Os depoimentos, longos ou não, são importantes para que se desenvolva uma perspectiva sobre um determinado objeto, no caso o Fora do Eixo. Eles se cruzam, evidentemente, com outros registros e formas de troca de experiência. Como era de se esperar aparecem depoimentos {Laís Bellini, Isabelle Gusmão, Tuizo Tozzi, Beatriz Seigner, Malu Aires George Yudice entre tantos} de toda ordem, mais ou menos coerentes, mais ou menos refletidos, ou intensos. Mas todos os que tenho lido (não só os que aparecem agora, mas há mais tempo também) de alguma forma convergem no sentido de revelar práticas nefastas que estão de alguma forma camufladas por uma retórica supostamente "revolucionária" e "coletivista". Cito aqui a precisa síntese de meu parceiro Pablo Castro: "O
Fora-do-Eixo não se interessa por isso [arte]. Interessa-se por editais
públicos, jogos de gabinete, tráfico de influência e marketing baseado
em trabalho escravo 2.0." Simplesmente é isso, uma forma de expropriação do trabalho até mais rentável do que a do trabalho assalariado.
Sem disposição para fazer tratados no momento, mas como afirmar, como querem alguns, ser contra-hegemônica uma forma econômica que promove a expropriação do trabalho - não vem ao caso se é voluntária ou não é, pois no limite "trabalho" é um meio de manutenção da existência humana, o que torna ainda mais integrada uma forma de expropriação que supera até a concessão de remuneração do trabalho tipicamente capitalista que é o salário. O FdE vende "espaço", "divulgação", "exposição na mídia" (ainda que não seja a tradicional) , bens simbólicos, intangíveis, cujo valor difícil de mensurar foi cartesianamente atribuído através de um sistema monetário (cubo cards), que no fundo se lastreia, SIM, na produção material real que desemboca nos recursos públicos aferidos por IMPOSTOS, pois é das leis, editais e demais mecanismos de renúncia fiscal que são alocados os milhões de REAIS que pagam pelos eventos, circuitos, etc. Portanto, basicamente, podemos dizer que o FdE especula com o dinheiro público se aproveitando organicamente, sem qualquer contraponto, de uma política neoliberal implantada na área cultural.
Seus dirigentes, organizadores, integrantes, colaboradores, ou seja como se chamem, devem ser interpelados na medida de seu comprometimento e atitudes. Não é possível ignorar a profusão de críticas, denúncias, desabafos. Respostas serão cobradas, junto com documentos que possam esclarecer as questões nebulosas [esperando coisa melhor que isso aqui]. Mas, creio que o buraco é bem mais embaixo e a interpelação deve ser direcionada também às instâncias públicas responsáveis. Porque está claro que há aí um verdadeiro sorvedouro de recursos públicos (via leis de incentivo, editais e congêneres) destinados à cultura que revelam, talvez em uma versão superlativa, o grande problema de concepção dessa forma de financiamento público da cultura em que emergiu a figura do atravessador/produtor cultural que em modulações diversas intermedeia a criação alheia e conseguem ser mais bem remunerados que os próprios criadores [não estou obviamente ignorando as exceções, mas chamando a atenção para um padrão]. É muito grave que este modelo que se preste ao financiamento de "casas" e de uma organização em que há evidências de práticas que desrespeitam vários direitos, coação, assédio e/ou violência, exploração do trabalho, entre outros. Assim, não é o caso apenas de denunciar e criticar o FdE a partir de evidências mais do que abundantes, mas sim de conduzirmos uma reflexão sobre toda uma forma de organizar os recursos públicos destinados à Cultura em nosso país, pois é nos nós cegos do modelo do incentivo que se costuram práticas nefastas dessa rede/seita, e que também se precariza, efetivamente, as possibilidades concretas de sobrevivência digna, independente e criativa dos que são indubitavelmente os artistas.
Para ler também:
"A arte da renda". In: A produção capitalista do espaço
Sem disposição para fazer tratados no momento, mas como afirmar, como querem alguns, ser contra-hegemônica uma forma econômica que promove a expropriação do trabalho - não vem ao caso se é voluntária ou não é, pois no limite "trabalho" é um meio de manutenção da existência humana, o que torna ainda mais integrada uma forma de expropriação que supera até a concessão de remuneração do trabalho tipicamente capitalista que é o salário. O FdE vende "espaço", "divulgação", "exposição na mídia" (ainda que não seja a tradicional) , bens simbólicos, intangíveis, cujo valor difícil de mensurar foi cartesianamente atribuído através de um sistema monetário (cubo cards), que no fundo se lastreia, SIM, na produção material real que desemboca nos recursos públicos aferidos por IMPOSTOS, pois é das leis, editais e demais mecanismos de renúncia fiscal que são alocados os milhões de REAIS que pagam pelos eventos, circuitos, etc. Portanto, basicamente, podemos dizer que o FdE especula com o dinheiro público se aproveitando organicamente, sem qualquer contraponto, de uma política neoliberal implantada na área cultural.
Seus dirigentes, organizadores, integrantes, colaboradores, ou seja como se chamem, devem ser interpelados na medida de seu comprometimento e atitudes. Não é possível ignorar a profusão de críticas, denúncias, desabafos. Respostas serão cobradas, junto com documentos que possam esclarecer as questões nebulosas [esperando coisa melhor que isso aqui]. Mas, creio que o buraco é bem mais embaixo e a interpelação deve ser direcionada também às instâncias públicas responsáveis. Porque está claro que há aí um verdadeiro sorvedouro de recursos públicos (via leis de incentivo, editais e congêneres) destinados à cultura que revelam, talvez em uma versão superlativa, o grande problema de concepção dessa forma de financiamento público da cultura em que emergiu a figura do atravessador/produtor cultural que em modulações diversas intermedeia a criação alheia e conseguem ser mais bem remunerados que os próprios criadores [não estou obviamente ignorando as exceções, mas chamando a atenção para um padrão]. É muito grave que este modelo que se preste ao financiamento de "casas" e de uma organização em que há evidências de práticas que desrespeitam vários direitos, coação, assédio e/ou violência, exploração do trabalho, entre outros. Assim, não é o caso apenas de denunciar e criticar o FdE a partir de evidências mais do que abundantes, mas sim de conduzirmos uma reflexão sobre toda uma forma de organizar os recursos públicos destinados à Cultura em nosso país, pois é nos nós cegos do modelo do incentivo que se costuram práticas nefastas dessa rede/seita, e que também se precariza, efetivamente, as possibilidades concretas de sobrevivência digna, independente e criativa dos que são indubitavelmente os artistas.
Para ler também:
"A arte da renda". In: A produção capitalista do espaço
Por David Harvey [aqui pdf completo do livro]
"O pós-rancor e o velho Estado: uma crítica amorosa à política do Fora do Eixo"
Por Regis Argüelles [aqui]
"Olhar de Alguém de Fora no Fora do Eixo"
Por Shannon Garland [aqui]
"Fora do eixo: raízes do ressentimento"
Por André Azevedo da Fonseca [aqui]
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