Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

6 de abril de 2014

Beatles: aqui, ali, em todo lugar - XI Congresso da IASPM-AL

De 13 a 18 de Outubro 2014 será realizado o XI Congresso da Associação Internacional para o Estudo da Música Popular -Seção Latino-americana (IASPM-AL)* em Salvador (UFBA) e também, no último dia do evento, Cachoeira (UFRB). Segundo a página do evento [entre aqui]: "O tema geral do congresso enfatiza a relação entre música e lugar através do amplo tema da 'territorialidade'.". Na condição de recém-filiado à entidade, e dividindo a coordenação com o prezado colega Lauro Meller, da UFRN, convidamos pesquisadores daqui, dali, de todo lugar, a enviar propostas na forma de resumos em até 600 palavras em arquivo word diretamente para o e-mail lauromeller@ymail.com , até o dia 30 de abril. As propostas aprovadas serão divulgadas no dia 31 de maio. Segue a ementa do nosso simpósio, cujo título é Beatles: aqui, ali, em todo lugar

"Em 2014 completam-se 50 anos da primeira viagem dos Beatles aos EUA e do subsequente disparo da beatlemania como fenômeno mundial, marco significativo da história da música popular. As trajetórias traçadas pelos Beatles articulam, de várias formas, música e lugar, assinalando trocas culturais que marcam a construção de identidades de grupos e territórios, indo do local ao global e evidenciando uma obra que interfere nos espaços e culturas pelos quais circula. Cumpre lembrar que a música popular, em sua trajetória social-histórica, está intimamente relacionada às transformações próprias da modernidade, como a urbanização, a presença das massas na cidade e a introdução dos meios massivos de comunicação. Sendo um construto que se desloca entre o transitório e o permanente, torna-se objeto privilegiado para pensar a reprodução ou a reinvenção dos laços sociais nos universos densos, abertos e heterogêneos das sociedades contemporâneas. Se a canção pode informar um “sentido de lugar” para indivíduos e comunidades (STOKES, 1994), pode representar, simultaneamente, um “lugar de sentido”, configurando-se como ponto nodal em que disputas simbólicas são travadas, forças sociais são mobilizadas e interlocuções possíveis são construídas (GARCIA, 2013). Em relação à obra dos Beatles, diversos estudos sinalizam as dinâmicas de territorialização envolvidas, desde sua influência na configuração de uma sonoridade local em Liverpool e no Merseyside (COHEN apud. STOKES, 1994) à atribuição de sentido a lugares específicos em sua cidade natal (NEGUS, 1996; KRUSE II, 2005, GARCIA, 2011); desde as referências ao “pastoral suburbano”, que podem ser associadas a uma “inglesidade” (DANIELS, 2006) aos trabalhos que a abordam um cenário globalizado, em contato com outros contextos e músicos populares (MELLER, 1998). Desse modo, são bem-vindos trabalhos que tratem da trajetória da banda, da cena local à “invasão britânica”, da recepção pelo público ao redor do mundo (com destaque para as Américas), de sua apropriação hibridizada por compositores e intérpretes variados (bandas que, por sua imagem ou por características musicais, são evocativas dos Fab Four; grupos e intérpretes que gravaram versões de canções dos Beatles; alusões em capas de álbuns; bandas tributo), da referência ao lugar nas escolhas estéticas em suas canções e álbuns, e do consumo globalizado de sua música e imagem através das diversas mídias, dos roteiros turísticos ou das práticas colecionadoras, entre outros. Propostas de análises da própria obra dos Beatles, sejam elas sob viés musicológico, literário, historiográfico, filosófico etc., serão igualmente bem-vindas."


*"A IASPM-AL é um espaço de convergência multidisciplinar em torno da reflexão sobre as músicas populares latino-americanas e caribenhas em qualquer de suas dimensões estéticas, usos e períodos históricos. Em sua qualidade de associação, se define como um espaço acadêmico de gestão e coordenação aberto a todos os campos de pesquisa sobre música. Suas atividades incluem tanto a transmissão de experiência de músicos práticos quanto a produção teórica de estudiosos e acadêmicos que realizam aportes ao conhecimento social por meio da problematização das músicas populares."

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P.S. Não posso deixar de mencionar que hoje mesmo testemunhei, em ótima companhia, a manifestação dessa articulação de tempos e lugares que a música dos Beatles promove, ao assistir o concerto da Orquestra Ouro Preto na Praça da Liberdade em Belo Horizonte. Com belos arranjos e ótima integração com a plateia, os músicos desfiaram para o grande público que lotou a praça da capital mineira os clássicos do repertório do quarteto de Liverpool.   

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