Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

4 de dezembro de 2015

Entre o Divino e o Paraíso

Ontem, uma noite memorável para comemorar a conclusão de um semestre muito atípico, mas com as suas recompensas. Depois de um dia longo de trabalho e um nó górdio no "sistema" que dei e obviamente não posso desfazer por minha conta, fui ao Palácio das Artes/Sala Juvenal Dias para assistir a ousada performance - que teve sopro, terra, televisão, vídeos mucho locos, mas, sobretudo, fortes canções, lindas interpretações e extrema musicalidade - de uma dupla Kristoff Silva​ + Thiakov Davidovich​  que não seria suficiente chamar de dinâmica. Se Quentin Tarantino receber minhas ondas telepáticas e fizer um futuro longa no Brasil, eles estarão na trilha e no elenco. Não poderemos viver mais sem o Dois na quinta. Parabéns tb ao BDMG, que banca. Quando um banco faz algo de bom nesse mundo, é pra elogiar.

Pensam que acabou? Não, tava só começando...
Dirigi-me em seguida para Santa Tereza, capital mundial do Clube da Esquina, para assistir ao meu parceiro e grande amigo Pablo Castro desfiar, por algumas horas em que o tempo ficou suspenso, seu repertório impecável de canções do Clube, umas 35, segundo contas, entre antenas como Travessia ou Amor de Índio a lados B ou além, como Como o machado, a que ouvi cantando de olhos fechados, literalmente tomando por sua beleza estranha e única. Foi no QG/bar do museu do Clube da Esquina, para o deleite de um público completamente devotado a essa obra grandiosa, e também para o de nosso admirado Márcio Borges, cuja empolgação é uma tradução cabal da perenidade e vitalidade do que o Clube representa para as gerações seguintes. No intervalo fomos ali esticar as pernas e trocar uma ideia, uns reles metros acima de uma certa esquina. Acho que dá pra imaginar, é literalmente ficar entre o Divino e o Paraíso


No segundo tempo, teve também a ótima participação do Fred Borges, dividindo as vozes com o Pablo em mais uma leva de pérolas do Clube.

Mas tem um bônus que eu não posso deixar de mencionar, a grata surpresa de ver este blog, citado pelo Pablo na matéria sobre o show feita pelo Estado de Minas, no contexto da Semana do Clube da Esquina:

"Pablo Castro está tão ligado aos artistas mineiros, que escreveu a apresentação dos songbooks de Lô Borges e Beto Guedes, em 2013. Em parceria com o professor da UFMG Luiz Henrique Garcia, realizou a série As 30 mais geniais do Clube da Esquina, um conjunto de textos no qual comenta composição, harmonia, letra e referências de cada uma das canções. A série está disponível no blog www.massacriticampb.blogspot.com.br e já virou até referência bibliográfica." [matéria completa, aqui]

É mole ou quer mais?
 

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