Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.
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14 de maio de 2021

Música popular e memória: em discos (1)

Revendo uma postagem feita pelo meu parceiro Maurício Ribeiro [quem quiser sacar algumas de nossas parcerias, aqui aqui aqui aqui], compositor, instrumentista, arranjador e produtor atualmente radicado na Espanha,  lembrei-me dessa antiga série que comecei e não foi muito longe, "Música popular e memória". A ideia era convidar leitores que se animassem a escrever suas recordações associadas à música popular. Ficou pelo caminho, depois de alguns episódios que depois recupero e boto link aqui [Pedro Munhoz; Rafael Senra; Míriam Hermeto].  Como às vezes ocorre, eu simplesmente encontro alguma coisa já escrita por alguém, em redes sociais, e dá aquele estalo. Lendo esse do Maurício me deu vontade de retomar a série, agora com esse conceito de partir de discos. Como as pessoas estão sempre respondendo enquetes sobre os seus álbuns preferidos - pelo menos quem tem uma certa idade e ainda aprecia a música a partir desse tipo de suporte - acho que não faltará material. Já deixo o convite para quem quiser entrar nessa roda, é só se manifestar pelos comentários ou fazer contato que será um prazer publicar mais relatos desse mesmo teor. Para aliviar o peso da postagem fiz links para os discos no YouTube, é só clicar no título. 

Gracias, parceiro! Fiquem aí com o relato e a seleção de audiomemorabilia do Maurício:

Meu amigo Luiz Pinheiro me convidou pra participar da brincadeira da capa dos discos, postando uma capa a cada dia. Não gosto de entrar nessas correntes, mas ele deu uma subvertida postando as 10 capas de uma vez, o que me inspirou a fazer o mesmo.

Além disso, vou mandar um pequeno texto sobre cada disco e o que ele representou pra mim. Portanto, quem só quiser saber quais são os discos, basta ver as imagens; quem quiser ler textão, segue; e quem acha que a brincadeira deveria ser durante 10 dias, volte aqui por dez dias lendo uma história por dia... hehehe
Daqui, seguimos cronologicamente em relação ao momento em que fui apresentado a estes álbuns.
Os Beatles foram a primeira banda que me lembro ter escutado, e escutado sistematicamente. O álbuns da primeira fase – e também a coletânea vermelha 1962-1966 que eu ouvia na casa do meu tio Elson e em fitas k7 gravadas dali pelo meu pai – foram praticamente decorados por mim ainda na primeira infância (ainda que meu inglês tivesse sido inventado por mim mesmo, o "inglês de sonoridade"). E foi ali, entre a primeira e a segunda infância, que eu, pela primeira vez, escolhi como presente de aniversário algo que não fosse um brinquedo. Talvez motivado pelo nome do LP, pedi para meu pai para comprar o Revolver. Até aquele momento eu vinha conhecendo os Beatles cronologicamente, e tive a felicidade de me envolver com cada LP a seu tempo, como os primeiros fãs dos Beatles fizeram em sua época. Fico imaginando, então, a sensação dos primeiros beatlemaníacos ao ouvir este disco. Para mim, foi mágico! Para os meus ouvidos, Revolver soava muito diferente dos álbuns anteriores, e realmente era. E foi o álbum que me empurrou para a segunda fase da banda, da qual só anos mais tarde fui ouvir inteiramente os LPs. Mas naquele momento, vim a conhecer e aprender as canções desta nova fase através dos k7s e da coletânea azul 1967-1970. De todo modo, Revolver representa pra mim toda a minha relação com os Beatles e com a música em geral, desde e até sempre.




Talvez minha memória me engane, mas vários anúncios publicitários de TV do final dos anos 70 e durante os anos 80 trazia como trilha sonora músicas do Jean Michel Jarre, entre eles o do Telecurso (1º ou 2º graus) e o do prêmio Operário Padrão. Além disso, meu pai em casa o Equinoxe. Entre a escuta de Beatles e uma grande variedade de música brasileira, também me encantava a sonoridade modernosa e sintetizada dessa música eletrônica. No entanto, eu me comportava de maneira diferente: quando eu parava para escutar este álbum, eu ouvia e reouvia uma música para descobrir e entender cada camada e textura ali presentes; tinha a clara e perceptível melodia, mas havia uma seção rítmica elaborada, os arpegiators, diferentes timbres de sintetizador... Eu, ainda sem saber o que eram estas estruturas ou nuances, já percebia a diversidade de componentes musicais ali engendrados, tão distintos uns dos outros mas funcionando perfeitamente juntos. Certamente, vem da música eletrônica daquela época a minha escuta ao detalhe, e certamente vem deste álbum o meu gosto duradouro pela música sintetizada dos anos 80. Acho que foi onde eu descobri que a música se apresenta em camadas, e cada uma delas – e todas juntas – tem um gostinho especial.

Obviamente, a música brasileira sempre foi majoritária dentro de casa. E meu pai foi um grande apreciador de LPs, e buscava estar sempre atualizado com os lançamentos de diversos estilos. Ouvíamos Noel Rosa, Cartola, Paulinho da Viola, João Nogueira, Elis, muito Chico-Caetano-Milton (nem tanto Gil, estranhamente), Simone, Taiguara, Gonzaguinha, Jovem Guarda... bem, a lista de nomes não caberia nem em centenas de posts. Nesta difícil tarefa de listar 10 álbuns, eu posso marcar como certa a escolha do LP Vida, do Chico Buarque. Você imagina uma criança de 10 anos de idade deitando no sofá e botando este disco pra escutar repetidamente, lendo o encarte, aprendendo a cantar todas aquelas canções? O disco tem algumas obras primas, mas dada a minha idade então, eu só vim a compreender a profundidade das letras muito tempo depois. Entretanto, uma delas em especial me tocava desde aquele momento, e me emociona até hoje: Bye bye Brasil. Eu percebia a música como melancólica, ao mesmo tempo épica; a aventura de uma partida forçada e dolorosa, ainda que necessária. Quem diria, né? De todo modo, até hoje eu considero este um dos melhores LPs de Chico. E, não por acaso, nos shows-tributo a ele que faço aqui na Espanha, canções como Vida e De todas as maneiras estão sempre presentes.


É difícil explicar a importância dessa banda na minha vida. Conheci e escutei demais todos os LPs deles – ao menos enquanto ainda estava ali o Flávio Venturini. Eu diria que, em termos de freqüência e importância na minha formação musical, eles chegam a se aproximar dos Beatles. Ali, como em J. M. Jarre, de novo os sintetizadores e timbres me faziam mergulhar fundo nas camadas da música – e somavam-se a eles os arranjos vocais e as letras; uma canção recheada de muita mineiridade. A cada escuta eu tentava cantar uma voz diferente, e isso exercitou ainda mais minha percepção aural. E cada LP continha uma música instrumental, o que eu achava o máximo pois parecia música de comercial – não sei porque, eu gostava da música ilustrando uma imagem, e os comerciais me tocavam mais pela música que pelo conteúdo. Talvez aí uma conexão com Jean Michel Jarre e Kraftwerk... O segundo LP da banda, 14 Bis II, foi o primeiro a entrar em casa, e certamente motivou a compra dos outros. E Planeta Sonho foi um hino pra mim, justo no momento em que eu começava a aprender violão.



Novamente um LP de 1980. Ano importante, hein? Conheci Supertramp por ele, talvez influenciado pelo meu primo Sandro que o tinha em casa. Mais tarde, fui conhecer os álbuns de estúdio da banda, da qual ainda sigo ainda um grande fã. Este álbum traz, provavelmente, suas melhores músicas – ainda que uma ou outra música genial tenha ficado de fora. De novo, há uma música-chave que remete aos comercias de TV: o refrão instrumental de Fool's Overture. Não me lembro de qual comercial, pode até ser insignificante; mas quando a escutei pela primeira vez, relacionei com uma propaganda da época, o que aumentou minha curiosidade sobre a banda. De todo modo, o Supertramp representou a minha introdução ao rock progressivo – ainda que depois eu tenha entendido que estava redondamente enganado a respeito da atribuição deste rótulo a eles. Mas Fool's Overture tinha, sim, uma estrutura formal que remete a algo de rock progressivo; e além dela, quase todas as outras canções do disco têm sua importância gravada na história da música pop. Junto com Jean Michel Jarré, foi o disco que, anos depois, me motivou a aprender teclados. E tanto Roger Hodgson quanto 14 Bis me fizeram – e ainda fazem – insistir em cantar em um registro vocal que não me cabe.

Eu conheci o Rush por engano. Um amigo – agora não me lembro quem – havia dito que tinha a música da série Profissão: perigo. Eu imaginava que fosse o tema que era tocado quando terminava o episódio, uma música bem alegrinha – de novo, eu e a música pra TV. Ele me gravou um k7 com Tom Sawyer, que era usada para anunciar o episódio na TV. Na telinha, vinham apenas os 4 acordes iniciais que compõem o riff a estrofe da música. Não era o que eu esperava, mas "baum também". Entretanto, quando a escutei inteira no k7, eu não gostei: – "que voz estranhíssima", pensei comigo mesmo –, e deixei a banda pra lá. Poucos anos depois, em 1990 (meu último ano de Escola Técnica), eu estava em um papo com meu amigo Cabral onde veio à tona o Rush, e eu disse que não gostava. Daí, ele me emprestou o Exit... Stage Left. Ali eu pude escutar um conjunto mais completo de canções, e de repente Tom Sawyer e a voz do Geddy Lee faziam todo sentido. O Rush se tornou a principal trilha sonora de praticamente uma década da minha vida, junto a um grupo maravilhoso de amigos que nos denominamos Os Inflamáveis. Ainda escuto, com menos frequência do que antes (assim como os demais álbuns dessa lista). Mas este LP representa um enorme salto na minha trajetória, tanto pessoal quanto musical. Ele fez a ponte para o rock, que até então eu nunca havia ouvido pra valer! Só depois de conhecer os demais trabalhos da banda é que eu fui levado a escutar os clássicos do rock – Led Zeppelin e Deep Purple, e mesmo Iron Maiden –; e o Rush foi, dessa vez corretamente, a porta de entrada para o rock progressivo, vertente estética do rock que ainda me mostra caminhos, não importando em que estilo musical eu me situe.
A partir daqui, a lista fica mais condensada no tempo. Estamos em 1990, e do Rush eu fui muito rapidamente para o rock progressivo. Talvez o primeiro LP que eu tenha comprado pra mergulhar neste universo tenha sido o Time and a word, segundo álbum do Yes. Eu me arriscava em LPs que não conhecia, recomendados pelo meu vizinho e músico Rubinho, que tinha uma banca de LPs usados numa feirinha em Vitória (ES), onde eu morava. Ali foi onde comprei às cegas e conheci Yes, Genesis, Focus, ELP, Premiata Forneria Marconi, Eloi, Van de Graaf Generator, Gentle Giant, entre outros tantos. Música cabeçuda, enfim!! Mas foi realmente um assombro quando descobri o Thick as a brick, um álbum inteiro com apenas uma música de 45 minutos. Pra mim, era o progressivo do progressivo! Ainda que eu reconheça em Yes uma sonoridade mais representativa do estilo, em Genesis uma construção musical e temática mais "palpável" (no bom sentido), e em Gentle Giant uma complexidade composicional mais profundamente admirável, acho que o Jethro Tull consegue protagonizar o símbolo de toda essa minha duradoura fase. O disco é visceral, lírico, profundo, complexo e bem amarrado!

Este álbum – um dos meus primeiros CDs, já que em 1993 eu ainda comprava LPs – foi uma grande guinada na minha vida. Ganhei de presente da Yara, com quem eu namorava na época. Não conhecia Pat Metheny até então, e acho que foi premonitório ela ter me presenteado com ele. Quando eu o escutei pela primeira vez, foi um baque!! O álbum inteiro me prendeu no início ao fim, por anos. Ali pela mesma época eu conheci o Brutus, um flautista que se tornou um grande amigo e parceiro. Grande conhecedor e admirador da obra do Pat, Brutus me apresentou o restante da sua obra, que veio a se tornar uma das minhas maiores referências musicais. Só depois dele eu fui mergulhar em Toninho Horta, e de quebra o Brutus me apresentou também o guitarrista Kevin Eubanks. Meu segundo CD, Trio (2013), é uma influência direta destes três guitarristas, que seguem sendo ainda um norte nas minhas escolhas musicais. Foi também meu primeiro contato íntimo e interessado com o jazz, território de constante pesquisa e descobrimento.

Nos anos 90, minha vida estava intensa, e eu ouvi muita coisa diferente. Como sempre, tudo misturado, ainda que essa mistura pudesse ter lá suas conexões internas. Com a viagem no rock progressivo e o descobrimento de Pat Metheny, eu não tive tanto interesse pela música brasileira feita naquele momento, e em se tratando de Brasil eu passeava entre os clássicos dos 60 aos 80, agregados ao BRock – o rock brasileiro surgido no últimos anos da ditadura (Legião, Paralamas, e todo mundo). Mas foi justamente entre o rock progressivo e Pat Metheny, com as pinceladas sempre recorrentes de Beatles, que eu fui ouvir com mais atenção ao Clube da Esquina, e por fim mergulhei – com imperdoável atraso – em Milton Nascimento. Eu já conhecia muito da sua obra de maneira picotada, através de outros intérpretes, de ouvir em rádio, ou de ouvir um disco ou outro. Eu já repetira centenas de vezes no meu toca-discos a coletânea "Nada será como antes – Elis interpreta Milton", que congrega as duas maiores estrelas da música brasileira. Eu também já tocava muita coisa de Milton que figurava entre as mais conhecidas. Mas a mistureba que eu escutava nesse momento, creio eu, me fez voltar pra conhecer o Bituca de uma maneira mais sistemática. Ali eu via jazz, via rock progressivo, via Beatles, conseguia distinguir a guitarra do Toninho... era tudo junto, e tudo mineiro demais! O CD gravado com orquestra fez a coisa ficar ainda maior. Eu comecei a perceber que a grandeza dos sintetizadores que eu tanto gostava em Equinoxe ou no Yes buscavam replicar instrumentos de verdade, que no álbum do Milton estavam todos presentes, tocando pra valer. Ali eu comecei a querer virar arranjador. E, de quebra, foi onde eu elegi Outubro como meu hino, uma das canções mais bonitas já escritas.

Minha lista termina ainda nos meados dos anos 90, no mesmo embalo que me apresentou Pat Metheny e me fez redescobrir Milton Nascimento. Se na vida musical profissional eu me alternava tocando com o Grupo Corsário (influências de 14 Bis e Boca Livre, entre outros) e trabalhos esporádicos com uma dupla sertaneja e em bandas de axé (o pagode só veio no fim da década), o meu caminho de aprendizado e escolha pessoal já havia sido impactado profundamente pela obra do Pat. O gosto por música instrumental me levou à música erudita e orquestral, ainda que naquele momento elas viessem em doses homeopáticas. Mas daí eu comecei a tocar na Orquestra de Violões do Espírito Santo, criada pelo violonista Fabiano Mayer. Era um trabalho muito bonito, e que me trouxe também experiências musicais e pessoais profundamente transformadoras. Com ouvidos carregados de violão, eu conheci – talvez também por intermédio do amigo Brutus – o grupo D'Alma, trio formado pelos violonistas André Geraissati, Ulisses Rocha e Mozart Mello. A gravação do disco me foi dada em k7, pois não encontrava o LP pra comprar. A música era muito foda, tocava em mim pela natural proximidade com o violão; era um lance meio jazz brasileiro, tinha a elaboração do rock progressivo... enfim, um trabalho que eu ouvi exaustivamente, e que anos depois influenciou minha primeira produção autoral, o CD Ventania no cerrado (2011). Ainda que eu nunca tenha chegado ao nível de execução destes três grandes, eu gravei uma neste CD uma música para 3 violões, Para cada esquina um sinal, uma referência direta à influência do D'Alma. Além disso, nos shows de divulgação do meu CD nós tocávamos um arranjo feito pra Roda Gigante, uma das composições de Ulisses Rocha neste LP. E, por fim, dali eu vim a me interessar pelo violão brasileiro: Dilermando Reis, Garoto, Rafael Rabello e Baden Powell foram nomes que passaram a nortear algumas das minhas escutas.

--\\//--

Pois bem, 10 discos, e ainda estou lá pelos meus quase 30 anos de idade. É provável que, de lá pra cá, eu tenha descoberto coisas que me modificaram em parte ou completamente. Mas talvez o tempo e a maturação sejam necessárias para que a gente se dê conta de como nos transformamos. Igualmente, é bem provável que eu tenha deixado passar alguns discos importantes, ou que eu tenha escolhido um ou outro álbum equivocadamente para ser o representante de um conjunto de coisas... de Beatles, poderia ser qualquer um; no progressivo, igualmente, dada a infinidade de material. Enfim, fica aí a lista pra posteridade! heheheh
Vou postar uns links ilustrativos – e curiosidades! – nos comentários para entreter os mais interessados. O convite que se supõe fazer pra manter a corrente fica estendido a todos que quiserem falar de música e de suas influências.
Saludos!!!

Por Maurício Ribeiro

12 de dezembro de 2020

SANTA PIRAMBEIRA

Mais um aniversário da terra natal. Belorizonte, Beagá, seja como for, é nossa. Passei oito anos trabalhando no museu histórico da cidade, fora o tanto que continuei pesquisando e escrevendo sobre ela, ainda que procurando também variar escalas de observação e dar uma mudada de foco pra não enjoar. Por uma feliz coincidência, meu grande parceiro Maurício Ribeiro fez uma "live" hoje direto da Espanha e tocou nossa mais recente parceira, "Santa Pirambeira", que nada mais é que um despretensioso sambinha cuja letra é uma homenagem a um bairro de Belo Horizonte, o Santo Antônio, o que mais gosto e onde morei a maior parte da minha vida, especialmente depois de adulto. Agora estou no bairro ao lado, mas é questão de metros. Ainda subo e desço várias de suas pirambeiras com frequência. 

Seria longo, e provavelmente desinteressante para boa parte dos leitores, fazer um relato autobiográfico cujo resumo é que gosto do bairro, apesar de seus muitos morros, vivi em 5 endereços diferentes nele, em etapas distintas da vida, criei filhos, cultivei amizades dentre as que marcaram a infância, a juventude e as que perduram até o presente, numa dada época estudei, fiz judô e até catecismo numa igreja católica, como bom filho de família mineira classe-média, até me rebelar com 12, 13 anos rsrs. Das lembranças afetivas da paisagem, a mais bem guardada é olfativa: o cheiro de Dama da noite que embalou incontáveis caminhadas.



Queria muito fazer uma letra sobre esse pedaço da cidade, que fica na zona sul mas tem uma certa diversidade propiciada pela proximidade da Copasa e algumas repartições, escolas públicas, predinhos pequenos de condomínio barato, uma economia de bairro que ainda subsiste, casais de idosos persistentes em uma ou outra casa velha. O sambinha simpático, cheio de ginga e com a costumeira dose de variação melódica e formal do Maurício veio a calhar, me remetendo imediatamente a uma situação divertida, a imagem de uma mulher de salto alto descendo um morrão. Isso foi sugerindo alguns quadros e situações, e como tenho feito quando sinto que não tenho assim tanto espaço (se tiver eu vou tentar resumir um romance) apelei para uma coisa mais telegráfica e menos narrativa. Fiz um rol de ruas e depois me surgiu a ideia de uma corrida de táxi imaginária (e com licença poética em termos de urbanismo) como se o eu-lírico estivesse orientando o motorista até chegar ao destino, um bar - lógico, é quase que um a cada esquina, ou às vezes vários na mesma - onde esperaria sua paquerada dama de salto alto. As vias que preferi foram os que permitiam rimas internas e duplos sentidos interessantes, e as nomeadas por árvores frutíferas me sugeriram o "pirambeira", quando eu não achei jeito de botar Santo Antônio em lugar nenhum. Foi melhor, deixou a coisa um pouco menos explícita. E finalmente, dentro do espírito lúdico que a lira nos garante, achei esse rolimã rimado com scarpin (pronunciada iscarpã), jogada usual para craques como Aldir e Chico, ainda que aqui seja mais previsível porque a primeira já foi uma adaptação do francês ao português. Segue a live do facebook, e se a curiosidade for muito grande, a canção em questão entra ali por volta de 1:08:00. 

Santa pirambeira (música de Maurício Ribeiro, letra de Luiz Henrique Garcia)

Sobe, de primeira a
Mangabeira, Marabá
Flor que sim se cheira
Perfume lembrará

Toca de bobeira
Pirambeira, Matipó
Toda sexta-feira
Bato ponto aqui, ó

Vou esperar num bar
Na Mar de Espanha
Vai passar Primeira Dama
Na calçada a desfilar

Salto scarpin
Santa pirambeira
rolimã
Santa pirambeira
Scarpin
(alterna)

Santa pirambeira, piram-beira, piram...bá (final)

Vira Pitangueiras
Primavera, volta já
Abre Campo inteira
Viçosa cresce lá

Corta na Teixeira,
Entra a Viera pela mão
Morros e Bandeiras
três carolas no portão

Vou esperar num bar
Na Carangola
A Princesa Leopoldina
Elegância a desfilar

Salto... 


3 de agosto de 2019

ÀS CEGAS

Estou querendo tanto falar dessa canção que vou até compartilhar link do Spotify - esse bandidinho que não credita os autores, e do qual os letristas são vítimas preferenciais. Deixo claro que isento qualquer parceiro meu de responsabilidade aí, isso é um defeito da plataforma, e que vem sendo criticado por todos. Entendo, obviamente, a necessidade de quem vive de música de colocar, mesmo a contragosto, seu trabalho para circular em todos os meios possíveis. 
Bom, mas vamos ao mais importante. Essa eu recebi na mesma ocasião da música que veio a se tornar Veneno remédio, só que com uma curiosa e lacônica indicação. O título estava embutido no nome do arquivo MP3 que o Maurício Ribeiro, autor da música, me mandou. Um título assim, "às cegas" e "à seco", pode ser a fagulha para a criação, mas pode também bloquear tudo. A melodia tinha lirismo mas também era meio soturna. Como na anterior eu considerei que acertei a mão sem maiores indicações, resolvi ir em frente. Lancei mão de um recurso que tenho usado com alguma frequência, buscar algum texto previamente elaborado que não virou nada, do qual eu possa extrair alguma coisa. Encontrei então esse refugo intitulado "Soslaio", de onde pincei versos como "ferpa no assoalho", "ruga de uma velha", "pulga atrás da orelha", ou palavras como "caramujo" e o "soslaio" do título.

O verso da velha acabou se tornando o ponto nevrálgico da escrita. "Às cegas" acabou sendo bastante literal, dentro da narrativa que fui construindo sobre o estado decadente da minha personagem. A música me remetia ainda às tristes baladas macartneyanas sobre separação e solidão do disco Revolver, For no one e Eleanor Rigby, e obviamente tracei um retrato da velhice como condição solitária e frágil. Uma grande influência de Paul em meu trabalho é a condição compartilhada de romancista frustrado - e é realmente puxado o exercício de sintetizar ideias que poderiam se desenvolver por longas páginas nos poucos versos e duração de uma canção. Emergiu um retrato muito áspero, cru mesmo, algo naturalista, elencando os sinais e gestos de decrepitude da protagonista. Ocorreu num certo momento, obviamente na cadeia das reiteradas rimas em "iz/is", que ela poderia ter sido atriz, ou na sua senilidade se comportasse como tal. Um eco distante, quem sabe, da Miss Havisham de Grandes Esperanças, meu romance preferido de Dickens, certa feita interpretada de modo marcante por Anne Bancroft (a icônica Mrs Robinson de A primeira noite de um homem). Talvez possamos ver a velha também como professora, por sugestão de "breu" e "giz".

Este é o tipo de letra que, depois de encontrado o mote, se escreve praticamente por embalo. Aqui e ali algumas jogadas, como a sequência de rimas internas nos 2ºs versos. A forma da música AABAAB'A' propõe estrofes - A - bem definidas entremeadas por pontes - B,B' - que só tem em comum o verso introdutório - repetição que busquei enfatizar com a parelha "se insinua então/se está nua então". Na estrofe final uma variação sugerida pelo Maurício que adotamos - bisa "desdobrando" o primeiro verso, e uma repetição até o gran finale em que a letra sugere para o arranjo a diminuição de andamento e o "desmanchar" no destino final da personagem e da gravação. 
Não tínhamos ideia, naqueles idos, que viveríamos pra ver uma "deforma" da Previdência que agravaria as expectativas de um final de vida decente para boa parte das pessoas no Brasil. Não que haja algo de premonitório, mas de algum modo a canção agora inevitavelmente será ouvida e interpretada neste contexto. Claro, preferencialmente é um exame duro sobre a velhice, mas quem sabe não seja fatalista, por um triz.


Às cegas (Maurício Ribeiro e Luiz Henrique Garcia)
Risco que correu por um triz
Malograda cicatriz
Pulga atrás d’orelha
Ruga d’uma velha

Caule que perdeu a raiz
Madrugada infeliz
Ferpa no assoalho
Retorcido galho

Se insinua então de soslaio
Vento no outono
Da pele,
Da vista,
Às cegas,
Penetra
No quarto
abissal

Vida que encenou nossa atriz
Malfadada imperatriz
Queda da cadeira
Boca de caveira

Ignora o odor do nariz
Encarquilha nos covis
Feito bicho sujo
Lento caramujo

Se está nua então, só decai
teia que se trai
areia que se esvai
a veia sobressalta

Balbucio que se desdiz
Maldizeres infantis
O risco que correu
A vida por um triz
Acaba nesse breu
Desmancha feito um giz
O risco que correu
A vida por um triz
Acaba nesse breu
Desmancha feito um giz


https://open.spotify.com/track/1fNM0XuIMTEzCTta4FFJSO

22 de junho de 2019

SAMBA EM TRÊS






Esse maravilhoso rebento geminado veio ao mundo recentemente, "Sozinho e bem acompanhado", do parceiro Maurício Ribeiro, com três canções cujas letras saíram das mesmas pontas de dedos que vos escrevem estas linhas. A já "aerada" e radiodifundida "Veneno Remédio", um pequeno tratado sobre a contagiante e contaminante atividade de torcer pela tevê, e as ainda pouco ventiladas "Às cegas", sombria leitura da velhice que agora me assombra como premonição da nefasta reforma da previdência, e "Samba em Três", pequena fantasia impregnada de sonoridades e referências icônicas caribenhas, respingo da minha ida a Cuba e quiçá do meu gene tropicalista recessivo. Estou felicíssimo de estar no meio de várias feras musicais, alguns igualmente gente querida da nossa cena belOUROizontina, num disco duplo gravado entre dois oceanos e expressivo de musicalidades que, se rompem fronteiras, também não desconhecem os respectivos berços.

Das três da safra, foi esta a última a germinar.  Tenho adotado às vezes o procedimento de manter os títulos provisórios que nomeiam arquivos de mp3 ou outros formatos que os parceiros me enviam, quase como se fosse um traço inconsciente falsamente acidental, que dá uma pista das motivações por trás da música que me chega. Podemos nesse caso observar que "Samba em Três" é um "metatítulo" que simultaneamente dá identidade E analisa o objeto musical que embala, na medida que ressalta esse caractere distintivo de sua lavra, ou seja, de que se trata de um samba em compasso ternário, raro para o gênero, mas com
antecedentes, ao feitio de Cravo e Canela, por exemplo. Sob o signo da síncope, estrofes muito econômicas e serelepes saltitavam em meus ouvidos. A sugestão de algo caribenho talvez tenha sido reforçada por esse recurso ao arquivo do repertório bituquiano, especialmente a versão gravada no disco Milton (1976) em terras da América do Norte. Ao mesmo tempo, a melodia sugeria versos curtos, com pouco "espaço" para digressões e especulações às quais às vezes me lanço. Senti que era preferível perseguir um estilo mais "telegráfico", livre e associativo, com frases soltas e ligadas pela temática, sem necessariamente apresentar uma sequência narrativa lógica.

A princípio, assim, o tema sugeriu um inventário geográfico, mais alusivo que propriamente descritivo. A inspiração estava ainda temperada pela inesquecível viagem que fizera a Cuba naquele mesmo 2016, cujas sonoridades aderiram ao ouvido da memória, aquele que não olvida. O eixo central da letra então se definiu a partir de duas listagens paralelas, países e gêneros musicais caribenhos. Inventário iniciado, alguns jogos com sonoridades e rimas foram surgido daí, especialmente a partir da 3ª estrofe - porém sem brincar propriamente com a mescla entre português e espanhol como fazem Chico na versão de Canción por la unidad latinoamericana e Caetano em Quero ir a Cuba. Mas se as primeiras estrofes parecem quase que pinçadas de peças publicitárias de agências turisticas e revistas de companhias aéres, o espírito crítico de historiador me sugeriu uma drástica virada de clima, como se um furacão tropical sacudisse tudo quando entra o "B". Borrei o painel idílico e eufórico com uma espécie de "crônica" icônica e abreviada da colonização e seus desdobramentos históricos e culturais na região do Caribe. Essa foi a última parte que escrevi, e a que me deu mais trabalho. Marcadamente distinta musicalmente, instalando uma certa suspensão e irregularidade no momento em que o ouvinte já vem de 4 estrofes com a mesma estrutura. É como se esse "B" dividisse a letra de tal modo que depois o "eu lírico" observador descreve um Caribe bem mais complexo, com esquemas de paraíso fiscal, intervenção militar, motim e outros conflitos armados entremeando as alusões amenas já evidenciadas na primeira parte. Finalmente, como persistente entusiasta do refrão que sou, 'pirateei' um ao repetir, com uma sutil alteração, a 4ª estrofe no 8º "A". 


Aproveito o vídeo divulgado pelo parceiro:
Hoje, recebendo o Triar aqui na Espanha, acordamos inspirados e nos juntamos pra um "desayuno musical". O arranjo de "Samba em três" (música minha com letra do Luiz Henrique Assis Garcia) vai ser aprimorado até o show de amanhã, no Cafe Mercedes Jazz, em Valencia. Mas já segue aqui o gostinho em vídeo, e os dados do show estão no link abaixo.

Samba em três (Maurício Ribeiro e Luiz Henrique Garcia)

Índia ocidental
Onde para o sol
Latitude vinte graus



Ilhas a granel
Mar que beija o céu
Bem no clima tropical

Passa o Panamá
Na Jamaica, Jah
Cúmbia na Colômbia

Bravos siboneys
Dançam samba em três
Habaneras ancestrais

Lá se converteu, se bebeu, por amor
Quente sangue que se verteu, por louvor
Serras, costas, botas e matagais
biltres, putas, padres e canibais,
escravos, senhores...

Granada, intervenção
Haiti, motim
Trinidad, não tá ruim

Nas Antilhas cais,
Mastros e canhões
Offshores sem fiscais

Grande Caimão
Rumba, Salsa, Son
Merengues dominicais

Bravos siboneys
Dançam ao som do Tres
Habaneras ancestrais



19 de março de 2019

VENENO REMÉDIO


Foi numa noite de domingo, em alguma das antológicas edições do projeto Palcomeu, promovida por iniciativa do parceiro Maurício Ribeiro na acolhedora então residência dele e da sua amada Camila no bairro Santa Inês.  Em meio a uns bebericos da saborosa cerveja Artesana, então produzida pela arte do próprio em consórcio com Edson Fernando e Paulim Sartori, músicos igualmente versados nos respectivos instrumentos e no ofício de produzir tal adorada beberagem, que recebi a incumbência de letrar duas de suas criações para que se tornassem canções, e, por consequência, nossas primeiras parcerias.
Uma delas tinha uma melodia divertida, um clima de roda de samba, ainda que não fosse propriamente um. Era uma aventura sincopada por vezes subvertida por umas notas mais longas que pareciam aquele último fio de uma conversa que se estende anormalmente depois de emissões mais curtas de opinião. Ela insinuava uma prosa bem prosaica, ainda que melodiosa, e de luneta na torre de observação eu antevia os desafios da prosódia, um mar enorme pela frente até chegar a alguma terra firme.
Sem maiores indicações por parte do parceiro, dei uma custada pra saber sobre o que falar. Mas uma antiga ambição e a coincidência de torcermos os dois pelo mesmo clube (o Cruzeiro, de tantas páginas heroicas imortais, mas que na época andava perigando um pouco – felizmente não caiu) acabaram me levando ao mote. Na minha atividade de letrista eu sempre penso em temas que os compositores que admiro trataram e sobre os quais um dia quero versar. Um deles, claro, tinha que ser o futebol. Eu sou um fã confesso e absoluto do choro 1x0 de Pixinguinha e Benedito Lacerda, que depois veio a ser arrematado com uma letra insuperável do genial Nelson Angelo. Sou meramente o escalador subindo as encostas desses gigantes, mas eu queria cumprir a tarefa sendo minimamente diferente, e pensei assim de falar de um ângulo meio inusitado sobre o assunto: o de um torcedor atribulado vendo na tevê o jogo de seu time em péssimo desempenho desportivo. Parceria é sobretudo sintonia, e creio que em matéria de tom de humor eu e o Maurício compartilhamos um bocado. Exaltar clubes, jogadores, e até partidas, muita gente já fez. Falar do fracasso parecia um rumo diferente, e divertido, a tomar. Talvez um diabinho uniformizado, sentado no meu ombro esquerdo, com voz de Aldir Blanc e parentesco com José Trajano, tenha me soprado umas ideias: “bandeira de uma figa/ torresmo de barriga/
traz lá mais outro Sonrisal”, provavelmente é coisa dele.
Assim, fui praticamente descrevendo as agruras de um torcedor fanático que vê seu time em maus lençóis o tempo todo, sofrendo, comendo, torcendo, numa orgia emocional em pleno Purgatório. Exagerei, certamente, criando uma espécie de “tipo ideal” de um modo de torcer que provavelmente é adotado em diferentes intensidades por muitos apreciadores do ludopédio. Imaginei esse “eu lírico” desatinado reclamando com seu entorno e prioritariamente com a própria televisão. Eu mesmo faço isso e provavelmente me acharia ridículo se pudesse me olhar de fora da situação. Fui preenchendo a forma com a verborragia futebolística de praxe, até chegar no B que funciona meio como refrão mais pela letra, porque musicalmente é mais uma ponte dentro da estrutura AABA’ + AABA’ + A’’. Essa passagem chamava algum tipo de contraparte da letra, como se a voz do bom senso quisesse intervir, recomendando cuidado ao torcedor sobressaltado. Me veio então de súbito a figura do Sócrates, o “doutor”, rebatendo a caracterização do “eu lírico” como um “doente”. De quebra isso me deu o lance capital da pelada toda, que foi o verso do título “Veneno remédio”, com a emenda de primeira “o ludopédio, panaceia”, ou seja, consegui homenagear o livro do mestre Zé Miguel Wisnik – verdadeiro tratado sobre a paradoxal relação entre o Brasil e o Futebol que havia lido pouco antes – e achar rimas internas consequentes e difíceis sem comprometer a prosódia. E aí, curiosamente, penei para achar ‘capital’, mas que resolve e de algum modo captura o linguajar de locutores mais velhos. Finalmente o último “A” precisava da ideia de retorno ao começo, porém não por completo, já que a melodia acabava diferente. Voltamos ao cenário inicial, mas no final da partida o desespero leva o fanático a abandonar sua análise exigente pelo apelo ao sobrenatural – tão presente no imaginário futebolístico nacional. Foram alguns anos até a canção finalmente chegar a sua forma definitiva e gravada, com muito esmero por esse timaço escalado junto com o próprio Maurício, com Edson Fernando, Ygor Rajão e a querida Juliana Perdigão que cantou tão magnificamente quanto eu tinha imaginado. Enfim, tai, e que a bola continue rolando e a gente se inspirando com o futebol e a vida para compor. Esse certamente é o meu veneno remédio.



Veneno remédio (Mauricio Ribeiro e Luiz Henrique Garcia)

Foi mais um domingo bem sem graça
Vendo jogo na tevê e esse meu time que não sai nem falta faz
Não passa essa retranca nem tabela
Lá vai mais outro chute de donzela

Outra bola fora logo agora
que demora do volante, tão distante que não marca o lateral
Que falta faz um meia cerebral
Um atacante com tiro fatal

A pressão vai mal, tome cuidado que tá fraco o coração, doutor já receitou
Veneno remédio, o ludopédio panaceia capital, a droga da paixão

Ó meu bem cuidado com essa taça
que perigo que desgraça, ninguém pensa com a cabeça pra atacar
assim meu coração atribulado
não güenta ver mais pênalti anulado
bandeira de uma figa, torresmo de barriga
traz lá mais outro Sonrisal

Lançamento errado pro ponteiro
o desespero só aumenta e nem cerveja alivia a aflição
se formos pra segunda divisão
meu plano não tem cobertura não

Soco do goleiro pra escanteio
que proposta defensiva, lance feio, o zagueiro é um animal
eu tomo dose de contra-indicado
afasta esse ameaça aqui do lado

A pressão vai mal, tome cuidado que tá fraco o coração, doutor já receitou
Veneno remédio, o ludopédio panacéia capital, a droga da paixão

Pelamordedeus, falta de raça,
E outro trago de cachaça, só assim pra tolerar essa pelada
Impedimento bem na hora errada
Eu grito e minha veia tá saltada
bandeira de uma figa, torresmo de barriga
traz lá mais outro Sonrisal

Foi mais um domingo um sofrimento
Vendo jogo na tevê e esse momento do meu time não dá pé
Não sobe posição nessa tabela
A bola espirra e bate na canela
Apela pra qualquer pajé