desde já convidados a incluí-las, se possível com o respectivo link.