As encruzilhadas entre o trabalho do versátil músico Ry Cooder e o cinema são muitas, e como fazia tempo que não escrevia nada da série 1a. c/ a 7a., e após alguns minutos de navegação errante pela internet acabei encontrando um mini documentário que produziu o desejo de retomá-la. Como músico, sua assinatura mais reconhecível em mais de 50 anos de carreira e diversos álbuns gravados certamente é o slide guitar, em seus próprios trabalhos, ou atuando em estúdio para discos de artistas do naipe de Bob Dylan, Rolling Stones, Taj Mahal, Neil Young, Arlo Guthrie e Eric Clapton, entre outros. Muita gente deve tê-lo ouvido como o autor dos solos do personagem de Ralph Macchio em A encruzilhada (Crossroads, 1986), road movie alusivo à história do lendário bluesman Robert Johnson. Assina a trilha deste e de mais de uma dezena de filmes, com destaque para Paris, Texas, (1985), dirigido por Win Wenders. Foi também com Wenders que dividiu os méritos pelo excelente Buena Vista Social Club, capitaneando a produção desse registro indispensável da música popular cubana cuja gravação o cineasta alemão documentou esplendidamente. O que acho mais interessante em Cooder é que assume, nos seus interesses e projetos musicais, a mobilidade característica dos tocadores de estrada, dos protagonistas de road movie. Se deixou seu pé na terra, guardando um respeitoso diálogo com diferentes tradições musicais norte-americanas, também cruzou oceanos e colaborou com músicos contemporâneos indianos e africanos. Seu engajamento político é outra característica que considero digna de nota, visível em canções como How can a poor man stand such times and live, ou a recente e sarcástica No banker left behind.
Espaço que visa divulgar e disponibilizar trabalhos de criação e crítica referentes à MPB e música popular, não apenas para promover o intercâmbio de gostos e opiniões, mas fundamentalmente catapultar o debate sobre o tema.
Cerejas
Silêncio
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
8 de setembro de 2013
Nas trilhas com Ry Cooder - 1a. c/ a 7a. especial
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