É difícil fazer crítica cultural em tempos tão espinhosos. É preciso ter
ferramentas analíticas adequadas e disposição para encarar um
patrulhamento terrível, que atualmente tem vestido o manto da dita
"apropriação cultural". Daí vou compartilhar esse exemplo inusitado,
pouco usual, da atriz branca de séries e alguns filmes hollywoodianos
que foi criticada nos Estados Unidos porque citou a letra de um rap de
1992 "Baby got back" - cuja recepção preconizava a valorização de traços corporais das
negras - com a finalidade (narcisista, diga-se de passagem) de celebrar
seu próprio corpo [aqui a matéria completa]. O que realmente me interessou foi a declaração do
rapper Sir Mix-a-lot, autor da canção: "Escrevi essa canção não sobre
uma batalha entre raças (...) eu queria que essas grandes revistas se
abrissem e dissessem 'espere um pouco, essa pode não ser a única [forma]
de beleza". Várias coisas a pensar, mas sobretudo ressalte-se a fluidez
da música popular em circular em diferentes meios sociais, adquirir
sentido para indivíduos de perfis variados, ser usada para manifestas
opiniões e modificar a percepção social a respeito de um tema, propor
mudanças de costume e comportamento.
É certamente necessário tomar qualquer objeto de análise na sua devida complexidade. A música popular, seja no que constitui sua confecção ou a partir do momento em que transita por diferentes meios, grupos sociais e temporalidades, pode até mesmo ser relida de forma incongruente com a que seus próprios autores a imaginaram. Justamente, li certa vez um artigo que trata dos diferentes usos de Imagine, de John Lennon, mencionando inclusive uma
convenção do Partido Conservador britânico, no tempo da Tatcher, tocando
a canção no início do evento. Um trabalho muito consistente a respeito dessas diferentes apropriações é o de
Louise MEINTJES - Paul Simon’s Graceland [álbum completo, aqui], South Africa, and the mediation of musical meaning. in: Ethnomusicology. Illinois: Illinois University Press, winter 1990, pp. 37-73. Obviamente as diferentes disputas em torno dessa interpretações envolvem relações de poder, como muito bem indica o genial Baião de Lacan de Guinga e Aldir.
Louise MEINTJES - Paul Simon’s Graceland [álbum completo, aqui], South Africa, and the mediation of musical meaning. in: Ethnomusicology. Illinois: Illinois University Press, winter 1990, pp. 37-73. Obviamente as diferentes disputas em torno dessa interpretações envolvem relações de poder, como muito bem indica o genial Baião de Lacan de Guinga e Aldir.
"Eu fui pra Limoeiro e encontrei o Paul Simon lá
Tentando se proclamar
Gerente do mafuá"
Tentando se proclamar
Gerente do mafuá"
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