A saída de José Wilker do palco da vida é de ser lamentada. Sua galeria de personagens, no cinema, teatro e tv, dão a medida do ator que era, mas também de sua profunda ligação com a história e a cultura brasileiras (ver matéria de O globo, aqui). Wilker viveu Lorde Cigano em Bye, bye, Brasil (Cacá Diegues, 1979), o filme da transição dos anos 1970 para os 1980 [assista aqui], fez a súmula dos contrastes culturais, sociais, políticos e econômicos resultantes das contradições de nossa modernização, brilhantemente sintetizados na canção tema com música de Roberto Menescal e letra de Chico Buarque, emulando genialmente uma conversa ao orelhão (esse aparelho que caminha a passos largos para tornar-se relíquia do mundo pré telefonia celular) em que só ouvimos "o lado de cá" da conversa, como se estivéssemos imediatamente atrás do cantante aguardando nossa vez de falar ao telefone. Sei inclusive por experiência própria que quando se saca o "tema" e o "conceito" de uma letra, ela pode ser estender indefinidamente enquanto o autor saboreia o jogo para o qual inventou as regras. Conta-se que o Chico chegou para gravar levando uma letra quilométrica e que o próprio Cacá (mas em algumas versões teria sido o Menescal) cortou com tesoura num dado ponto em que acho quer era suficiente. Muitos casos contados e coisa boa escrita sobre essa canção - recomendo o excelente texto do Túlio Villaça em seu blog Sobre a canção, e também a exemplar análise de José Miguel & Guilherme Wisnik em O artista e o tempo, no volume 2 do Songbook produzido pelo saudoso Almir Chediak. Colhi também alguns trechos de livros que são citados no site oficial do Chico para complementar, e já está de bom tamanho porque hoje o principal é a homenagem. Bye, bye, Wilker.
"Os casais Cacá Diegues/Nara e Roberto Menescal/lara foram vizinhos durante anos em um prédio de apartamentos em Ipanema, tendo Cacá, num encontro cotidiano, proposto a Menescal que compusesse a trilha musical de seu filme "Bye Bye, Brasil", sugerindo Chico Buarque como letrista. Juntos pela primeira vez numa parceria e indecisos sobre quem faria antes a sua parte, Chico e Menescal acabariam concordando que qualquer um poderia começar, a partir do momento em que tivesse uma boa idéia. Um dia, voltando de São Paulo pela ponte aérea, o violonista teve de repente "a boa idéia", uma melodia inspirada pelo próprio título do filme. O curioso é que a inspiração surgiu quando ele aguardava, sentado numa poltrona do avião, espremido entre dois sujeitos enormes, que fosse resolvido um problema para a decolagem. Anotada a frase inicial numa pauta improvisada e concluída a melodia um dia depois, Menescal entregou-a a Chico e ficou esperando a letra. Só que o poeta demorou tanto, que chegou o dia da gravação sem que ele a tivesse aprontado. Finalmente, na hora da mixagem, com o tema principal gravado no seu tom, Chico entrou no estúdio trazendo uma imensa tira de papel, com uma letra maior do que se poderia desejar...Mas Cacá logo resolveu a parada da maneira mais prática. Leu os versos até certo ponto e decretou: "tá bom até aqui", cortando o resto com uma tesoura. Assim foi gravada por Chico Buarque a excelente canção "Bye Bye, Brasil", bem vinculada ao enredo do filme, com um personagem narrando num telefone público suas aventuras ambulantes para a namorada: "Oi, coração / não vai dar pra falar muito não / espera passar o avião / assim que o inverno passar / eu acho que vou te buscar / aqui tá fazendo calor / deu pane no ventilador / já tem fliperama em Macau..." Foi desta gravação que se originou o compacto duplo do filme de grande sucesso. Depois, Chico fez nova gravação com outro arranjo de Menescal para o elepê, enquanto o músico a gravava em versão instrumental para o seu disco Ditos e feitos. Existem ainda outras versões de destaque como a do Grupo Pau Brasil e a de Zé Roberto Bertrami, com Hélio Delmiro, premiada pela revista Playboy. Meses mais tarde, Menescal viveria uma experiência pitoresca em Cabo Frio. Tocando numa reunião de amigos, foi interpelado por uma garota: "Você sabe aquela música do Chico Buarque, 'Bye Bye, Brasil'? Ah, toca pra gente cantar..." Então, com sua calma habitual, o autor ignorado tocou sua música, por sinal uma das mais difíceis de sua obra. Que o digam os que se atrevem a gravá-la, pois enquanto a melodia tem diferenças sutis, às vezes apenas uma notinha entre frases aparentemente iguais, a harmonia é uma sugestiva sucessão de acordes ao improviso". Jairo Severiano /Zuza Homem de Melo
"...Chico viu o filme já pronto e sonorizado antes de pôr letra na música de Roberto Menescal. O diretor lhe pediu que tirasse "duas ou três coisinhas" - uma delas, o verso tem um japonês 'trás de mim. Cacá temia que parecesse uma alusão ao ministro das Minas e Energia do governo Médici, Shigeaki Ueki. Chico conseguiu dobrá-lo e o japonês ficou. Mesmo que o ministro Ueki fosse aquela pessoa na fila do orelhão em Bye bye Brasil, como chegou a desconfiar Cacá Diegues, Chico dificilmente confirmaria. Não se conte com ele para buscar na vida real as chaves de suas canções. Humberto Werneck
Oi, coração
Não dá pra falar muito não
Espera passar o avião
Assim que o inverno passar
Eu acho que vou te buscar
Aqui tá fazendo calor
Deu pane no ventilador
Já tem fliperama em Macau
Tomei a costeira em Belém do Pará
Puseram uma usina no mar
Talvez fique ruim pra pescar
Meu amor
No Tocantins
O chefe dos parintintins
Vidrou na minha calça Lee
Eu vi uns patins pra você
Eu vi um Brasil na tevê
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo tão só
Oh, tenha dó de mim
Pintou uma chance legal
Um lance lá na capital
Nem tem que ter ginasial
Meu amor
No Tabariz
O som é que nem os Bee Gees
Dancei com uma dona infeliz
Que tem um tufão nos quadris
Tem um japonês trás de mim
Eu vou dar um pulo em Manaus
Aqui tá quarenta e dois graus
O sol nunca mais vai se pôr
Eu tenho saudades da nossa canção
Saudades de roça e sertão
Bom mesmo é ter um caminhão
Meu amor
Baby, bye bye
Abraços na mãe e no pai
Eu acho que vou desligar
As fichas já vão terminar
Eu vou me mandar de trenó
Pra rua do Sol, Maceió
Peguei uma doença em Ilhéus
Mas já tô quase bom
Em março vou pro Ceará
Com a benção do meu orixá
Eu acho bauxita por lá
Meu amor
Bye bye, Brasil
A última ficha caiu
Eu penso em vocês night and day
Explica que tá tudo okay
Eu só ando dentro da lei
Eu quero voltar, podes crer
Eu vi um Brasil na tevê
Peguei uma doença em Belém
Agora já tá tudo bem
Mas a ligação tá no fim
Tem um japonês trás de mim
Aquela aquarela mudou
Na estrada peguei uma cor
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo um jiló
Eu tenho tesão é no mar
Assim que o inverno passar
Bateu uma saudade de ti
Tô a fim de encarar um siri
Com a benção de Nosso Senhor
O sol nunca mais vai se pôr
Não dá pra falar muito não
Espera passar o avião
Assim que o inverno passar
Eu acho que vou te buscar
Aqui tá fazendo calor
Deu pane no ventilador
Já tem fliperama em Macau
Tomei a costeira em Belém do Pará
Puseram uma usina no mar
Talvez fique ruim pra pescar
Meu amor
No Tocantins
O chefe dos parintintins
Vidrou na minha calça Lee
Eu vi uns patins pra você
Eu vi um Brasil na tevê
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo tão só
Oh, tenha dó de mim
Pintou uma chance legal
Um lance lá na capital
Nem tem que ter ginasial
Meu amor
No Tabariz
O som é que nem os Bee Gees
Dancei com uma dona infeliz
Que tem um tufão nos quadris
Tem um japonês trás de mim
Eu vou dar um pulo em Manaus
Aqui tá quarenta e dois graus
O sol nunca mais vai se pôr
Eu tenho saudades da nossa canção
Saudades de roça e sertão
Bom mesmo é ter um caminhão
Meu amor
Baby, bye bye
Abraços na mãe e no pai
Eu acho que vou desligar
As fichas já vão terminar
Eu vou me mandar de trenó
Pra rua do Sol, Maceió
Peguei uma doença em Ilhéus
Mas já tô quase bom
Em março vou pro Ceará
Com a benção do meu orixá
Eu acho bauxita por lá
Meu amor
Bye bye, Brasil
A última ficha caiu
Eu penso em vocês night and day
Explica que tá tudo okay
Eu só ando dentro da lei
Eu quero voltar, podes crer
Eu vi um Brasil na tevê
Peguei uma doença em Belém
Agora já tá tudo bem
Mas a ligação tá no fim
Tem um japonês trás de mim
Aquela aquarela mudou
Na estrada peguei uma cor
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo um jiló
Eu tenho tesão é no mar
Assim que o inverno passar
Bateu uma saudade de ti
Tô a fim de encarar um siri
Com a benção de Nosso Senhor
O sol nunca mais vai se pôr
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