Provocado pela matéria publicada no site noisey, "BH é o Texas: o rock triste e a cena fantasma de Belo Horizonte" (completa, aqui), meu parceiro Pablo Castro escreveu esse comentário que foi muito além da matéria - diga-se de passagem, jornalismo ruim, incapaz de dar voz a outros pontos de vista a respeito do assunto que trata ou verificar determinadas informações.
Por Pablo Castro
Para além de ser contestado quase que unanimemente pelos próprios
roqueiros da cidade, o conteúdo da matéria " BH é o Texas " incorre no
mesmo erro ancestral do rock : se fechou em si mesmo, como uma espécie
de torcida de futebol difusa e desorganizada, querendo o tempo inteiro
estigmatizar qualquer influência que seja em alguma medida brasileira,
ainda que o rock seja um de seus elementos, como a Tropicália e o Clube
da Esquina, respostas diferentes para questões semelhantes.
Eu acho engraçado por dois motivos : da cena autoral de MPB da cidade
eu sou talvez o que mais diretamente conversa com a influência do rock, e
também me considero o que mais afirma minha afinidade e minha admiração
para com a obra do Clube da Esquina. Isso contudo não significa nem que
meu trabalho é de rock nem que eu tente imitar ou recauchutar o Clube ,
que é uma das várias facetas da minha busca como compositor. É possível
amar uma obra, ser influenciado por ela e ao mesmo tempo não querer
repeti-la. E mais, conheço, no estado de Minas, excelentes experiências
criativas mais inequivocamente informadas pelo Clube e que também não
lhe são imitações, como o que faz meu amigo Clayton Prosperi
, que esteve aqui semana passada , a quem não pude assistir justamente
por ocasião da minha apresentação com o Lô na casa A Autêntica. Até
porque o que se chama de Clube da Esquina tem lados muito
diversificados, Toninho Horta de um lado, Tavinho Moura de outro, Nelson
Ângelo de um lado, Beto Guedes de outro. Não se trata de forma alguma
de uma obra homogênea. A genialidade de Milton de alinhavar tão
heterogêneas direções nos mesmos discos tem a ver com a sua própria
capacidade de sintetizar esse mosaico de forma bem acabada.
O que
é chamado de rock hoje é qualquer agremiação musical que olha e olhará
sempre para fora e não enxergará o que está próximo, desde que tenha
guitarras elétricas , baixo e bateria. Acho que isso é uma opção, claro,
mas depois não reclamem que a "cena não dialoga". Nem mesmo as bandas
clássicas da década de 90, como Cartoon, Calix e Somba, ainda na ativa,
são sequer mencionadas por uma matéria que credita a reputação do
Graveola ao Fora do Eixo (???) , e que fala de umas bandas de que eu
realmente nunca ouvi falar.
A música de Minas é grande, e
variada. É a maior província do Brasil, mas provavelmente é o maior
celeiro. A mim não me interessa me filiar a um nicho que se considera
escolhido por Deus ou pelo Diabo a ser algo "oxigenado" por quem ignora a
grandeza do que ultrapassa os cercadinhos do que se chama de rock. Sou
músico pela música, e ela é muito maior do que uma espécie de
super-gênero meio messiânico.
Apenas para finalizar, o compositor
de mais estofo da minha geração, do Rio de Janeiro, qualifica a
produção de canções em Minas como a mais rica do Brasil. E ele não se
preocupa se é rock, baião, balada, sertão, barroco, música de câmara,
valsa, arrasta-pé, reaggae ou que seja. A nossa música vai mais além.
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Muito bom!!!
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