Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

22 de dezembro de 2011

Paul e os standards da canção norteamericana

Impressionante, independente de alguns tropeços eventuais, a vitalidade e produtividade de Paul McCartney. Hoje foi lançada My Valentine, uma das duas autorais que se juntarão a outras várias versões de canções que Paul ouvia na infância e faziam parte do repertório do grupo local em que tocava seu pai. Com esse novo álbum, ainda sem título (leia mais aqui) , que sairá em fevereiro de 2012, uma faceta bem marcante da personalidade autoral do McCartney será mais bem iluminada, essa ligação com standards da canção norte-americana, com artistas como Sinatra e Fred Astaire. Outro detalhe que promete é a abordagem na gravação, inédita, pois ele só (só?) canta! Participações relevantes de Diana Krall, Stevie Wonder e Eric Clapton (solando na faixa divulgada).
Pra dar um gostinho do que vem por aí...
My Valentine - Paul McCartney by PaulMcCartney Essa foi justamente dedicada a Fred Astaire. Shall we dance?
Essa Paul compôs pensando em nada mais nada menos que Frank Sinatra, mas dizem que "The Voice" a rejeitou por causa do título...

2 comentários:

  1. Acho interessante e profícua essa onda de releituras dos standards americanos das décadas de 30, 40 e 50 por parte de grandes nomes do rock. São canções de formação musical e sentimental da geração de Clapton, McCartney e Rod Stewart (que gravou recentemnte uma série de álbuns dedicados ao tema) que foram injustamente relegadas ao status de "música de museu", quando gozam, muitas vezes, de surpreendente vitalidade. A malícia inteligente das canções de Cole Porter e o lirismo popular dos irmãos Gershwin ainda guardam pontos importantes de comunicação com a contemporaneidade, além de ser importante demarcá-las como influências perceptíveis na boa música produzida na segunda metade do séc. XX. Parabéns pelo blog e valeu pela boa notícia, Balu.

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  2. Grande Pedro Munhoz. Essas canções são fortes o bastante pra atravessar gerações. O assunto merecerá outras investidas. Valeu!

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