Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

18 de julho de 2016

1a. c/ a 7a. Os cinemas cantados na música popular

Um dos grandes momentos das atividades culturais que realizei durante o último Congresso da IASPM-AL em Havana foi sem dúvida uma perambulação pela Calle 23, bem pertinho de onde estava hospedado. Ponto de grande agito cultural e movimentação, casas com música ao vivo e cinemas, como o Cine La Rampa, um cinemão, rampa acarpetada, balcão, cadeiras com encosto de madeira, lembrando muito por dentro o Cine Brasil da BH da minha infância.  

Lembrei disso tudo ouvindo a composição Cinema Rio Branco do excelentíssimo Sergio Santos , inspirada num cinema de Varginha. Aliás, vale ouvir de cabo a rabo seu disco Litoral e Interior (Biscoito Fino, 2010) mais um primor da lavra dessa figura central da música popular mineira e brasileira. 


Lembrei, logo na sequência, da belíssima Cine Baronesa, mais uma pérola do grande Guinga, desta feita em parceria com Aldir Blanc, gravada com a participação do quarteto Maogani e da cantora Fátima Guedes no disco homônimo de 2001 (saiu pela gravadora Caravelas - aqui uma resenha do disco).



Mesmo quando os lugares se vão, a música pode perpetuá-los pelo modo como expressa seus significados lembrados através do som e pela forma como os ouvintes podem reconhecê-los. Uma pena que quase não há cinemas assim mais, mas ao menos resta a possibilidade da rememoração, se for em música então, ainda mais comovente.
Há uma lista interminável de canções que fazem referência a cinemas, esses templos modernos do deslumbramento com a imagem e som em movimento. Como é uma postagem de férias, deixo aos leitores que porventura se animarem a tarefa de encompridá-la. 

4 comentários:

  1. Parabenizo o blog e divulgo aqui a banda carioca Docas - que mescla o som pop com a MPB - além de meu próprio blog dedicado ao vinil. Saudações!
    banda Docas - http://www.facebook.com/bandadocas
    Amizadevinil - http://amizadevinil.blogspot.com.

    ResponderExcluir
  2. A música marca épocas lugares e pessoas! Impossível viver sem essa arte! Obrigada!

    ResponderExcluir