Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

27 de dezembro de 2011

Grandes encontros na música popular II

Dando sequência à série, esse não poderia faltar: Edu & Tom - Tom & Edu, 1981, produção do Aloysio de Oliveira. Falar o que desse disco? Nada. Deixa os caras falarem (reproduzo abaixo os texto do encarte, que foi um dos motivos pra comprar o vinil no sebo. curiosidade: ele estava recortado na parte da letra de É preciso dizer adeus, de Tom e Vinícius. Quem a terá recortado, e porquê?)

"O que acontece é o primeiro encontro de dois grandes compositors de nossa música. Tudo muito à vontade, tudo muito íntimo, que seria a única maneira como esse evento deveria ser realizado. E, como resultado da mútua admiração, um participa da música do outro sempre que o momento se apresenta naturalmente.
A única coisa a acrescentar é que tomar parte num disco assim é um grande prazer (ou um sarro, um barato)."
ALOYSIO DE OLIVEIRA

"Acompanho há muitos anos o trabalho deste grande músico. Conheci Edu ainda adolescente, magro, de grandes olhos, sobraçando o violão, expectante, atento, crescendo no corpo e na música. Era ainda uma promessa. Mais um jovem talentoso que se lançava na perigosa aventura musical; a tentative de uma música brasileira, que muito pode ferir o ego e o bolso.
Hoje o revejo homem feito, charmoso, sorridente, dono de cancioneiro vaso e lindo, além de incursões no campo erudito, pois Edu sabe música, orquestra, arranja, escreve, canta e toca violão e piano.Estudou, o que representa uma enorme vantagem.
Mal redimido da noite surge, na manhãzinha de névoa o avião.
No seu bojo vem Aloysio de Oliveira, nosso amigo e produtor deste disco. Full flaps down. Landing gear down. O avião aterissa no Galeão,Rio de Janeiro. Edu, Aloysio e eu somos velhos amigos. Há muito nos entendemos bem, naquele ambiente de amizade fraternal tão necessária a este tipo de trabalho.
Que bom que chegou o dia de gravar um disco com Edu! Que alegria, que prazer! Ainda mais tendo o Aloysio como produtor! Um disco que mostra Edu e eu na intimidade, bem à vontade, despido da paraphernalia da orquestra. Basicamente violão, piano e canto.
Mas ouçamos..."
TOM JOBIM

"De todos os arquitetos de música que conheço Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é, sem dúvida o de traço mais amplo e perfeito. Dele surgem projetos sólidos, feitos para abrigar os corações do mundo.
Como um artesão, Tom cuida de seu trabalho obsessiva e constantemente, mas sem pressa. Com a ponta dos dedos,na exata emoção de quem conhece o seu ofício inteiramente. E nos ensina, a todos, o que é a Música, esta incrível e solitária experiência dos sons, suas côres e seus mistérios.E também como tratá-la, de forma simples e econômica, como um poeta: jamais poetizando seu poema.
Mais do que a alegria e o prazer deste trabalho, fica o orgulho de dividir
alguns momentos de música com o Brasileiro Antonio, das agues de março, do matita, do pôrto das caixas, do amparo, das luísas, da sinfonia de Brasília, das saudades do Brasil. O maior compositor de música popular de todos os países."
EDU LOBO


Pra dar um gostinho, confiram a ótima Moto-contínuo (Edu e Chico Buarque)

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