Na série Bolacha completa, a proposta não é necessariamente a de realizar uma resenha técnica, faixa a faixa, mas sim expressar um reconhecimento sobre uma dada obra e evidenciar como se dá essa apropriação por parte de quem, numa audição particular que guarde uma perspicácia ímpar, acrescenta com ela mais alguns sulcos por onde possa transitar a agulha da nossa percepção. É nesse intento que posto este texto escrito e gentilmente cedido - fique aqui registrado meu imenso agradecimento - pelo Thiago Amud, compositor brasileiro cuja contundência artística e demais predicados os leitores que ainda não conhecem façam-se o favor de conhecer, começando por aqui.
- Corpo de Baile -
Por Thiago Amud:
"Escutei ontem, pela primeira vez, Corpo de Baile, o disco em que Mônica Salmaso canta Guinga e Paulo Cesar Pinheiro.
Fugi desse disco porque intuía que, se o ouvisse, aconteceria exatamente o que me aconteceu: a Beleza me esmagaria.
Só senti isso com música uma vez na vida antes dessa: ouvindo a Sinfonia nº2, do Mahler.
Tendências contemporâneas: relativizar a perfeição; tentar atenuar sua violência; tentar elencar razões pelas quais um objeto estético não é nada em si mesmo, mas apenas num determinado contexto sócio-econômico; não medir esforços para desfazer os laços entre o Belo, o Bom e o Verdadeiro; pressupor que tudo tem uma história racionalmente rastreável: cada emoção, cada lágrima, cada empolgação.
Tudo em mim agora diz "não" a essas veleidades.
Corpo de Baile fura a couraça do tempo: a eternidade nos enlaça.
"Thiago, arrenego tanta metafísica, tanto platonismo, tanta idealização! Você fala como um velho de mil anos!"
Eu SOU um velho de mil anos.
Quis me enganar pra não ouvir o disco: a sonoridade deve ser datada, a cantora deve estar fria, o brasilianismo deve ser rançoso, isso, aquilo... Tudo fuga: eu estava era com medo de ouvir e me sentir, como estou me sentindo, indigno de continuar fazendo música.
Corpo de Baile é, até agora, o maior disco da música brasileira do século XXI.
A dialética que aprenda a ouvir a Beleza Absoluta.
O Amor é inegociável."
O disco, na íntegra [assegurando que este blog tem finalidade única e exclusivamente cultural, e que não detém qualquer direito sobre o link/arquivo de imagem incorporado e o retirará imediatamente caso seja solicitado pelos detentores, e recomenda aos leitores que comprem o disco]
1. FIM DOS TEMPOS Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Tiago Costa
2. PORTO DE ARAUJO Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Luca Raele
3. NAVEGANTE Guinga / Paulo César Pinheiro Arranjo Coletivo
4. QUADRÃO Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Luca Raele
5. BOLERO DE SATÃ Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Nelson Ayres
6. CURIMÃ Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Teco Cardoso
7. FONTE ABANDONADA Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Tiago Costa
8. NOTURNA Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Paulo Aragão
9. RANCHO DAS SETE CORES Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Nailor Azevedo Proveta
10.VIOLADA Guinga / Paulo César Pinheiro
11. NONSENSE Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Nailor Azevedo Proveta
12. SEDUTORA Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Luca Raele
13. CORPO DE BAILE Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Nelson Ayres
14. PROCISSÃO DA PADROEIRA Guinga / Paulo César Pinheiro Arr. Dori Caymmi
Nenhum comentário:
Postar um comentário