Enquanto se faz uma tese, muitas vezes parece que o peso dessa palavra vai aumentando à medida em que o tempo passa e os prazos apertam. Pensamos, por diversas razões, que ela tem que abarcar o mundo, cumprindo uma verdadeira circunavegação do globo. A sensação piora na medida em que vários insights, merecedores de maior desenvolvimento, acabam ficando ali, tacanhos, pequenos passos em forma de parágrafo do que deveriam ter sido caminhadas inteiras de páginas. Depois a gente entende (e é uma crueldade esse entendimento chegar com tanto retardo) que uma boa tese, dentro das limitações (nossas e da realidade), é feita também desse pequenos momentos de inspiração - e que bom tê-los, afinal. O que está ali ficará, esperando que nós mesmos, em condições por ventura menos tormentosas, retomemos o fio da meada, ou que outros pesquisadores, nas suas próprias jornadas, possam se valer dessas breves investidas.
Hoje passendo inadvertidamente pelo repertório dos primeiros LPs de Fafá de Belém, acabei me lembrando de uma das minhas. Meu plano, não cumprido, era fazer uma análise extensa dessa "penetração". Acabei estudando alguns casos que considerei exemplares, e como a banca não me interpelou a esse respeito creio que consegui provar o meu ponto:
No contexto de consolidação da MPB, houve uma maior penetração da obra do Clube através do repertório de intérpretes como Elis Regina, Simone, Gal Costa e Nana Caymmi, da atuação como músicos em espetáculos e discos de outros artistas e de sua influência no trabalho de alguns dos “novos”, como no caso de Ivan Lins e Luiz Gonzaga Jr. (...) Alguns LPs, escolhidos estrategicamente, permitem observar em detalhe essa penetração, ao mesmo tempo em que mostram a variedade das produções agrupadas em torno da sigla MPB. O disco de Simone Gotas d’água (EMI, 1975) traz Milton como co-produtor, além de participar cantando e tocando piano em Gota D’água (Chico Buarque) e ceder duas canções feitas com Fernando Brant (Outubro e Idolatrada). Wagner Tiso, além de tocar piano e órgão em várias faixas, fez arranjos para 5 canções. A concepção da capa foi feita por Ronaldo Bastos e Cafi, o “fotógrafo oficial” do Clube. No repertório, compositores que começavam a conquistar espaço, como a dupla João Bosco e Aldir Blanc, Gonzaga Jr. (que ainda não assinava Gonzaguinha) e uma parceria de Tavinho Moura e Murilo Antunes. Na parte instrumental, a presença dos integrantes do Som Imaginário, na formação que contava com Nivaldo Ornelas, Novelli, Paulo Braga, Toninho Horta e o já citado Wagner Tiso. (GARCIA, 2007, 230-231)
Quem sabe em breve não sai alguma coisa mais consistente nessa direção...por agora vou fazendo a pesquisa básica e aproveitando para ouvir várias pérolas do repertório do Clube da Esquina nas vozes de intérpretes de personalidade e escolhas estéticas distintas, que participaram do momento de consolidação da MPB na década de 1970.
1. Fafá de Belém - Fazenda (Nelson Angelo) - LP Tamba-Tajá, 1976.
2.Simone - Céu de Brasília (Toninho Horta & Fernando Brant) - LP Face a face, 1977.
3. Nana Caymmi - Sacramento (Nelson Angelo & Milton Nascimento) - LP Renascer, 1976.
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