Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

10 de setembro de 2013

Música Popular e Colecionismo VII - The archive

Da página da ANPUH no facebook:


"Uma das maiores coleções de discos do mundo já não existe mais. O material foi avaliado em milhões de dólares, mas o dono, morador de Pittsburgh, na Pensilvânia, não conseguiu fechar negócio com nenhuma empresa ou instituição. Paul Mawhinney só manteve os mais valiosos e o resto do material, retratado na imagem, foi destruído.
No documentário sobre o acervo ele diz o por quê: "nobody gives a damn"
 
Num dos pontos altos da entrevista, Paul afirma que apenas 17% das gravações realizadas entre 1948 e 1966 foi relançada em CD. Outro ponto de interesse é a história de criação da sua loja Record-Rama, motivado pelo ultimato de sua esposa. Numa das falas mais emocionantes de Paul em seu depoimento, ele diz que quando entrava alguém na loja procurando alguma raridade ele se sentia parte da raça humana. E por fim, ao constatar o desinteresse geral pela preservação de sua coleção e enfrentando problemas de saúde, ele encerra com uma nota melancólica: "é deprimente que não pensem em preservar isso para as futuras gerações (...) se ninguém entende o que eu fiz, então tenho que desistir disso".

The Archive from Sean Dunne on Vimeo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário