Falando das afinidades entre os Beatles e o Clube da Esquina, como não lembrar dessa versão insuperável de Norwegian Wood (Lennon/McCartney). Gravada originalmente em 1975 (lado B do compacto que trazia no A Caso você queira saber), depois teve as vozes regravadas (nem precisava...) para figurar no LP Sol de Primavera do Beto Guedes. Em seu depoimento ao Museu Clube da Esquina, Milton assinala que leu num artigo do New York Times "(...) que foi a melhor interpretação de música dos Beatles de todos os tempos". Em minha tese de doutorado escrevi algumas linhas tratando do assunto, que reproduzo abaixo:
"Em sua apreciação de alguns discos do Clube da Esquina, Robert PALMER começa intitulando seu artigo “Leste brasileiro exporta pop influente para o mundo” [para ver, passe por aqui] . Além de situar Minas no “leste”, comete o equívoco de relatar que Belo Horizonte - sua capital e uma das maiores cidades brasileiras - começou como cidade mineradora! A escolha do artigo parece até temerária. No entanto, logo adiante o autor diz que além do minério, seu outro principal produto de exportação é “(...) um grupo único de artistas que têm tido um importante impacto no jazz e na música popular, não apenas no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na Europa”. O autor prossegue buscando uma caracterização da música produzida pelo grupo, tenta mapear influências e misturas, que vão do folclore africano, europeu e brasileiro ao jazz moderno e rock dos anos 60. Mas constata que não há um rótulo para classificá-la. Consegue identificar um trabalho coletivo, mapeando compositores e instrumentistas, mas ao mesmo tempo consegue ressaltar suas diferenças. Considera o álbum duplo Clube da Esquina (1972) como “manifesto” do grupo. Num momento marcante, assinala a versão de Norwegian Wood (Lennon / McCartney) como uma das mais impressionantes colaborações do Clube. Curioso: para ressaltar a originalidade dos músicos “mineiros”, PALMER escolhe o que considera como uma “remodelação radical” da canção dos Beatles, ícones do pop. Aliás, a versão “despopiza” a canção, no sentido de lhe imputar uma profundidade emocional e um panorama sonoro complexo que desautorizam seu consumo apressado. Por fim, ele sentencia: as distinções de gênero tratadas como algo dado para os norte-americanos, simplesmente não se aplicam ao caso, pois os músicos de Belo Horizonte (pois ele ignora os vínculos diversos dos músicos com o interior do Estado) “tornam as categorias irrelevantes”. (GARCIA, 2007)
Que arranjo maravilhoso. Um estilo de escrita de cordas bem típica dos beatles, mas umas intervenções nos sopros quase que fazendo uma citação a Penny Lane. O que mais me impressiona é que não conhecia o compacto, mas como deixei escapar da escuta de "Sol de Primavera"? Onde eu estava com a minha percepção que deixei escapar essa faixa?
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