Prêmios, ainda mais "Grammy Latino", podem ser questionados em sua função hegemônica, preferências estéticas e lógica comercial. A divisão de categorias e os resultados refletem sobretudo uma percepção gringa, desde a medula da indústria cultural estadunidense, sobre as culturas latino-americanas. De modo muito ostensivo fica evidente a separação entre o Brasil e o resto dos países do continente, que, claro, não surgiu com o Grammy, e não pode ser simplesmente ignorada, embora seja possível identificar bem melhor as aproximações do que fazem em Miami. A despeito também dos méritos que grandes gerações, como a que reúne Toninho Horta, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, João Bosco, Elza Soares, tem, é também digno de protesto que essa [lista de indicados e premiados brasileiros] e outras premiações ignorem por completo o que as mais recentes produzem, especialmente quando se trata de compositores e intérpretes que não sejam consideradas pop.
Espaço que visa divulgar e disponibilizar trabalhos de criação e crítica referentes à MPB e música popular, não apenas para promover o intercâmbio de gostos e opiniões, mas fundamentalmente catapultar o debate sobre o tema.
Cerejas
A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
20 de novembro de 2020
Prêmio colhido da Horta
Prêmios, ainda mais "Grammy Latino", podem ser questionados em sua função hegemônica, preferências estéticas e lógica comercial. A divisão de categorias e os resultados refletem sobretudo uma percepção gringa, desde a medula da indústria cultural estadunidense, sobre as culturas latino-americanas. De modo muito ostensivo fica evidente a separação entre o Brasil e o resto dos países do continente, que, claro, não surgiu com o Grammy, e não pode ser simplesmente ignorada, embora seja possível identificar bem melhor as aproximações do que fazem em Miami. A despeito também dos méritos que grandes gerações, como a que reúne Toninho Horta, Caetano Veloso, Ney Matogrosso, João Bosco, Elza Soares, tem, é também digno de protesto que essa [lista de indicados e premiados brasileiros] e outras premiações ignorem por completo o que as mais recentes produzem, especialmente quando se trata de compositores e intérpretes que não sejam consideradas pop.
15 de novembro de 2020
Atuação acadêmica à distância
Intitulei minha fala "Cordilheira de sonhos numa esquina do mundo": América Latina no som imaginário do Clube da Esquina, e este foi o resumo do que digo em minha participação na mesa:
"A partir de conceitos de culturas híbridas, transculturação, cultura popular e moderna tradição pensados em chave latino-americana por autores como García Canclini, Martín-Barbero, Ángel Rama, Antônio Cândido e Renato Ortiz, proponho um trajeto investigativo para pensar uma cartografia sonora imaginária da América Latina na obra discográfica de Milton Nascimento e de seus companheiros do coletivo Clube da Esquina, registrada especialmente entre as décadas de 1960-80. Tal itinerário representa uma possibilidade para entender as possibilidades de trânsito entre culturas, artistas e públicos neste espaço continental, inclusive para além dos marcos temporais traçados, considerando a vitalidade de tal obra e seus criadores. "
No evento "Encontros com o Patrimônio", promovido pela Casa Fiat de Cultura, em BH, participei de uma conversa bacana sobre Santa Tereza e o Clube da Esquina, junto com a historiadora e educadora da Casa, Ana Carolina Ministério, e o ilustríssimo Telo Borges. Na minha fala Patrimônio cultural, lugares e sentidos: a esquina do Clube, apresentei uma síntese das pesquisas que venho conduzindo na UFMG, atualmente encampadas no grupo de estudos Som e Museologia (SOMMUS) que coordeno. Quem quiser ir mais fundo pode começa conferindo o podcast Patrimônio urbano e música popular, aqui mesmo no blog.
5 de novembro de 2020
A crítica musical e as tentativas de enquadramento estético