Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

22 de janeiro de 2014

No ar, os Beatles ao vivo na BBC

Meu plano de escrever uma resenha maior sucumbiu ao fato de que demorei um pouco a efetivamente ouvir o disco (o que acabei fazendo na excelente companhia do amigo Guilherme Lentz), e à competente resenha de meu amigo Renato Ruas Pinto em seu blog Reflexões [aqui]. Só posso recomendá-la e deixar aqui uma "palhinha":
A primeira impressão é de que essas compilações são somente para fanáticos como eu, que colecionam tudo que sai da banda. Porém, para quem deseja conhecer um pouco mais dos Beatles e, principalmente, sobre os primórdios da história do rock, é audição mais do que recomendada por vários motivos.

Realmente é interessante pelo acesso ao registro histórico e pra se ter uma ideia de como não havia parâmetro do que era ser "grande" na música popular. O ritmo de produção dos Beatles passou a ser impensável, entre outras coisas, porque seu próprio patamar de sucesso mudou a indústria. Incrível que poucos anos depois os mesmos músicos que foram obrigados a estar no palco numa frequência absurda puderam simplesmente parar de tocar ao vivo. Quanto ao Live at the BBC, o que era central saiu em 94, que era um CD é duplo. Neste vol.2 On air são de fato poucas faixas inéditas, para ser preciso as versões de “Beautiful Dreamer”, de Stephen Foster, “I’m Talking About You” de Chuck Berry  “Lend Me Your Comb” de Carl Perkins (uma gravação desta saiu no 1° Anthology). 

Outra coisa, é bom lembrar que um disco, como obra, é também o reflexo das condições de produção de seu tempo, o que envolve mixagem, masterização, etc. Assim, o valor como documento histórico de uma remasterização é relativo, uma vez que altera a condição geral de percepção do som. De todo modo, como bem coloca a boa resenha do New York Times , são discos que permitem mergulhar fundo nesse repertório mais amplo dos Beatles e apreender melhor os artistas, gêneros e gravadoras que influenciaram a banda:
That’s a significant chunk of repertory. Most are covers of American records, and though that may seem a drawback for a band distinguished by its songwriting, they tell us what most influenced the Beatles: namely, Motown hits, Chuck Berry, rockabilly (mostly Carl Perkins and Elvis Presley) and East Coast girl groups.
You know that from the covers the Beatles included on their early albums, of course, but the BBC recordings add depth to the playlist.

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